quinta-feira, julho 31, 2008

Sugestões de Julho

Neste mês a A. Verde chamou-me várias vezes «viajante». Não o serei, até porque aprendi já que viajar é bem diferente de deslocar. Mas ainda assim, andei muito por aí, dividido entre Poiares, Lisboa, Tormes, Porto, Braga… A estabilidade precisa-se, urgentemente. No meio de tanta deslocação foi possível ler, foi possível fazer algumas coisas. Balanço de mês muito positivo, apesar de tudo e de tanta coisa. Aqui ficam algumas.

Livros:

1 – A Bíblia (Evangelho Segundo São Lucas e Evangelho Segundo São João), Paulus****

argumentos: novas versões sobre os mesmos factos, ou factos a mais ou a menos que surgem nos diferentes relatos. E gosto disso, de perspectivas diferentes. Mais: «Quem não está comigo, está contra Mim. E quem não recolhe comigo, espalha.» (Lc 11, 23) e «Jesus fez ainda muitas coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que os livros que seriam escritos não caberiam no mundo.» (Jo 21, 25).


2 – Os Nomes (1961-1974), Gastão Cruz, Assírio e Alvim**

argumentos: embora não me tenha agradado muito a sua poesia, que me pareceu demasiado artificial, postei aqui dois poemas.



3 – O Desenho no Tapete, Henry James, Relógio d’Água****

argumentos: uma novela interessantíssima em torno dos problemas da literatura. Misteriosa, hábil, bem construída e que vale a pena conhecer. Mais: «Lembro-me de que ele me disse que ela sentia em itálico e pensava em maiúsculas» (p.35).


4 – A Ilha de Páscoa, Pierre Loti, Teorema***

argumentos: livro de viagem à estranha, inóspita e misteriosa ilha de Páscoa, descrita com os pormenores do homem que chega ao local do exótico e se tenta aproximar o mais que pode ao outro. Tem passagens muito bonitas. Mais: «No meio do Grande Oceano, numa região por onde nunca ninguém passa, existe uma ilha misteriosa e perdida; não existe outra na terra nas duas proximidades e, a mais de oitocentas léguas em redor, apenas a circundam inquietas e vazias imensidades. Encontra-se pejada de altas estátuas monstruosas, obra de qualquer raça ignorada, hoje perdida ou desaparecida, e o seu passado é um enigma.» (p.5).


5 – As Traquínias, Sófocles, INCM***

argumentos: numa fase em que ainda se pensava no TETRA, decidi ler textos de teatro que ainda por cá andavam. Uma tragédia como deve ser, em torno de Héracles e Dejanira, que tenta manter o marido preso a si pelo amor, mas provoca antes a ruína da família. Gostei de voltar aos clássicos gregos e de recordar a minha primeira paixão cultural, quando ainda tudo para mim de bom vinha daqueles lados. Boa tradução com introdução explicativa. Mais: «Como um marinheiro que no seu barco recolhe carga em excesso, assim eu fiz, para ficar com o coração em destroços.» (p.55).


6 – O homem que se puniu a si mesmo, Terêncio, INCM**

argumentos: idem em relação ao livro anterior, mas desta vez uma comédia, latina, de que não gostei tanto, porque o enredo é uma confusão pegada e parece-me haver ali fragilidades... Mas bem traduzida, anotada, prefaciada… Mais: «Sou um homem: e nada do que é humano eu considero alheio à minha natureza.» (p.40)


7 – Antologia Poética de Carlos Nejar, prefácio, organização e selecção de António Osório, Pergaminho***

argumentos: breve conjunto da poesia de um importante poeta brasileiro, bem prefaciada e conseguida. A sua poesia tem momentos interessantes, como tentei mostrar pela minha selecção breve, aqui.


8 – Cartas de Inglaterra, Eça de Queirós, Europa-América****

argumentos: em época de Tormes, decidi ler as coisas «ecianas» que andam por casa sem terem ainda sido lidas. Esta edição é má, saiu grátis com um jornal no ano passado (já agora, as melhores edições do Eça: as dos Livros do Brasil estão já superadas pelas que vão agora saindo na INCM, edição crítica, e Presença, edição apenas do texto, sem aparato crítico, mas resultantes da mesma edição da INCM), mas os textos são muito interessantes, sobretudo pela ironia e pelos temas: literatura, colonialismos, Londres e arredores, as questões agrárias e relação com a Irlanda, o Natal e a literatura dele ou nele… Mais: «Dai a César o que é de César! Houve só um homem, Brutus, que deu a César o que a César era devido: um punhal através do coração!» (p.13), «Eu não reclamo que o país escreva livros, ou que faça arte: contentar-me-ia que lesse os livros que já estão escritos, e que se interessasse pelas artes que já estão criadas.» (p.116).


9 – O Mistério da Estrada de Sintra, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, Mensagem***

argumentos: idem em relação ao anterior. Novela escrita por dois amigos que decidiram escandalizar a sociedade Lisboeta da época, com uma história sobre um assassinato e uma assalto estranho e uma história que envereda para uns intrincados casos romanescos. Interessante pelo jogo de real/realidade/ficção que se tenta criar: «Ah! Como toda esta história é artificial, postiça, pobremente inventada!» (p.86). Mais: «É meu sistema admitir tudo quanto esteja para se provar e duvidar de tudo aquilo que me apresentem como coisa positiva. É o único meio prudente de nunca nos afastarmos muito da verdade.» (p.70); «Não sou uma mulher, sou um romance.» (p.206).


10 – Alves e Cª., Eça de Queirós, Atena****

argumentos: idem. Uma novela em que tudo corre rápido e breve, mas com tempo para tudo, como o Eça faz muito bem. O adultério centrado naquele que é traído, no homem da casa, o que dá uma perspectiva diferente do assunto na obra de Eça. Com uma boa dose de humor e ironia fina. Mais: «e parecia-lhe ver por toda a cidade esta sarabanda de amantes e de maridos, uns escapulindo-se, outros tentando apanhá-los, um chassez-cruisez de homens, perseguindo-se em torno das saias das mulheres!» (p.73).


11 – Expiação, Ian MCEwan, Gradiva*****

argumentos: ora finalmente o livro do filme de que mais gostei do ano passado. História magistral, análise de sentimentos e reacções, imagens fortes (a das duas figuras junto à fonte com a jarra a partir-se e o mergulho de Cecília na fonte, o sexo na biblioteca, contra a estante de livros – das coisas mais fantásticas que li sobre o assunto), simbólicas, estruturas inesperadas e vitalizadoras… Um romance a todos os níveis notável. Apaixonei-me obviamente por Cecília, tinha de ser. Mas também Robbie e Briony me seduzem muito, profundas e bem construídas. O livro, como o filme, também nos coloca a terrível questão do perdão perante uma coisa imperdoável, perante a expiação de uma culpa que arruína outros seres, perante a própria essência do homem. Muitas reflexões sobre a escrita, sobre a literatura, sobre as pessoas que lêem. De destacar também a relação que se cria entre autor do relato/personagem/relato e a realidade daquilo que ela, Briony, quer fazer, tantos anos depois. E a verdade bruta que irrompe no fim e que choca, mesmo a quem já conheça a história. É um dos que me ficam para a vida. Mais: «Robbie e Cecília tinham passado anos a fio a fazer amor – por carta.» (p.235), «O problema tem sido este: como pode uma escritora expiar os seus crimes se, com o poder absoluto de decidir o final, é em certa medida Deus?» (p.417).


TV:

Pushing Daisies*****

argumentos: a nova série das segundas-feiras da Dois: é extraordinária! Série de Bryan Fuller, conta a história de Ned (Lee Pace), um pasteleiro, que tem o dom extradordinário de, através do toque, pode fazer os mortos reviverem (e assim ajuda um detective a resolver alguns casos) mas também a de matar, exactamente com o mesmo toque (e por isso mantém uma relação amorosa peculiar com a sua paixão eterna, Chuck (Anna Friel), a quem deu uma segunda vida). Tudo isto narrado por Jim Dale, num tom de história de conto de fadas, com cores muito vivas, música orquestral e efusiva, num ambiente perfeito! Vale mesmo muito a pena ficar na Dois: à segunda-feira (e terça, quarta, sexta…).

Música:

ColdPlay – Viva La Vida*****

argumentos: mais um brilhante álbum dos ColdPlay, uma das minhas bandas favoritas. Neste dizem-se mais sexys, menos melancólicos, mas o que estava de bom nos outros continua aqui. Gosto muito da presença da morte por aqui, embora o álbum se inscreva sob a égide da vida. Destaco «Life in Technicolor», «Cemeteries of London», «42», «Viva la Vida», «Violet Hill», «Strawberry Swing», «Death And All His Friends» entre outras. «Violet Hill» teve uma edição especial on-line, no sítio do grupo, e grátis, assim como outra, não incluída no cd, «Death will never conquer».

Atonement OSTExpiação (Banda Sonora)*****

argumentos: a música composta para o filme Expiação de Joe Wright pelo italiano Dario Marianelli. 14 temas extraordinários, batidos pela máquina escrever, em que cada que nota transparece um sentimento trágico e imensamente triste… ou não… sei lá. Vencedor do Óscar para melhor Banda Sonora Original - sem qualquer tipo de dúvidas! Mas acompanha muito bem o filme, o livro, a vida. Muito bom! No youtube podem ouvir-se algumas das músicas.


Cinema:

A máscara de cristal*** – de Dave McKean. Fantástico interessante, com implicações lógicas demasiado lógicas, mas com pormenores muito interessantes.
10000 a.C.** – de Roland Emmerich. Épico a que falta muita coisa para o ser, mas vê-se bem…
Butterfly on a wheel** - de Mike Barker, com Gerard Butler, Maria Bello e Pierce Brosnan. De fugir, não pelas interpretações, sobretudo pela de Gerard Butler, mas pelo enredo recambulesco, angustiante sem motivo, e estúpido.
Antárctida**** – de Frank Marshall, com Paul Walker, Bruce Greenwood, Moon Bloodgood, Jason Biggs. Forçados a deixar para trás a sua amada equipa de cães de trenó devido a um acidente inesperado e a condições atmosféricas perigosas na Antárctida, os cães têm de sobreviver sozinhos ao Inverno rigoroso, durante 6 meses, até os aventureiros conseguirem montar uma missão de salvamento.
Meet the spartans*** – paródia muito paródica de 300, mas também de outros filmes e personalidades do mundo do espectáculo. E por muito que se estranhe, eu gosto deste tipo de filmes, pela parvoíce e pelo puro objectivo de fazer rir!

domingo, julho 27, 2008

Prémio Camões 2008

Em conversa com uma amiga brasileira, especialista em literatura, comentámos a distinção de 2008 a João Ubaldo Ribeiro. Ela pensava noutros, eu não pensava neste, dentro da literatura brasileira. Mas estava convencido que seria do Brasil, este ano, o escolhido. Ela sugeriu Ariano Suassuna, eu Manoel de Barros. Da literatura portuguesa não avançámos ninguém. Das africanas eu afirmei o valor de Germano Almeida (Cabo Verde), Mia Couto (Moçambique), Manuel Rui (Angola) e Ruy Duarte de Carvalho (Angola). Outras coisas aqui.


O autor está publicado em Portugal. O Sorriso do Lagarto na Caminho, e muitos outros na D. Quixote, como Miséria e Grandeza do Amor de Benedita e o polémico A Casa dos Budas Ditosos, na D. Quixote. Escrito em 1998, por encomenda da Editora Objectiva para uma série de livros sobre os sete pecados capitais, A Casa dos Budas Ditosos trata do pecado da luxúria. Tempo para o descobrir...

"E as pessoas lêem romances, biografias, confissões e memórias porque querem saber se as outras pessoas são como elas. Não somente por isso, mas muito por isso. Querem saber se aquilo de vergonhoso que sentem é também sentido por outros, querem olhar mesmo pelo buraco da fechadura e, quanto mais olham, mais precisam olhar, nunca estarão saciadas. Faz bem, é reconfortante. Porque eu tenho a convicção que a maior parte das mulheres e homens é como eu e pensa que não, cada um pensa que é único em suas maluquices. Não é, não, somos todos iguais. Vai ter muita gente que vai ler isso e vai discordar e de novo estou com preguiça de argumentar. Largue este texto, então, não perca seu tempo. Não largou? Não largou, claro, chegou até aqui."

A Casa dos Budas Ditosos
, Publicações D. Quixote, p.132

sábado, julho 19, 2008

palavras africanas

Texto que escrevi ao Luandino, no caderninho do nosso encontro...

À «hora das quatro horas» é que sabe bem a dor [que] purifica a beleza». A dor da descoberta difícil do prazer de ler, do «ser e não ser, ao mesmo tempo», das palavras que são «um búzio ressoando nos [m]eus ouvidos»…
«Para poder pôr» as palavras, «primeiro pergunta-se saber» que marca deixou Luandino em mim?
Primeiro: o nome que me acompanha sempre na boca de alguns amigos, por causa do «Pedro Caliota» (uma das minhas estórias favoritas) todos me chamam «Mau-Miau» («o gato não miava, era só gordachucho, se chamava é o Mau-Miau.»).
Segundo: a beleza das coisas vistas de forma desigual, «tal igual» a ninguém.
Minhas palavras. Se dão bonitas, se são feias, os que sabem ler é que dizem. Mas juro que é assim e não admito ninguém que duvide.

(recuperando estruturas e expressões de: João Vêncio, Luuanda, Macandumba )– 06/06/05


+


Um beijinho de parabéns à Ana Luísa, com as palavras africanas de que tanto gostamos:

«Ali defronte, abriam-se aos olhos de Ruca as vagas que rebentavam lá em baixo. "Sim, vão matar." Que mistério era aquela grandeza de espuma branca, eriçando o mar?
- Vocês não gostavam de ser onda?
- Deve ser bom. Assim por cima da água nem é preciso saber nadar. Quem me dera ser onda! - E Beto abria os braços.
- Mas Ruca - considerou Zeca -, não se pode ser onda. Ainda se uma pessoa fosse entrava com essa força do mar onde a gente queria. Onda ninguém amarra com corda.»

Manuel Rui, Quem me dera ser onda, 6.ª edição de Lisboa, Edições Cotovia, 2001, p.60

quinta-feira, julho 17, 2008

3 poemas de Carlos Nejar

LIMITE

Meus mortos, somos ligados
ao mesmo monte.
Porém, o que nos separa
é o estar adiante.

Não vos atinjo
e esta distância
é que me torna cativo.

Há um invólucro apenas
a ser quebrado.
Meus mortos,
há um invólucro apenas
e os meus sonhos vastos.
****

DEUS NÃO É A PALAVRA DEUS

Deus não é a palavra Deus
e andorinha,
a palavra andorinha.

Há um poço
que não entra
na palavra poço.

O amor, na palavra amor.
E Deus é tudo isso.
****

O Guitarrista Cego, Goya


O CEGO DA GUITARRA (GOYA)

Cego com os olhos
e morto. Cegos
os ouvidos. Cegos os olhos
de remota lembrança.
Nariz adunco e morto.
Chapéu entornado
E morto. Sob a capa,
Mortalha. Morto
morto morto.

Mas a guitarra
salta, a guitarra
letrada e casta
jorra e alegria
de um povo
em torno.

A guitarra é o cego.
A guitarra é o cego.
A guitarra tem os olhos
acesos.


Antologia Poética de Carlos Nejar, organizada por António Osório, Pergaminho, p.55, 98, 159

segunda-feira, julho 14, 2008

I'll Be Lovin' U Long Time + umas coisas

Porque tem tudo a ver. O título, e outras coisas. e porque gosto. Gostamos. Espécie de música do par ou assim... Quem sabe percebe o que quero dizer. E não é só por ser da minha Mariah...

****

Há uns tempos dizia eu à Denise que um dia eu é que iria precisar de uns miminhos. E pimba, ela escreve «Um baobá para o TUlinho». E tempos depois bem pecisava, e quem se apercebeu lá mos deu, à sua maneira. Entre a recusa da bolsa de Teatro, sem qualquer outra coisa financeira em vista, a não ser uns concursos com muito poucas probabilidades de conseguir, para Timor e Guiné, ou uma bolsa de doutoramento para a/o quais não tinha a menor preparação/disposição para concorrer, ainda com o mestrado por acabar... entre a recusa, dizia eu, e a partida no meu coração no avião (ok, um pouco foleiro, eu sei) e a minha ficada, houve momentos muito bons.

Os últimos tempos em Lisboa foram do melhor, com a presença da Patrícia e da Marta no curso livre sobre José Saramago. Os almoços, o eléctrico, as fotos (que ainda não tenho, mas terei)... Mas também a FIA, com a Inês (minha prima), onde me diverti bastante e falei muito com a Natacha que estava a fazer negócio... Mas uns dias estranhos no Porto, com encontros (Marta, Ana Verde), muitas pesquisas internéticas, passeios, compras na Springfield, e uma ida a Braga espectacular onde garanti um emprego para o próximo ano: Colégio D. Diogo de Sousa, a dar aulas de Língua Portuguesa (5.º, 7.º, 8.º e 10.º).

Mudanças súbitas que me vão alterar a vida a partir de Setembro, ou já a vão mudando hoje em dia. Segue-se Tormes, para descansar de tudo isto e encher-me de pessoas novas e mais Eça. Terceira vez lá (cf. 2005, 2006), com a Aldinida (foi também em 2006)

****

Demorei muito a escrever isto porque... sei lá...

domingo, julho 06, 2008

Diz que é uma espécie de nostalgia

ou então não. Mas deu-me para rever os meus cadernos dos Pensamentos Ligeiros, do número 1 ao número 7 (entre 1998 e 2003), à procura de alguma coisa que pudesse aproveitar para estórias do meu livro de contos deste ano, Vazio Repetido. Surgiram algumas, sim. Mas lá encontrei algumas coisas fantásticas dos tempos de EP que não partilhei ainda. Aqui ficam:


"os pobres vestem sarapilheira, os ricos vestem seda." Ar. Sar.


Numa reunião da AEFLUP, discutindo uma proposta que nos tinham feito, muito estúpida, mas que não podíamos recusar:

Bel: "Mas isso é uma punheta..."
Que: "Que nós temos de engolir..."


A estudarmos para Literatura Portuguesa I:

Su: "BAudelaire, p#$% que o pariu!"


E, finalmente, a minha versão daquela música que eu adorava (ui ui), a Menina Azul:

Viagra Azul
.
Senhor doutor
dê-me comprimidos para pinar
desde que eu a comi
que eu não consigo mais brocar

Viagra Azul, Viagra Azul...

Estou tão deprimido
sem saber que fazer
pobre e mal vestido
sem conseguir mais f...er

Viagra Azul, Viagra Azul...

E penso em ti a toda a hora
penso em ti pela noite fora
Viagra Azul, Viagra Azul...

E sexo e sexo, todas as posições e sexo,
Passear contigo na farmácia, pinar é tão bom
E a mão lá no coisa,
E a boca também,
ai é, não é, pois é...


Nota:
Milai, ainda está num desses cadernos uma alça do teu soutien, em silicone, que se estragou quando estavas na residência, no meu quarto, a preparar-te para ir para a queima, na mesma noite em que a Bruna apanhou com o isqueiro na testa e teve de ir para o INEM... Só nós...

quarta-feira, julho 02, 2008

2 poemas de Gastão Cruz


A solidão estava
aqui sobre esta praia
a solidão ainda
usa estar e nascer

na areia e na água
nestes dias de agosto
na rotina de outubro
de setembro no choro

que pode vir do sol
demasiado quente
de toda a alegria
que a luz tem neste tempo

A solidão ardia
nas páginas dos livros
e arde com um fogo
demasiado vivo

Assim se espera sobre
a areia da praia
um fogo diferente
da rotina e da água

Assim se espera um fogo
diferente da prosa
assim se espera um fogo
assim se espera a morte

Assim se espera o fogo
com a vida aprendido
assim se espera um fogo
assim se espera a vida

****

As vezes despedimo-nos tão cedo
que nem lágrimas há que nos suportem o
peso da voz à solidão exposta
ou
de lisboa no corpo o peso triste

Às vezes é tão cedo que nos vemos
omitidos
enquanto expõe
o peso insuportável do amor
a despedida

É tão cedo por vezes que lisboa
estende sobre os corpos o desgosto

Com os dedos no crânio despedimo-nos


Gastão Cruz, Os Nomes (1961-1974), p.105-6, 190