tag:blogger.com,1999:blog-82441842024-03-08T00:26:26.391+00:00tulissestulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.comBlogger706125tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-69767882190777695092013-01-01T15:23:00.003+00:002013-01-01T15:27:22.918+00:00Poesia de Rui Knopfli<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlOc5iFFhH8U_WYVsXP-XFCsrBG_IGMdDWuACKUBakQrtp1pALdWnLfjmvFmbKTMVHXmPCPSovTxQdDRpL8RrmmkeHenxJRF9h_gc21sHihL4PYtGqpbF9jVo3gYNj2zE9u0At/s1600/Rumo_ao_Horizonte_2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="185" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlOc5iFFhH8U_WYVsXP-XFCsrBG_IGMdDWuACKUBakQrtp1pALdWnLfjmvFmbKTMVHXmPCPSovTxQdDRpL8RrmmkeHenxJRF9h_gc21sHihL4PYtGqpbF9jVo3gYNj2zE9u0At/s320/Rumo_ao_Horizonte_2.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Despedida<br />
<br />
Tudo entre nós foi dito.<br />
Estamos cansados e tristes<br />
neste Outono de folhas pairando <br />
e caindo.<br />
Entre nós as palavras colocam um mundo<br />
de silêncio e vazio estéril.<br />
Os próprios sonhos se encheram de neblinas<br />
e o tempo os amarelece.<br />
Outono de cismo, de folhas secas<br />
e bancos abandonados de cimento frio<br />
Onde não cantam aves<br />
e o vento desce em brandos rodopios.<br />
Apenas uma vaga angústia presente,<br />
uma saudade sem recomeços,<br />
a lembrança, tépida a gelar como<br />
veios de mármore.<br />
Tudo entre nós foi dito,<br />
olhamos o apodrecer do parque,<br />
o vento, o repicar leve das folhas<br />
e, sem ressentimentos dizemos adeus.<br />
<br />
*<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;">
<em><span style="color: #333333; font-style: normal; mso-bidi-font-style: italic;">Mania do suicídio</span></em></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;">
<em><span style="color: #333333; font-style: normal; mso-bidi-font-style: italic;"></span></em> </div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: right;">
<em><span style="color: #333333; font-style: normal; mso-bidi-font-style: italic;">Às vezes tenho desejos<br />de me aproximar serenamente<br />da linha dos eléctricos<br />e me estender sobre o asfalto<br />com a garganta pousada no carril polido.<br />Estamos cansados<br />e inquietam-nos trinta e um<br />problemas desencontrados.<br />Não tenho coragem de pedir emprestados<br />os duzentos escudos<br />e suportar o peso de todas as outras cangas.<br />Também não quero morrer<br />definitivamente.<br />Só queria estar morto até que isto tudo<br />passasse.<br />Morrer periodicamente.<br />Acabarei por pedir os duzentos escudos<br />e suportar todas as cangas.<br />De resto, na minha terra<br />não há eléctricos.</span></em></div>
<br />
*<br />
<br />
Estrada<br />
<br />
Súbito apercebo-me:<br />
Segue a viagem dos anos.<br />
Passou o tempo das amoras<br />
e das laranjas furtadas,<br />
a flor da chuva de ouro<br />
para sugar o gostinho a açúcar.<br />
<br />
Sonho com uma comprida paisagem de cedros<br />
que nunca vi.<br />
Apetece-me deixar o corpo adormecido<br />
junto ao rádio<br />
e ir passear pelos galhos das árvores<br />
e sobre os fios telefónicos.<br />
<br />
Nada feito,<br />
pesada de agruras e desertos<br />
segue a viagem dos anos.<br />
<br />
**<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
A uma criança longe</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Escrevo-te estas palavras</div>
<div style="text-align: right;">
sabendo que as não lerás.</div>
<div style="text-align: right;">
Entanto, o desejo de comunicar</div>
<div style="text-align: right;">
é maior do que essa certeza.</div>
<div style="text-align: right;">
Estamos irremediavelmente longe</div>
<div style="text-align: right;">
de todos os contactos possíveis,</div>
<div style="text-align: right;">
mas tu aconteceste,</div>
<div style="text-align: right;">
encheste </div>
<div style="text-align: right;">
o frio de nossas vidas</div>
<div style="text-align: right;">
com o calor do teu sorriso</div>
<div style="text-align: right;">
e a graça de teus gestos.</div>
<div style="text-align: right;">
Breve, </div>
<div style="text-align: right;">
como breve paira</div>
<div style="text-align: right;">
a leve folha outoniça,</div>
<div style="text-align: right;">
ou a humilde gota de chuva</div>
<div style="text-align: right;">
que se desprende do beiral,</div>
<div style="text-align: right;">
foi a tua presença entre nós.</div>
<div style="text-align: right;">
Sua lembrança persistente</div>
<div style="text-align: right;">
está no gosto amargo do sorriso,</div>
<div style="text-align: right;">
marcada na fronte,</div>
<div style="text-align: right;">
no brilho empalidecido de nossos olhos.</div>
<div style="text-align: right;">
Intimamente, no mais íntimo</div>
<div style="text-align: right;">
de mim</div>
<div style="text-align: right;">
esquadrinhei todos os ângulos</div>
<div style="text-align: right;">
do improvável. Nunca mais</div>
<div style="text-align: right;">
nos encontraremos. Jamais.</div>
<div style="text-align: right;">
A morte é isso, é acabar</div>
<div style="text-align: right;">
simplesmente, não acontecer mais</div>
<div style="text-align: right;">
jamais.</div>
<div style="text-align: right;">
Nada me auxiliam as lágrimas</div>
<div style="text-align: right;">
que me salgam a face</div>
<div style="text-align: right;">
e o muito que tenho blasfemado</div>
<div style="text-align: right;">
de borco, rente ao teu silêncio gelado.</div>
<div style="text-align: right;">
Esta a lógica prosaica dos factos:</div>
<div style="text-align: right;">
Continuamos a viver, dolorida</div>
<div style="text-align: right;">
a consciência</div>
<div style="text-align: right;">
da tua cada vez maior ausência.</div>
<div style="text-align: right;">
E teu pequeno corpo moreno,</div>
<div style="text-align: right;">
que nem todo o amor aquece,</div>
<div style="text-align: right;">
é um palmo de ternura</div>
<div style="text-align: right;">
que apodrece.</div>
<br />
**<br />
<br />
O Ladrão de Versos<br />
<br />
Uma gargalhada de meu filho<br />
rouba-me um verso. Era,<br />
se não erro, um verso largo,<br />
enxuto e musical. Era bom<br />
e certeiro, acreditem, esse verso<br />
arisco e difícil, que se soltara<br />
dentro de mim. Mas meu filho<br />
riu e o verso despenhou-se no cristal<br />
ingénuo e fresco desse riso. Meu Deus,<br />
troco todos os meus versos<br />
mais perfeitos pelo riso antigo<br />
e verdadeiro do meu filho.<br />
<br />
***<br />
<div style="text-align: right;">
O fio da vida</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Há homens que rezam na penumbra<br />
das catedrais dolentes e há outros<br />
que do alto das pontes olham<br />
a escuridão rumorejante das águas.<br />
Há homens que esperam na orla<br />
marítima e outros arrastando-se<br />
no viscoso esterco dos subterrâneos.<br />
Há homens debruçados em pleno azul<br />
e outros que deslizam sobre densos verdes;<br />
há os desatentos na atenção e os que<br />
espreitam atentamente a ocasião.<br />
Há homens por fora e por dentro<br />
do cimento armado, suspensos<br />
das mil ciladas do quotidiano voraz;<br />
de encontro aos muros, às paredes,<br />
ao sol do meio-dia, ao visco da noite,<br />
às sediças solicitações de cada instante.<br />
Há a impotência poderosa da oração<br />
e a obsessão amarga dos suicidas<br />
e, de permeio, os que, porque hesitam,<br />
porque ignoram, porque não crêem,<br />
não oram, nem se suicidam<br />
e se quedam ante a impossibilidade de destrinça<br />
entre o fio da vida e a vida por um fio.</div>
<br />
***<br />
<br />
Telegrama<br />
<br />
Ao longo destes anos todos<br />
nada temos dito - meia dúzia<br />
de palavras trocadas para o ofício<br />
difícil da vida diária<br />
e quantas delas proferidas com azedume.<br />
Não te roubou, a brancura dos cabelos,<br />
a doçura que nos teus olhos mais<br />
se acentua.<br />
Mãe,<br />
este silêncio anda cheio de ternura.<br />
<br />
****<br />
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Verso e Anverso</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Diria palavras altas como amor,<br />
palavras lentas como ternura,<br />
ou duráveis como amizade.</div>
<div style="text-align: right;">
Desceu um véu de luto sobre o amarelo<br />
Esmaecido da savana, lá onde dormem<br />
os corpos mutilados e onde cresta,<br />
rente à terra, o sangue derramado. </div>
<div style="text-align: right;">
Baixou sobre a serenidade das coisas<br />
um sono obscuro e terrível.<br />
Poluiu o teu sorriso, o meu desejo;<br />
intercala os gestos e as vozes ciciadas.</div>
<div style="text-align: right;">
Cerramos os olhos para a penumbra<br />
donde brotam, nítidas, as imagens:<br />
Há uma criança no fogo,<br />
o pavor de um soluço estrangulado,<br />
fulgurantes, rápidas chamas.</div>
<div style="text-align: right;">
Direi palavras insuportáveis como morte.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: left;">
****</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Progresso</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Estamos nus como os gregos na Acrópole</div>
<div style="text-align: left;">
e o sol que nos mira também os fitou.</div>
<div style="text-align: left;">
Mas fazemos amor de relógio no pulso.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
*****</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Quina - três elegias breves</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
1</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Na fuga do tempo, breve</div>
<div style="text-align: right;">
foi o trajecto. Nele coube,</div>
<div style="text-align: right;">
porém - pão e vinho -, a intensa</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
alegria que, em redor,</div>
<div style="text-align: right;">
generosamente partilhavas. Na tua,</div>
<div style="text-align: right;">
principia a nossa morte.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
2. </div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Tínhamo-lo, quiçá, pressentido.</div>
<div style="text-align: right;">
Nunca de forma tão súbita e brutal.</div>
<div style="text-align: right;">
Julguei voltar à alegria do teu convívio.</div>
<div style="text-align: right;">
Engano. Regresso ao teu lugar,</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
irremediavelmente vazio, ao eco</div>
<div style="text-align: right;">
desvanecido dos teus passos, onde os nossos</div>
<div style="text-align: right;">
se perdem também, ao silêncio</div>
<div style="text-align: right;">
que nos legaste. Este, o lugar de encontro.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
3.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Nos caminhos da sua inescrutável</div>
<div style="text-align: right;">
sabedoria, dá Deus com uma mão</div>
<div style="text-align: right;">
o que, com a outra, retira. Da direita</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
colhemos infinita amizade, só para</div>
<div style="text-align: right;">
que a esquerda, encurtando-nos</div>
<div style="text-align: right;">
a vida, exígua de mais a tornasse</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
para que, numa ou noutra, ambas</div>
<div style="text-align: right;">
coubessem. Perca-se, então, a vida.</div>
<div style="text-align: right;">
Só a nossa morte, da tua nos libertará. </div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Rui Knopfli, <em>Obra Poética</em>, Lisboa: IN-CM, 2003, p.41, 52, 82, 135-6, 208, 226, 258, 267, 275, 522-3. </div>
tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-62838760838495930532012-12-31T23:59:00.001+00:002013-01-03T12:46:45.821+00:00Desafios 2013<div style="text-align: justify;">
Decidi também aderir a alguns desafios de leitura, pois tive preguiça de ir
procurar e, como confio <a href="http://www.estantedelivros.com/2012/12/balanco-de-2012.html">neste blogue</a> e nas palavras/propostas da Célia, achei
bem, para alterar o modelo dos últimos anos.<br />
Assim, tentarei em 2013:</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
chegar ao <a href="http://www.estantedelivros.com/2012/11/desafio-mount-tbr.html">Mt. Everest</a> (a pilha de livros que
esperam vem já de 2001 e são imensos – e espero este ano andar muitíssimo
controlado nas compras), </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
fazer o <a href="http://www.estantedelivros.com/2012/12/book-bingo.html">Bingo</a> (título com número – <em>O 13.º Sol</em> de
Daniachew Worku, sugerido por alguém – <em>O coração é um caçador solitário</em> de
Carson McCullers, ficção histórica – <em>A Obra ao Negro</em> de M. Yourcenar,
bestseller – <em>2666</em> de Roberto Bolaño e viagens – <em>A Máscara de África</em> de V. S.
Naipaul) e</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
cumprir o <a href="http://www.estantedelivros.com/2012/11/desafio-de-leitura-monthly-key-word.html">Monthly Key Word</a>, com as seguintes hipóteses:</div>
<br />
janeiro – <em>Um homem parado no <strong>inverno</strong></em>, Baptista-Bastos<br />
fevereiro – <em>O
<strong>coração</strong> é um caçador solitário</em>, Carson McCullers<br />
março – <em>A Casa <strong>Verde</strong></em>, Mario
Vargas Llosa<br />
abril – <em>O <strong>Jardim</strong> do Éden</em>, Ernest Hemingway<br />
maio – <em>A Criação
Do <strong>Mundo</strong></em>, Miguel Torga<br />
junho – <em>Morrer ao <strong>Sol</strong></em>, Peter Palangyo<br />
julho – <em>O
cheiro da <strong>noite</strong></em>, Andrea Camillieri<br />
agosto – <em>O Príncipe</em> <em>das <strong>Nuvens</strong></em>, Gianni Riotta<br />
setembro – <em>Adeus, <strong>Azules</strong></em>, António Murteira<br />
outubro – <em>O <strong>Medo</strong> do
homem Sábio</em>, Patrick Rothfuss<br />
novembro – <em>O <strong>13.</strong>º Sol</em>, Daniachew
Worku<br />
dezembro – <em>Pela <strong>Estrada</strong> Fora</em>, Jack Kerouactulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-66112801727458754072012-12-31T15:58:00.003+00:002012-12-31T19:06:04.490+00:00Desafio 12:12<br />
<div style="text-align: justify;">
E assim se chega ao fim de mais um ano de desafio. 2013 será diferente, este modelo esgotou-se :)</div>
<div style="text-align: justify;">
A ideia deste ano era ler certos autores e tal, mas foram sendo substituídos por outros e muitas obras se foram impondo ao ritmo dos dias - e até em galego! 140 é muito bom, claro! E filmes, numa meta histórica para mim: um por dia, 366! Mas há ainda tanto para ler/ver nas estantes e até no chão... haja vida para tanto ;)</div>
<br />
Livros:<br />
<br />
126. <em>O País dos Outros. A Poesia de Rui Knopfli</em>, Fátima Monteiro, IN-CM, 200p.****<br />
127. <em>Caliban 1 e 2</em>, 68p.*****<br />
128. <em>O Comboio das Cinco</em>, Luís Afonso, Abysmo, 88p.****(*)<br />
129. <em>Manhã Submersa</em>, Vergílio Ferreira, Europa-América, 176p.****(*)<br />
130. <em>Alegria Breve</em>, Vergílio Ferreira, Amigos do Livro, 224p.*****<br />
131. <em>Contos</em>, Vergílio Ferreira, Quetzal, 240p.*****<br />
132. <em>Na Tua Face</em>, Vergílio Ferreira, Círculo de Leitores, 230p.*****<br />
133. <em>Escrever</em>, Vergílio Ferreira, Bertrand Editora, 280p.*****<br />
134. <em>Memorias dun Neno Labrego</em>, Xosé Neira Vilas, Edicios do Castro, 192p.***** <br />
135. <em>José Saramago – 90 anos 90 palavras</em>, V.V.A.A., Caminho, 56p.*****<br />
136. <em>A Aventura da Memória e Outros Contos</em>, Voltaire, Estrofes & Versos, 140p.*****<br />
137. <em>O Ladrão de Palavras</em>, Francisco Duarte Mangas, Caminho, 28p.****<br />
138. <em>Em Roma Sê Romano</em>, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, Caminho, 230p.****<br />
139. <em><a href="http://tulisses.blogspot.pt/2012/12/3-poemas-de-joao-maria-vilanova.html">Poesia</a></em>, João-Maria Vilanova, Caminho, 110p.***(*)<br />
140. <em>Tiago na toca e os Poetas</em>, Tiago Bettencourt, 32p.****<br />
<br />
Filmes:<br />
<br />
345. <em>Anna Karenina</em>, Joe Wright*****<br />
346. <em>Leaves of Grass</em>, Tim Blake Nelson***(*)<br />
347. <em>Sint</em>, Dick Maas****<br />
348. <em>The Art of Gettinh By</em>, Gavin Wiesen****(*)<br />
349. <em>Ciao</em>, Yen Tan***(*)<br />
350. <em>The Chronicles of Narnia:The Voyage of the Dawn Treader</em>, Michael Apted****<br />
351. <em>The Three Musketeers</em>, Paul W. S. Anderson****<br />
352. <em>Dear John</em>, Lasse Hallstrom***(*)<br />
353. <em>Half Nelson</em>, Ryan Fleck*****<br />
354. <em>Teeth</em>, Mitchell Kichtenstein***<br />
355. <em>The Hobbit: An Unexpected Journey</em>, Peter Jackson*****<br />
356. <em>Ken Park</em>, Larry Clark**(*)<br />
357. <em>The Inheritance</em>, Robert O'Hara*(*)<br />
358. <em>Bridget Jones: The Edge of Reason</em>, Beeban Kidron****(*)<br />
359. <em>Poulet aux prunes</em>, Vincent Paronnaud*****<br />
360. <em>Kids</em>, Larry Clark***<br />
361. <em>The Brave One</em>, Neil Jordan****<br />
362. <em>The Words</em>, Brian Klugman*****<br />
363. <em>Cars 2</em>, John Lasseter***<br />
364. <em>Frankenweenie</em>, Tim Burton****(*)<br />
365. <em>Assim Assim</em>, Sérgio Graciano****<br />
366. <em>Putas Marcianas</em>, José João Silva**<br />
<br />
outros:<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<em>Perdidamente Florbela</em>, de Vicente Alves do Ó, com Dalila Carmo, Albano Jerónio e Ivo Canelas, entre outras. Perdeu-se no argumento, porque de resto estava muito bem!</div>
tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-18160100821898790522012-12-24T16:34:00.004+00:002013-01-01T01:05:32.575+00:00Poema de Natal 2012<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/C1g5qHxSoF4?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />
<br />
Quando um homem quiser - José Carlos Ary dos Santos<br />
<br />
Tu que dormes a noite na calçada de relento<br />
<span class="text_exposed_show">Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento<br /> Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento<br /> És meu irmão amigo<br /> És meu irmão <br /> <br /> E tu que dormes só no pesadelo do ciúme<br /> Numa cama de raiva com lençóis feitros de lume<br /> E sofres o Natal da solidão sem um queixume<br /> És meu irmão amigo<br /> És meu irmão <br /> <br /> Natal é em Dezembro<br /> Mas em Maio pode ser<br /> Natal é em Setembro<br /> É quando um homem quiser<br /> Natal é quando nasce uma vida a amanhecer<br /> Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher <br /> <br /> Tu que inventas ternura e brinquedos para dar<br /> Tu que inventas bonecas e combóios de luar<br /> E mentes ao teu filho por não os poderes comprar<br /> És meu irmão amigo<br /> És meu irmão <br /> <br /> E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei<br /> Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei<br /> Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei<br /> És meu irmão amigo<br /> És meu irmão <br /> <br /> Natal é em Dezembro<br /> Mas em Maio pode ser<br /> Natal é em Setembro<br /> É quando um homem quiser<br /> Natal é quando nasce uma vida a amanhecer<br /> Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher.</span>tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-212009765145754272012-12-21T18:35:00.002+00:002012-12-21T18:35:50.706+00:003 poemas de João-Maria Vilanova<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgJjd9gy42Oh2yF1rp6XdUKmuJr0X-nFL4WAoloaPcDHDHybC4jKw6JjHA_RXTUGDm6WqHcjVP8bFRRZ2XMHxTO1pGGiWy7mNd25GLFjdi6oZmLZ8-bhZ6MvWjLhSfj9vlF0-o/s1600/calemas+1.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgJjd9gy42Oh2yF1rp6XdUKmuJr0X-nFL4WAoloaPcDHDHybC4jKw6JjHA_RXTUGDm6WqHcjVP8bFRRZ2XMHxTO1pGGiWy7mNd25GLFjdi6oZmLZ8-bhZ6MvWjLhSfj9vlF0-o/s320/calemas+1.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
Canção de Amanhecer Maio<br />
<br />
Céu rente<br />
escasso<br />
e o xinguilar do vento<br />
dorido<br />
por entre as frestas.<br />
Tal se cacimbo<br />
pai ou irmão de longe<br />
regressasse<br />
teu marufo depões<br />
em nossa mesa<br />
tua oferenda.<br />
<br />
**<br />
<br />
Canção do Pequeno Discípulo<br />
<br />
Chuva<br />
deixa reaprender teu gesto<br />
quando madrugada<br />
os dedos tão de leve<br />
sábia vinhas<br />
batucar meu zinco.<br />
<br />
Rola<br />
deixa reaprender teu gesto<br />
quando tarde estreita<br />
a rouca tua voz certíssima<br />
contrapontavas<br />
na mulemba.<br />
<br />
Noite<br />
deixa reaprender teu gesto<br />
quando calidamente <br />
a veste tua única veste nos trazia<br />
para com ela<br />
amortalharmos a tristeza.<br />
***<br />
<br />
Canção com Sabor de Areia<br />
<br />
Tempo<br />
que na brisa partias<br />
entre quintais de aduela<br />
cajueiros<br />
e o rugido distante<br />
do mar<br />
na calema<br />
<br />
Onde o nocturno rumor<br />
no capinzal<br />
junto à linha?<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
João-Maria Vilanova, <em>Poesia</em>, Lisboa: Caminho, 2004, p.21, 32. 42. </div>
tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-2529752008891300652012-12-14T15:47:00.001+00:002012-12-14T15:47:31.293+00:00Anna Karenina e o prazer...<span class="userContent"><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br />... da leitura e da música!<br /><br />Ainda por causa desta onda de amor ressuscitado por «Anna Karenina», lembrei-me desta passagem. E lá ainda duas faixas, à sorte, da banda sonora do filme - em «Clerks» ouve-se o comboio ;)</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/7tZI6YhRbNQ?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/-dR3hb9wJFU?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="text-align: justify;">
<br /><br />Esta aversão à leitura é ainda mais inconcebível, se pertencemos a uma geração, a uma época, a um meio, a uma família em que a tendência era exactamente para nos impedir que lêssemos.<br />- Para de ler, vais estragar os olhos!<br />- Vai lá para fora brincar, está um dia lindo.<br /><span class="text_exposed_hide">...</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="text-align: justify;">
- Apaga a luz! Já é tarde!<br />Nesse tempo, os dias estavam sempre demasiadamente bonitos para os desperdiçar com leituras, e as noites eram demasiadamente escuras.<br />Note-se que, quer se lesse quer não se lesse, o verbo já era conjugado no imperativo. Mesmo no passado já era assim. De certo modo, ler era um ato subversivo. À descoberta do romance acrescia a excitação da desobediência à família. Era um duplo esplendor! Ah, a magnífica recordação de horas de leitura às escondidas, debaixo dos lençóis, à luz da lanterna. Como galopava a Anna Karenina ao encontro do seu Vronski, àquelas horas da noite! Amavam-se um ao outro, o que já era magnífico, mas amavam-se enfrentando a proibição de ler, o que era ainda melhor! Amavam-se contra a vontade do pai e da mãe,contra o trabalho de matemática por acabar, contra a redacção, contra o quarto por arrumar, amavam-se em vez de irem para a mesa, amavam-se antes da sobremesa, preferiam estar um com o outro a irem ao futebol ou a apanharem cogumelos… tinham-se escolhido um ao outro, nada mais queriam que estar um com o outro… meu Deus, como o amor é belo!<br /><br /> E como um romance se lê num instante!<br /> <br /> E acima de tudo lemos contra a morte.<br /><br /> <br /> Daniel Pennac, <em>Como um Romance<br /><br /></em></div>
</span>tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-76660849894829516342012-12-07T14:10:00.001+00:002012-12-07T21:02:59.015+00:00Anna Karenina<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="color: #333333; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9pt; line-height: 115%;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><span style="color: #136cb2;">Count Vronsky</span></span></span><span lang="EN-US" style="color: #333333; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-US;">: I love you! <br />
</span><span style="color: #333333; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9pt; line-height: 115%;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><span style="color: #136cb2;">Anna Karenina</span></span></span><span lang="EN-US" style="color: #333333; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-US;">: Why? <br />
</span><span style="color: #333333; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9pt; line-height: 115%;"><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><span style="color: #136cb2;">Count Vronsky</span></span></span><span lang="EN-US" style="color: #333333; font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-US;">: You can't ask Why about love!</span><span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCzurd-9I5NBtJqrYZegiGZXC2T5IqKLJj0vDaLKIYE_Hpi460HYhLVDQSO-MRdnNNr47zF7v3gyxc4aiG9uh0PvjV2MOXurXAzzWCzKN3jnRA4IwfBAa-msYeveFK2fOSiFGm/s1600/tn_o-ANNA-KARENINA-POSTER-900.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCzurd-9I5NBtJqrYZegiGZXC2T5IqKLJj0vDaLKIYE_Hpi460HYhLVDQSO-MRdnNNr47zF7v3gyxc4aiG9uh0PvjV2MOXurXAzzWCzKN3jnRA4IwfBAa-msYeveFK2fOSiFGm/s1600/tn_o-ANNA-KARENINA-POSTER-900.jpg" /></a></div>
<span lang="EN-US" style="mso-ansi-language: EN-US;"><o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><br />
<span style="font-family: Calibri;"><span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><br />
<span style="font-family: Calibri;"></span><br />
<span style="font-family: Calibri;"></span><br />
<span style="font-family: Calibri;"></span><br />
<span style="font-family: Calibri;"></span><br />
<span style="font-family: Calibri;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;">Ontem, pelas 14.30, eu ia ver «Anna Karenina», em
estreia nacional. Ia, mas avisaram-me logo que talvez não fosse possível,
porque ainda não tinham experimentado a fita na máquina e tal. Mas, quase vinte
minutos depois, deu (cortaram depois o intervalo, para compensar). E uma senhora
que ia ver o «Amanhecer» acabou por vir também - não se deve ter arrependido,
seguramente. Isto porque o filme é uma experiência artística difícil de
definir, melhor, difícil de igualar. </span></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<o:p><span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;"> </span></o:p></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;">Quando temos muitas expectativas sobre alguma
coisa, é costume ficarmos desiludidos. Aqui eram muitas. Primeiro porque era de um dos
meus realizadores favoritos, que já nos deu outros dois (pelo menos) grandes
filmes que fazem parte da minha lista de favoritos: «Pride and Prejudice» e «Atonement»,
depois porque tem Keira Knightley (Anna) , a mesma que protagonizou os dois
filmes acima referidos, com Jude Law (Karenin) a acompanhar (de quem gosto
muito desde que o vi nos filmes de Anthony Minghella - «Breaking and Entering» e
«Cold Mountain») e Matthew Macfadyen (Oblonsky), que já fora o amor da vida da
personagem de Keira em «Pride and Prejudice» e agora passa a ser o irmão, entre
outros atores interessantes. Mais ainda porque a banda sonora está a cargo de
Dario Marianelli que, pasme-se, já tinha feito as dos dois anteriores filmes
também (e a de «Atonement» é das criações mais fantásticas de sempre para
filmes e não só). Caso para dizer que em equipa vencedora não se mexe. E, como
se compreendeu já e se verá a seguir, não fiquei nada desiludido. </span></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<o:p><span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;"> </span></o:p></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;">Por fim, a adaptação de um dos grandes romances
da humanidade, de Tolstoi, que li já há alguns anos, mas que conservo na
memória: pelo fascínio de Oblonsky, pela busca de uma dignidade por parte de
Levin, pelo amor e pelo sofrimento de Anna. Tinha visto este ano uma adaptação
boa do romance, num filme de 1997 com Sophie Marceau e Sean Bean. Mas achei-a
um pouco rápida, por vezes superficial, embora os protagonistas estivessem
ótimos. Neste não há um Sean Bean - que agora já só poderia ser um Karenin -
mas um Aaron Taylor-Johnson que está bem no que tem de fazer. </span></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<o:p><span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;"> </span></o:p></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<u1:p></u1:p><span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;">Mal o filme começa, temos a noção de
que algo de diferente ali vem. Ousado. Sim, direção artística e fotografia
são geniais: haverá o luxo, a sumptuosidade, os mármores, os dourados das paredes e
dos objetos, os veludos; o guarda-roupa e a maquilhagem exigidos e perfeitos:
os vestidos de cores tanto fortes como pálidas, os casacos com peles, as fardas
feitas a preceito, os penteados daquela gente, as joias... Sim, há a câmara
virtuosa que desliza, que acompanha, que segue em várias direções sem os cortes
costumados (que já havia nos outros filmes dele, mas aqui mais, talvez). E um
pouco daquilo que já nos havia habituado: a atenção aos pormenores, as pequenas
coisas que de repente ganham uma significação extraordinária - só um exemplo: o
leque que Anna abana enquanto vê a corrida de cavalos produz o som dos próprios
cavalos em movimento, mas também poderá ser o do seu coração. Essa câmara
obsessiva é de tal modo significativa que permite uma economia fantástica no
relato de muitos acontecimentos: o escritório onde se encontram certas
personagens torna-se no restaurante onde elas mesmas combinaram encontrar-se
horas depois, os papéis de uma carta rasgada tornam-se neve; câmara acompanhando
a valsa de Anna e Vronsky (numa cena belíssima, mas belíssima de chegar às
lágrimas só pela emoção estética) apercebemo-nos de que não foi, afinal, apenas
uma dança, mas a noite toda juntos, porque vemos Kitty, por breves
momentos, sempre, com um par diferente de cada vez que aparece, sempre à espera
que os outros se larguem. Coreografias: sim, muitas. Não apenas a do baile, a
da receção com o fogo de artifício, mas de tudo – o filme tem momentos em que
tudo se sincroniza, como se se tratasse de um bailado (ou não fosse a Rússia um
país com história na dança), são os trabalhadores de Oblonsky, são os
trabalhadores com Levin… E o comboio, obsessão que vai percorrendo toda a
história, nos brinquedos, nos espelhos, nos sonhos, nas viagens feitas
efetivamente, e que vai ser determinante, como é sabido, no final, é até
incorporado na banda sonora, brevemente, já como Marianelli fizera com a
máquina de escrever em «Atonement». A música é, aliás, um dos aspetos mais
emocionantes do filme… a intensidade e a beleza com que foram feitas captam algo
da cultura russa sem trair o estilo próprio do autor. E as cenas de amor,
perfeitamente desenhadas, para mostrar a felicidade, embora pairando uma certa
mão de tragédia, são também belas. </span></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<o:p><span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;"> </span></o:p></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;">É talvez este tom de tragédia que estará na opção
de uma filmagem diferente. Lars Von Trier, há uns anos, apostou fazer
«Dogville» num palco, em que as casas estivessem desenhadas no chão, quase sem
adereços mais. Aqui, os adereços são aos milhares, claro, mas quase tudo foi
feito também numa sala de teatro. Não se espantem, portanto, por verem cortinas,
cadeiras, palco, bastidores – aqui vivem sobretudo os do povo, os que vivem
numa Rússia à beira da revolução e não sabem o que ela é, o que ela promete, e
quando sabem nem sabem se a querem. Teatro, portanto, pois a vida é teatro, já
se sabe também há muito. Para que não se esqueça tudo aquilo que anda em torno
da história. E se tudo se passa naquele sítio, temos painéis que se levantam,
portas que se abrem ou se fecham, personagens que passam de um sítio a outro,
tudo de uma forma mágica e económica da narrativa, criando uma fluidez inédita,
que o teatro tem explorado e que o filme também faz. Tragédia para quem está
preso naquele mundo sugerido pelo teatro, mas liberdade para Levin, a única
personagem que inicialmente anda pelas paisagens exteriores, pelo mundo real,
para onde leva Kitty…</span></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<o:p><span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;"> </span></o:p></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;">Nada a dizer do elenco, a não ser que é muito
bom. Muito se disse sobre Keira não poder ser uma boa Anna Karenina. Sim, ela
não é boa, é perfeita e as nomeações para prémios já surgiram. Jude Law, que
poderia ter sido Vronsky há uns anos, está ótimo na sua contenção, na sua
«santidade». Não referi ainda, mas faço-o agora: Domhnall Gleeson é um Levin
perfeito, assim como muito bem estão Kelly Macdonald, Emily Watson, Michelle
Dockery, além de Matthew Macfadyen e Aaron Taylor-Johnson, já referidos. </span></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<o:p><span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;"> </span></o:p></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;">Fidelíssimo ao livro, a história está toda ela no
filme. Toda ela, de uma forma ou outra, sem rapidez no essencial, no que em
muitos filmes me leva a perguntar «de onde vem tanto amor?». Aqui há a
perseguição, o desespero, a culpa por não ter feito nada ainda, o desespero, a
entrega. E tudo o que isso provocará. Há os boatos, o falar dos outros (que bem
feitas estas cenas, com as personagens paradas, extáticas, ou só com o som de
palavras sussurradas, que não se entendem, até subirem de tom e se tornarem
acusadoras), que contrasta com o silêncio do jogo de cubos onde Levin e Kitty
finalmente se entendem. </span></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<o:p><span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;"> </span></o:p></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;">Poder-se-á ler por aí críticas de senhores
(supostamente) entendidos em cinema. Um dos que li classifica o filme como
«razoável». Quem é crítico de cinema tem uma certa tendência para escrever
coisas muito más sobre os filmes, muitas vezes só destaca pela positiva filmes
enfadonhos, mesmo, de muita política, de senhores cujo nome não pode ser
tocado. Está-lhes no sangue, ou na carteira, não sei. Dizer que este filme é
razoável é, no mínimo, dizer incompetente o crítico que o afirmou. O
«síndrome-souflé» é outra expressão usada noutro sítio, como se os críticos
tivessem de escrever com conceitos modernos e bonitos para chamar a atenção de
leitores… esperem, têm mesmo! Porque, meus senhores, mesmo que não sintam as
angústias das personagens, profundamente marcadas, profundamente vividas, ao
menos a criação estética está. E estar isto, pelo menos, é mais, muito mais do
que muitos filmes que por aí andam conseguem. Não se chora neste filme pela
história em si, ou não só. Há lágrimas de alegria e de tristeza. Eu atrevo-me a
dizer que há também lágrimas de beleza. De infinita beleza. O realizador está
na posse de uma visão artística inigualável, talvez aqui extremada em
virtuosismo, quase a raiar a loucura. Mas não está a própria Anna a raiar a
loucura quando a sociedade machista e fechada em que vive desaprova o seu amor?
</span></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<o:p><span style="font-family: Times New Roman; font-size: large;"> </span></o:p></div>
<span style="font-size: large;">
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span></span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman;"><span style="font-size: large;">Não sei se transmiti bem o que queria. No final
do filme, atordoado, o funcionário do cinema perguntou-me se o filme era bom.
Mas percebeu logo que sim, ao ver a minha expressão e os olhos húmidos. Não se
enganem, é. Mas o melhor é verem e ajuizarem. A ideia disto tudo é simples: um
belo sucessor de «Atonement», também ele adaptado de um romance e o meu de
eleição, com uma história extraordinária, complexa, múltipla, abarcada de uma
forma singular e que vale a pena ver, em tela grande!</span></span></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><o:p> </o:p></span></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman;"></span><br /></div>
<span style="font-family: Times New Roman;">
</span><br />
</span><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/rPGLRO3fZnQ?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
</div>
tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-72056353573669902692012-12-01T15:47:00.000+00:002012-12-07T15:37:15.770+00:00Poemas de José Saramago<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvDwXjDBLEl8OlHi_w-iNRFCo40nYL5gcopYtLoLkfu0owghhYMP8eg91fFjMkuMkhrL6E43fwcJOxMq9HUO-XG_Y19SYBAzKREdsg5NfYTpe-83086EBoc7YF0jjvJxnlc8Re/s1600/saramago1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvDwXjDBLEl8OlHi_w-iNRFCo40nYL5gcopYtLoLkfu0owghhYMP8eg91fFjMkuMkhrL6E43fwcJOxMq9HUO-XG_Y19SYBAzKREdsg5NfYTpe-83086EBoc7YF0jjvJxnlc8Re/s320/saramago1.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Processo</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
As palavras mais simples, mais comuns,</div>
<div style="text-align: right;">
As de trazer por caqsa e dar de troco,</div>
<div style="text-align: right;">
Em língua doutro mundo se convertem:</div>
<div style="text-align: right;">
Basta que, de sol, os olhos do poeta,</div>
<div style="text-align: right;">
Rasando, as iluminem.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
**</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Epitáfio para Luís de Camões</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Que sabemos de ti, se versos só deixaste,<br />
Que lembrança ficou no mundo que tiveste?<br />
Do nascer ao morrer ganhaste os dias todos,<br />
Ou perderam-te a vida os versos que fizeste?</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
***</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
As palavras são novas: nascem quando<br />
No ar as projectamos em cristais<br />
De macias ou duras ressonâncias.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Somos iguais aos deuses, inventando<br />
Na solidão do mundo estes sinais<br />
Como pontes que arcam as distâncias.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
****</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Fala do Velho do Restelo ao Astronauta</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Aqui, na Terra, a fome continua,<br />
A miséria, o luto, e outra vez a fome.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Acendemos cigarros em fogos de napalme<br />
E dizemos amor sem saber o que seja.<br />
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,<br />
E também da pobreza, e da fome outra vez.<br />
E pusemos em ti sei lá bem que desejo<br />
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.</div>
<div style="text-align: right;">
<br />
No jornal, de olhos tensos, soletramos<br />
As vertigens do espaço e maravilhas:<br />
Oceanos salgados que circundam<br />
Ilhas mortas de sede, onde não chove.</div>
<div style="text-align: right;">
<br />
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa<br />
Onde come, brincando, só a fome,<br />
Só a fome, astronauta, só a fome,<br />
E são brinquedos as bombas de napalme.</div>
<div style="text-align: right;">
*****</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Regra</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Tão pouco damos quando apenas muito</div>
<div style="text-align: right;">
De nós na cama ou na mesa pomos:</div>
<div style="text-align: right;">
Há que dar sem medida, como o sol, </div>
<div style="text-align: right;">
Imagem rigorosa do que somos. </div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
<em>Os Poemas Possíveis</em>, Lisboa: Caminho, 2011 (1966)), p.23, 36, 58, 84, 122</div>
<br />
<br />
Forja<br />
<br />
Quero branco o poema, e ruivo ardente<br />
O metal duro da rima fragorosa,<br />
Quero o corpo suado, incandescente,<br />
Na bigorna sonora e corajosa,<br />
E que a obra saída desta forja<br />
Seja simples e fresca como a rosa.<br />
<br />
**<br />
<br />
Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites, <br />
manhãs e madrugadas em que não precisamos de <br />
morrer. <br />
Então sabemos tudo do que foi e será. <br />
O mundo aparece explicado definitivamente e entra <br />
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as <br />
palavras que a significam. <br />
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas <br />
mãos. <br />
Com doçura. <br />
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a <br />
vontade e os limites. <br />
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o <br />
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do <br />
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos <br />
ossos dela. <br />
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres <br />
como a água, a pedra e a raiz. <br />
Cada um de nós é por enquanto a vida. <br />
Isso nos baste.<br />
<br />
***<br />
<br />
Caminhámos sobre as águas como os deuses<br />
E fomos deuses<br />
Todo o arco do céu as nossas mãos traçaram,<br />
e os traços lá ficaram.<br />
Olhamos hoje a obra, cansados arquitectos:<br />
Não são os nossos tectos.<br />
<br />
<em>Provavelmente Alegria</em>, Lisboa: Caminho, 1999 (1970), p.20, 52, 71tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-23019306157118791232012-11-30T17:03:00.001+00:002012-12-08T12:12:47.173+00:00Desafio 12:11<div style="text-align: justify;">
novembro... mês de alheamento. este foi. Fui ver «<a href="http://www.theatrocirco.com/agenda/evento.php?id=935">O Profissional</a>» pelo Centro Dramático Galego no Theatro Circo, uma interessante reflexão sobre os conflitos na Sérvia, em galego, claro, pois é preciso ouvir, também, para poder falar. O resto foram livros e filmes, como de costume. Bem como o acompnhar das séries «The Big Bang Theory», «The Walking Dead», «Once upon a time» e «Downton Abbey», as quatro eleitas das muitas que andam por aí mas que não consigo acompanhar... </div>
<br />
livros:<br />
<br />
112. <em>Castelos de Cartão</em>, Almudena Grandes, D. Quixote, 160p.*****<br />
113. <em>Os Ares Difíceis</em>, Almudena Grandes, D. Quixote, 562p.*****<br />
114. <em>Cemitério de Elefantes</em>, Dalton Trevisan, Relógio D’Água, 94p.**<br />
115. <em>Um Beijo de Colombina</em>, Adriana Lisboa, Temas e Debates, 174p.*****<br />
116. <em><a href="http://tulisses.blogspot.pt/2012/11/3-poetas-de-antonio-borges-coelho.html">Ao Rés da Terra</a></em>, António Borges Coelho, Caminho, 104p.****<br />
117. <em>A Aurora dos Bem-Aventurados</em>, Louis Gardel, Bizâncio, 110p.***(*)<br />
118. <em>Os Ciganos</em>, Sophia de Mello Breyner Andresen e Pedro Sousa Tavares, Porto Editora, 64p.*****<br />
119. <em>A Casa de Papel</em>, Carlos María Domínguez, Asa, 80p.*****<br />
120. <em>Cronicando</em>, Mia Couto, Caminho, 194p.*****<br />
121. <em>E Se Obama Fosse Africano e Outras Interinvenções</em>, Mia Couto, Caminho, 214p.*****<br />
122. <em><a href="http://www.tulisses.blogspot.pt/2012/12/poemas-de-jose-saramgo.html">Os Poemas Possíveis</a></em>, José Saramago, Caminho, 190p.****(*)<br />
123. <em>Provavelmente Alegria</em>, José Saramago, Caminho, 100p.***<br />
124. <em>Don Giovanni ou O dissoluto absolvido</em>, José Saramago, Caminho, 136p.****<br />
125. <em>O Livro Branco</em>, Jean Cocteau, Assírio & Alvim, 104p.***<br />
<br />
<br />
filmes:<br />
<br />
296. <em>The Awakening</em>, Nick Murphy****<br />
297. <em>Un été brûlant</em>, Philippe Garrel***<br />
298. <em>Alatriste</em>, Agustín Diaz Yanes**<br />
299. <em>Bramadero</em>, Julián Hernández*<br />
300. <em>Obsluhoval jsem anglického krále</em>, Jirí Menzel*****<br />
301. <em>World Trade Center</em>, Oliver Stone***(*)<br />
302. <em>The Shining</em>, Stanley Kubrick****<br />
303. <em>Cockneys vs Zombies</em>, Mattias Hoene****(*)<br />
304. <em>Abraham Lincoln: Vampire Hunter</em>, Timur Bekmambetov***(*)<br />
305. <em>Wuthering Heights</em>, Peter Korminsky****(*)<br />
306. <em>Wuthering Heights</em>, Coky Ciedroyc***(*)<br />
307. <em>Wuthering Heights</em>, Andrea Arnold***<br />
308. <em>Guest House Paradiso</em>, Adrian Edmondson****<br />
309. <em>Al final del camino</em>, Roberto Santiago****<br />
310. <em>The Good Night</em>, Jake Paltrow****<br />
311. <em>El Bola</em>, Achero Mañas****(*)<br />
312. <em>Desert Flower</em>, Sherry Hormann****(*)<br />
313. <em>Perfect Criature</em>, Glenn Standring**(*)<br />
314. <em>Outlander</em>, Howard McCain***(*)<br />
315. <em>The Experiment</em>, Paul Scheuring***(*)<br />
316. <em>Savage Grace</em>, Tom Kalin**(*)<br />
317. <em>Gomorra</em>, Matteo Garrone***<br />
318. <em>Alpha Dog</em>, Nick Cassevetes**(*)<br />
319. <em>Safety not guaranteed</em>, Colin Trevorrow****(*)<br />
320. <em>Red Riding Hood</em>, Catherine Hardwicke***(*)<br />
321. <em>30 Minutes or Less</em>, Ruben Fleischen****<br />
322. <em>Cesare deve mo</em>rire, Paolo Taviani, Cittorio Taviani****<br />
323. <em>New York, I Love You</em>, Faith Akim (entre outros)****<br />
324. <em>The Dark Knight Rises</em>, Christopher Nolan****<br />
325. <em>Brave</em>, Mark Andrews, Brande Chapman***(*)<br />
326. <em>ParaNorman</em>, Chris Butler, Sam Feu***(*)<br />
327. <em>New Year's Eve</em>, Gerry Marshall***(*)<br />
328. <em>Vamps</em>, Amy Hackerling***(*)<br />
329. <em>The Ruins</em>, Carter Smith***(*)<br />
330. <em>Mother and Child</em>, Rodrigo García****<br />
331. <em>The Loved Ones</em>, Sean Byrne**(*)<br />
332. <em>Linhas de Wellington</em>, Valeria Sarmento****<br />
333. <em>Paraísos Artificiais</em>, Marcos Prado***<br />
334. <em>Chernobyl Diaries</em>, Bradley Parker****<br />
335. <em>Judas Kiss</em>, J. T. Teponapa**(*)<br />
336. <em>The First Grader</em>, Justin Chadwick*****<br />
337.<em> V/H/S</em>, Matt Bettinelli-Olpin (e outros)***<br />
338. <em>Detachment</em>, Tomy Kaye*****<br />
339. <em>Los amantes del círculo polar</em>, Julio Medem*****<br />
340. <em>Another gay movie</em>, Todd Stephens***<br />
341. <em>Another gay sequel: gays gone wild</em>, Todd Stephens**(*)<br />
342. <em>Resident Evil: Retribution</em>, Paul W. S. Anderson****(*)<br />
343. <em>The Bourne Legacy</em>, Tony Gilroy****<br />
344. <em>Thale</em>, Aleksander Nadaas***<br />
<br />tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-61855966181555521822012-11-18T14:09:00.002+00:002012-11-18T14:11:07.794+00:003 poemas de António Borges Coelho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibpXVQlD_tQjtvedvuj9ig_hznb7D8-hvObGftCn5p2zy-TEj6AY-JyxArOl6K6S-vdpLBAbr3dZgxzjIcXYKab2bt4SUBsihkKoo69WIcbsRF9AfIX0z6q0TjUeAli2WDqAQe/s1600/figueira+grande+na+muralha.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibpXVQlD_tQjtvedvuj9ig_hznb7D8-hvObGftCn5p2zy-TEj6AY-JyxArOl6K6S-vdpLBAbr3dZgxzjIcXYKab2bt4SUBsihkKoo69WIcbsRF9AfIX0z6q0TjUeAli2WDqAQe/s320/figueira+grande+na+muralha.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Não tenhas medo do sangue aberto<br />
do corpo enfeitado pelas balas<br />
<br />
**<br />
<br />
Quando a noite curva os ombros<br />
mergulhando-nos nas coisas<br />
apagando o espaço<br />
que busco no teu corpo<br />
porque me deito sobre o teu ventre<br />
<br />
Encosto o ouvido<br />
ao pulsar do seio<br />
queimamo-nos lentamente<br />
para acender o sol<br />
<br />
***<br />
<br />
Balouça as folhas rústica a varrer<br />
a terra verdes fazem de toalha<br />
cobrindo os frutos verdes quase roxos<br />
a barriga vermelha há milénios<br />
<br />
que serve o homem com seu verde mel<br />
mas Judas enforcou-se nos seus ramos<br />
e quando não deu fruto o próprio Cristo<br />
a declarou maldita o vento oeste<br />
<br />
dobrou-a sobre o barro descarnou-a<br />
esbarrondou-lhe o tronco as raízes<br />
fincaram-se na terra ladras de água<br />
<br />
curvada à maldição inclina os ramos<br />
desfaz-se em fruto embala preso à corda<br />
o cadáver de todos os malditos<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
António Borges Coelho, <em>Ao Rés da Terra</em>, Lisboa: Caminho, 2002, p.39, 60, 93. </div>
tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-7961532485107197622012-11-02T16:10:00.002+00:002012-11-02T16:10:42.443+00:00Breve antologia da poesia de Mia Couto<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbkstPNqcIVS5KX3G3jKBTdTo9gngqsUzDNp1t2o_mOE22bYZ5g1wpoHxCTcBBHc__vy0gkh3eIOC2LAl4JOElZLpQqQOKnYuRX2c4Jqa6xU3Qml7YGagCKJo7wscXUQIIGa8a/s1600/arte_arvore.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="234" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbkstPNqcIVS5KX3G3jKBTdTo9gngqsUzDNp1t2o_mOE22bYZ5g1wpoHxCTcBBHc__vy0gkh3eIOC2LAl4JOElZLpQqQOKnYuRX2c4Jqa6xU3Qml7YGagCKJo7wscXUQIIGa8a/s320/arte_arvore.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
Despedida<br />
<br />
<br />
Aves marinhas soltaram-se dos teus dedos<br />
quando anunciaste a despedida<br />
e eu que habitara lugares secretos<br />
e me embriagara com os teus gestos<br />
recolhi as palavras vagabundas<br />
como a tempestade que engole os barcos<br />
porque ama os pescadores<br />
<br />
Impossível separarmo-nos<br />
agora que gravaste o teu sabor<br />
sobre o súbito<br />
e infinito parto do tempo<br />
<br />
Por isso te toco<br />
no grão e na erva<br />
e na poeira da luz clara<br />
a minha mão<br />
reconhece a tua face de sal<br />
<br />
E quando o mundo suspira<br />
exausto<br />
e desfila entre mercados e ruas<br />
eu escuto sempre a voz que é tua<br />
e que dos lábios<br />
se desprende e se recolhe<br />
<br />
Ali onde se embriagam<br />
os corpos dos amantes<br />
o te ventre aceitou a gota inicial<br />
e um novo habitante<br />
enroscou-se no segredo da tua carne<br />
<br />
Nesse lugar<br />
encostámos os nossos lábios<br />
à funda circulação do sangue<br />
porque me amavas<br />
eu acreditava ser todos os homens<br />
comandar o sentido das coisas<br />
afogar poentes<br />
despertar séculos à frente<br />
e desenterrar o céu<br />
para com ele cobrir<br />
os teus seios de neve<br />
<br />
<br />
**<br />
<br />
Viagem<br />
<br />
<br />
O beijo da quilha<br />
na boca da água<br />
me vai trocando entre céu e mar,<br />
o azul de outro azul, <br />
enquanto <br />
na funda transparência<br />
sinto a vertigem<br />
da minha própria origem<br />
e nem sequer já sei<br />
que olhos são os meus<br />
e em que água<br />
se naufraga minha alma<br />
<br />
Se chorasse, agora,<br />
o mar inteiro<br />
me entraria pelos olhos<br />
<br />
<br />
***<br />
<br />
Mãe com criança no colo<br />
<br />
<br />
No lugar do corpo onde esperou<br />
sua vida frutificar<br />
vai agora afagando a imobilidade<br />
<br />
Aconchegando o menino morto<br />
ela prepara seu ventre<br />
para o inverso parto:<br />
da luz para o útero,<br />
da dor para o nada<br />
<br />
Pendentes,<br />
os seios<br />
imitam outonais folhas<br />
de mais imutável estação<br />
<br />
E só o chão se espanta<br />
por restar uma água<br />
para á tristeza<br />
dar o último redondo ventre<br />
<br />
<br />
****<br />
<br />
Companheiros<br />
<br />
quero escrever-me de homens<br />quero calçar-me de terra<br />quero ser<br />a estrada marinha<br />que prossegue depois do último caminho<br /><br />e quando ficar sem mim<br />não terei escrito<br />senão por vós<br />irmãos de um sonho<br />por vós<br />que não sereis derrotados<br /><br />deixo-vos<br />a paciência dos rios<br />a idade dos livros que não se desfolham<br /><br />mas não lego<br />mapa nem bússola<br />porque andei sempre<br />sobre meus pés<br />e doeu-me às vezes viver<br />
hei-de inventar<br />um verso que vos faça justiça<br /><br />por ora<br />basta-me o arco-íris<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbkstPNqcIVS5KX3G3jKBTdTo9gngqsUzDNp1t2o_mOE22bYZ5g1wpoHxCTcBBHc__vy0gkh3eIOC2LAl4JOElZLpQqQOKnYuRX2c4Jqa6xU3Qml7YGagCKJo7wscXUQIIGa8a/s1600/arte_arvore.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a> </div>
em que vos sonho<br />
basta-te saber que morreis demasiado<br />por viverdes de menos<br />mas que permaneceis sem preço<br /><br />companheiros<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
Mia Couto, <em>Raiz de Orvalho e Outros Poemas</em>, Lisboa: Caminho, 1999, p.23-4, 68, 70, 77-8</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Sono coloquial</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Da velhice<br />Sempre invejei<br />o adormecer<br />no meio da conversa.<br /><br />Esse
descer de pálpebra </div>
<div style="text-align: right;">
não é nemidade nem cansaço.<br /><br />Fazer da palavra um
embalo<br />é o mais puro e apurado</div>
<div style="text-align: right;">
senso da poesia.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
**</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
A Adiada Enchente</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Velho, não.<br />Entardecido, talvez.<br />Antigo, sim.<br /><br />Me tornei antigo<br />porque a vida,<br />tantas vezes, se demorou.<br />E eu a esperei<br />como um rio aguarda a cheia.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Gravidez de fúrias e cegueiras,</div>
<div style="text-align: right;">
os bichos perdendo o pé,</div>
<div style="text-align: right;">
eu perdendo as paalvras.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Simples espera</div>
<div style="text-align: right;">
daquilo que não se conhece</div>
<div style="text-align: right;">
e, quando se conhece,</div>
<div style="text-align: right;">
não se sabe o nome.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
***</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Doença</div>
<div style="text-align: right;">
<br />O médico serenou Juca Poeira. <br />Que ele já não padecia da doença<br />que ali trouxera em tempos.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
E o doutor disse o nome<br />da falecida enfermidade:<br />“Arritmia paroxística supra-ventricular”</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Juca escutou, em silêncio,<br />com pesar de quem recebe condenação.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
As mãos cruzadas no colo<br />diziam da resignada aceitação.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Por fim, venceu o pudor<br />e pediu ao médico<br />que lhe devolvesse a doença.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Que ele jamais tivera<br />nada tão belo em toda a sua vida.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
****</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Silvestre e o Idioma</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Silvestre quer saber<br />porque razão eu estrago o português<br />escrevendo palavras que nem há.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Não é a pessoa que escolhe a palavra.<br />É o inverso.<br />Isso eu podia ter respondido.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Mas não.<br />O tudo que disse foi:<br />é um crime passional, Silvestre.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
É que eu amo tanto a Vida<br />que ela não tem<br />cabimento em nenhum idioma.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Silvestre sorriu.<br />Afinal, também ele já cometera<br />o idêntico crime:<br />todas as mulheres que amara<br />ele as rebaptizara, vezes sem fim.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Amor se parece com a Vida:<br />ambos nascem na sede da palavra,<br />ambos morrem na palavra bebida.</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div align="left" style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Mia Couto, <em>Idades Cidades Divindades</em>, Lisboa: Caminho, 2007, p.14, 22, 48, 68-9.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Ignorâncias Paternas</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Altas horas,</div>
<div style="text-align: left;">
já secos cuspos e copos,</div>
<div style="text-align: left;">
meu pai dizia:</div>
<div style="text-align: left;">
<em>vou reparar o tecto</em>.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
E saía, para além da noite,</div>
<div style="text-align: left;">
por interditos caminhos. </div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Minha mãe</div>
<div style="text-align: left;">
retorcia a alma</div>
<div style="text-align: left;">
nas magras mãos.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
No peito, não no ventre,</div>
<div style="text-align: left;">
a mãe vai gerando filhos.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Por trás dos cortinados,</div>
<div style="text-align: left;">
seu olhar se desfiava</div>
<div style="text-align: left;">
no longo rosário da espera.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Cegos para as suas fadigas</div>
<div style="text-align: left;">
nós, os filhos,</div>
<div style="text-align: left;">
pedíamos que nos alonjasse o medo.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
E a vos dela acontecia</div>
<div style="text-align: left;">
como inundação do rio:</div>
<div style="text-align: left;">
lavando águas e tristezas.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Pobre do vosso pai, suspirava.</div>
<div style="text-align: left;">
Que pena ela dele sentia</div>
<div style="text-align: left;">
que, no escuro, em vão procurava.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
A nossa casa, de tão alta, </div>
<div style="text-align: left;">
não poderia nunca ter telhado.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Filhos deitados,</div>
<div style="text-align: left;">
medos dormindo:</div>
<div style="text-align: left;">
antes do meu pai regressar</div>
<div style="text-align: left;">
já minha mãe</div>
<div style="text-align: left;">
tinha reparado</div>
<div style="text-align: left;">
as telhas todas do mundo. </div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
**</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
A Coisa</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
O silêncio é o modo<br />como o marido habita a casa.<br /><br />Vencida a porta, ao final do dia,<br />o homem assume porte e posses.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
A mesa é onde os seus cotovelos<br />derramam milenares cansaços.<br /><br />Nesse cotovelório<br />vai trocando vida por idade.<br /><br />Partilha a medonhez dos bichos:<br />medo do silêncio,<br />mais pavor ainda das palavras.<br /><br />Para a mulher,<br />porém, ele não é senão um menino<br />no aguardo de um agrado.<br /><br />Em redor do silêncio<br />ele rodopia, sem voz, sem cheiro, sem rosto.<br /><br />Em solidão,<br />o homem come,<br />merecedor do que lhe é servido.<br /><br />Depois,<br />bebe como se fosse bebido,<br />tragado pelo vazio dos desertos.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Dono do seu despovoado,</div>
<div style="text-align: left;">
entao, ele a agride, com ferocidade de bicho.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
A mulher se estilhaça no soalho,</div>
<div style="text-align: left;">
sombrio retrato da parede tombado.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
No leito,</div>
<div style="text-align: left;">
já servido o marido,</div>
<div style="text-align: left;">
as lágrimas vão colando os seus fragmentos.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
E a esposa volta a ser coisa. </div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
***</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
A Casa</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Sei dos filhos<br />pelo modo como ocupam a casa:<br />uns buscam os recantos,<br />outros existem à janela.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
A uns satisfaz uma sombra,<br />a outros nem o mundo basta.<br />Uns batem com a porta,<br />outros hesitam como se não houvesse saída.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Raras vezes sou pai.<br />Sou sempre todos os meus filhos,<br />sou a mão indecisa no fecho,<br />sou a noite passada entre relógio e escuro.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Em mim ecoa a voz<br />que, à entrada, se anuncia: <em>cheguei</em>!<br />E eu sorrio, de resposta: chegou?<br />Mas se nunca ninguém partiu…</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
E tanto em mim<br />demoram as esperas<br />que me fui trocando por soalho<br />e me converti em sonolenta janela.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Agora, eu mesmo sou a casa,<br />casa infatigável casa<br />a que meus filhos<br />eternamente regressam. </div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
****</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: left;">
Sementeira</div>
<div style="text-align: left;">
<br />O poeta<br />faz agricultura às avessas:<br />numa única semente<br />planta a terra inteira.</div>
<div style="text-align: left;">
<br />Com lâmina de enxada<br />a palavra fere o tempo:<br />decepa o cordão umbilical<br />do que pode ser um chão nascente.</div>
<div style="text-align: left;">
<br />No final da lavoura<br />o poeta não tem conta para fechar:<br />ele só possui<br />o que não se pode colher.</div>
<div style="text-align: left;">
<br />Afinal,<br />não era a palavra que lhe faltava.</div>
<div style="text-align: left;">
<br />Era a vida que ele, nele, desconhecia.</div>
<div style="text-align: left;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Mia Couto, <em>Tradutor de Chuvas</em>, Lisboa: Caminho, p.10-1, 46-7, 60-1, 71.<br /></div>
tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-25078286872457037542012-11-02T12:15:00.001+00:002012-11-02T16:10:57.743+00:00duas perdas em outubroA poesia vai acabar<br />
<br />
A poesia vai acabar, os poetas <br />vão ser colocados em lugares mais úteis. <br />Por exemplo, observadores de pássaros <br />(enquanto os pássaros não <br />acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao <br />entrar numa repartição pública. <br />Um senhor míope atendia devagar <br />ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum <br />poeta por este senhor?» E a pergunta <br />afligiu-me tanto por dentro e por <br />fora da cabeça que tive que voltar a ler <br />toda a poesia desde o princípio do mundo. <br />Uma pergunta numa cabeça. <br />— Como uma coroa de espinhos: <br />estão todos a ver onde o autor quer chegar? —<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
Manuel António Pina, <em>Todas as Palavras</em>, Lisboa: Assírio & Alvim, 2012, p.38</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: center;">
***</div>
<div align="justify" style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Procurarei, tanto quanto possível, não fazer muita literatura, da qual me acho afastado há muitos anos, desde os meus tempos de Faculdade de Direito, quando cometi alguns poemas, reunindo-os em livro, dividido em duas partes, de sonetos parnasianos e poemas modernistas, que tive o bom senso de não publicar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não escrevo mais poesia, o meu amior prazer, vício mesmo, é a leitura, a que me entrego muitas vezes horas a fio, neste tempo sem fim de Duas Pontes; é o consolo de uma triste vida, no meu escritório, longe de Sofia.</div>
<div style="text-align: justify;">
Farei todo esforço possível para ser objetivo, eu que sou dado aos vôos das divagações desnecessárias. É preciso silenciar o coração, que acredita ter muito a dizer, e procurar a objetividade que devem ter as coisas escritas, mesmo quando se descrevem, estados delirantes - nestes casos, devemos parar, registro numa releitura que fiz dos meus primeiros cadernos. Mas não posso esquecer que muitas vezes consideramos teorização o que é apenas devaneio erradio de uma alma angustiada.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: right;">
Autran Dourado,<em> Confissões de Narciso</em>, Vila Nova de Famalicão: Quasi, 2003, p.14-15</div>
tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-79199570745685835292012-11-01T15:12:00.001+00:002012-11-01T15:14:57.535+00:003 poemas de Octavio Paz<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqPHrFmdkeO63Q-WKUslm3SeLYKiN1Fwz1cmOrXsOGMyZ8nVszSRE8sE-FF_kR2B-wH-xmNoSTwF7k1z9zba4xcPzNhUbWW8Q3Dg6jaE6fbVtJSHpSJt_KU9JT5O709GcmOv2B/s1600/uxmal-yucatan-mex129.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgqPHrFmdkeO63Q-WKUslm3SeLYKiN1Fwz1cmOrXsOGMyZ8nVszSRE8sE-FF_kR2B-wH-xmNoSTwF7k1z9zba4xcPzNhUbWW8Q3Dg6jaE6fbVtJSHpSJt_KU9JT5O709GcmOv2B/s320/uxmal-yucatan-mex129.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Em Uxmal (fragmentos)<br />
<br />
2. Meio-dia<br />
<br />
A luz não pestaneja<br />
o tempo esvazia-se de minutos,<br />
um pássaro deteve-se no ar.<br />
<br />
3. Mais tarde<br />
<br />
A luz despenha-se,<br />
as colunas acordam<br />
e, sem se moverem, dançam.<br />
<br />
4. Sol pleno<br />
<br />
A hora é transparente:<br />
se o pássaro é invisível, vemos<br />
a cor do seu canto.<br />
<br />
**<br />
<br />
Nos jardins dos Lodi<br />
<br />
No azul unânime<br />
as cúpulas dos mausoléus<br />
- negras. concentradas, pensativas - <br />
rebentam subitamente<br />
em pássaros<br />
<br />
***<br />
<br />
Aldeia<br />
<br />
As pedras são tempo<br />
O vento<br />
séculos de vento<br />
As árvores são tempo<br />
as pessoas são pedras<br />
O vento<br />
volta-se sobre si mesmo e enterra-se<br />
no dia de pedra<br />
<br />
Não há água mas os olhos brilham<br />
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<em>Antologia Poética</em>, Octavio Paz, Lisboa: D. Quixote, 1998: 46-7, 87, 98.</div>
tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-25514106839488786452012-11-01T14:45:00.000+00:002012-11-02T07:52:43.673+00:004 poemas de Tomas Tranströmer<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5DSPXzr206xBUj8G_XywEyo9cGGu8SUIvHqxnHH6SiiP-RAqHV_K3H9cwCM3Eiy_SD1uy9rwmmXEWghx2Lahp5tnO5nKRYhME0NFjotdB8GEJqNtScW27VFL6t6IWFcovFua3/s1600/542698_293903004013143_1539442278_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5DSPXzr206xBUj8G_XywEyo9cGGu8SUIvHqxnHH6SiiP-RAqHV_K3H9cwCM3Eiy_SD1uy9rwmmXEWghx2Lahp5tnO5nKRYhME0NFjotdB8GEJqNtScW27VFL6t6IWFcovFua3/s320/542698_293903004013143_1539442278_n.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Bilhete-Postal Negro<br />
<br />
I<br />
Calendário repleto de compromissos, futuro incerto.<br />
O rádio trauteia uma canção popular sem nacionalidade.<br />
Cai neve no mar totalmente gelado. Vultos<br />
acotovelam-se no cais.<br />
<br />
II<br />
Acontece, a meio da vida, a morte bater-nos à porta<br />
e tomar-nos as medidas. Essa visita é esquecida,<br />
e a vida continua. O fato, porém, esse<br />
é cosido em silêncio.<br />
<br />
**<br />
<br />
Segredos pelo Caminho<br />
<br />
A luz do dia bateu no rosto de alguém que dormia.<br />
E esse alguém teve um sonho com mais vivacidade,<br />
ainda que sem acordar.<br />
<br />
As trevas bateram na cara de alguém que ia andar<br />
entre a multidão, sob os raios<br />
impacientes e fortes do sol.<br />
<br />
De repente escureceu, como quando cai uma bátega.<br />
Eu encontrava-me num quarto com espaço patra todos os instantes - <br />
a sala de um museu de borboletas.<br />
<br />
Ali, porém, o sol brilhava tão intensamente como antes.<br />
Os seus pincéis impacientes davam cor ao mundo. <br />
<br />
***<br />
<br />
Abril e o Silêncio<br />
<br />
A primavera mostra-se deserta.<br />
A valeta, de um escuro aveludado,<br />
rasteja ao meu lado<br />
sem reflexos.<br />
<br />
A única coisa que brilha<br />
é o amarelo de flores.<br />
<br />
Sou levado na minha sombra<br />
como um violino<br />
no seu estojo negro.<br />
<br />
O que quero dizer<br />
tremeluz fora do meu alcance<br />
como prata<br />
em montra de casa de penhores.<br />
<br />
****<br />
<br />
Retrato de Mulher - Século XIX<br />
<br />
A sua voz é sufocada pelo vestido. O seu olhar<br />
segue o gladiador. Depois, ela própria<br />
está na arena. É uma mulher livre? Um moldura dourada<br />
estrangula o retrato.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<em>50 Poemas</em>, Tomas Tranströmer, Lisboa, Relógio D’Água, 2012: p. 17, 25, 47, 109. </div>
tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-65256841589962848652012-10-31T17:57:00.001+00:002012-11-02T15:24:02.492+00:00Desafio 12:10<div style="text-align: justify;">
Outubro<em>,</em> os dias longos começama ficar mais pequenos, mas isso é só em luz, que em casa o tempo é o mesmo!<em> Reaper</em> - ideia interessante, com gente de bem, a lembrar o <em>Chuck</em> - valeu a pena desenterrar isto! Mergulho na devassidão, luxúria, corrupção e genialidade da família Borgia, em <em>The Borgias</em>. E tempo ainda para ressuscitar <em>FlashForward</em> - que parte de uma ideia interessante, com personagens e atores muito bons, mas que se perde em qualquer coisa... e foi pena ter sido cancelada. </div>
<br />
livros:<br />
<br />
98. <em>Se fosse fácil era para os outros</em>, Rui Cardoso Martins, D. Quixote, 246p.****<br />
99. <em>No silêncio de Deus</em>, Patrícia Reis, D. Quixote, 260p.****(*)<br />
100. <em>O livro dos prazeres inúteis</em>, Tom Hodgkinson e Dan Kieran, Quetzal, 176p.*****<br />
101. <em>O Último Livro</em>, Zoran Živković, Cavalo de Ferro, 240p.*****<br />
102. <em>O Último Leitor</em>, David Toscana, Oficina do Livro, 216p.*****<br />
103. <em>Peito Grande, Ancas Largas</em>, Mo Yan, Ulisseia, 604p.****(*)<br />
104. <em>Raiz de Orvalho e Outros Poemas</em>, Mia Couto, Caminho, 92p.****<br />
105. <em>Idades Cidades Divindades</em>, Mia Couto, Caminho, 126p.****<br />
106. <em>Tradutor de Chuvas</em>, Mia Couto, Caminho, 120p.****<br />
107. <em>Ualalapi</em>, Ungulani Ba Ka Khosa, Caminho, 130p.*****<br />
108. <em><a href="http://tulisses.blogspot.pt/2012/11/4-poemas-de-tomas-transtromer.html">50 Poemas</a></em>, Tomas Tranströmer, Relógio D’Água, 144p.****<br />
109. <em><a href="http://tulisses.blogspot.pt/2012/10/ja-ha-em-livro-depois-do-blogue-que.html">A Livreira Anarquista</a></em>, Bertrand, 152p.*****<br />
110. <em><a href="http://tulisses.blogspot.pt/2012/11/4-poemas-de-octavio-paz.html">Antologia Poética</a></em>, Octavio Paz, D. Quixote, 132p.***<br />
111. <em>Os Indiferentes</em>, Alberto Moravia, Público/Mil Folhas, 288p.****(*)<br />
<br />
<br />
Filmes:<br />
<br />
251. <em>Young People Fucking</em>, Martin Gero***(*)<br />
252. <em>El Mar</em>, Agustí Villaronga****(*)<br />
253. <em>We need to talk about Kevin</em>, Lynne Ramsay*****<br />
254. <em>A little bit of Heaven</em>, Nicole Kassell****(*)<br />
255. <em>Christopher and his kind</em>, Geoffrey Sax*****<br />
256. <em>Prometheus</em>, Ridley Scott***(*)<br />
257. <em>Ronal Barbaren</em>, Kresten Vestjerg Andersen (...)****(*)<br />
258. <em>Zodiac</em>, David Fincher****<br />
259. <em>Les bien-aimés</em>, Christophe Honoré****(*)<br />
260. <em>The Avengers</em>, Joss Whedon*****<br />
261. <em>That thing we do,</em> Andrew Hull***<br />
262. <em>Moonrise Kingdom</em>, Wes Anderson*****<br />
263. <em>360</em>, Fernando Meirelles***<br />
264. <em>Friends with benefits</em>, Will Gluck***(*)<br />
265. <em>Le Gamin au vélo</em>, Jean-Pierre Dardenne (..)****<br />
266. <em>Exit Humanity</em>, John Geddes**(*)<br />
267. <em>Hot tub machine</em>, Steve Pink***<br />
268. <em>Zambezia</em>, Wayne Thornley***(*)<br />
269. <em>To Rome with Love</em>, Woody Allen****<br />
270. <em>Birdsong</em>, Philip Martin****(*)<br />
271. <em>Evening</em>, Lajos Koltai****(*)<br />
272. <em>Mientras duermes</em>, Jaume Balagueró****<br />
273. <em>La cara oculta</em>, Andrés Baiz****<br />
274. <em>Les adieux à la reine</em>, Benoît Jacquot****(*)<br />
275. <em>Elles</em>, Malgorzata Szumowska****<br />
276. <em>Cosmopolis</em>, David Cronenberg**(*)<br />
277. <em>A Fantastic fear of everything</em>, Crispian Mills (...)***(*)<br />
278. <em>Sur la piste du Marsupilami</em>, Alain Chabat*****<br />
279. <em>Astérix et Obélix: au service de Sa Majasté</em>, Laurent Tirard****(*)<br />
280. <em>Magic Mike</em>, Steven Soderberg***<br />
281. <em>Martha Marcy May Marlene</em>, Sean Durkin***(*)<br />
282. <em>Columbus Circle</em>, George Gallo***<br />
283. <em>Madagascar 3: Europe's most wanted</em>, Eric Darwell (..)*****<br />
284. <em>The wolfman</em>, Joe Johnston***<br />
285. <em>The Mill and the Cross</em>, Lech Majewski****<br />
286. <em>Oslo, 31. august</em>, Joachim Trier****(*)<br />
287. <em>La délicatesse</em>, David e Stéphane Foenkinos*****<br />
288. <em>Ensemble, c'est tout</em>, Claude Barri*****<br />
289. <em>Joyeux Nöel</em>, Christian Carion*****<br />
290. <em>Une vie meilleure</em>, Cédric Kahn*****<br />
291. <em>Dictado</em>, Antonio Chavarrías**(*)<br />
292. <em>Young Adult</em>, Jason Reitman****(*)<br />
293. <em>Italiensk for begyndere</em>, Lone Scherfig****(*)<br />
294. <em>Intruders</em>, Juan Carlos Fresnadillo****<br />
295. <em>The Tall Man</em>, Pascal Laugier****tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-988267662644038962012-10-25T12:56:00.001+01:002012-10-25T13:15:24.275+01:00A Livreira Anarquista<span class="userContent">Já há em livro (depois do blogue, que continua) e já o li: «A Livreira Anarquista». De rir com as parvoices dos «fregueses» e os comentários da funcionária ;)</span><br />
<span class="userContent"></span><br />
<span class="userContent"></span><br />
<span class="userContent">um exemplo (p.90-91):</span><br />
<span class="userContent"></span><br />
<span class="userContent"></span><br />
<span class="userContent"></span><br />
<span class="userContent"></span><br />
<span class="userContent"><h3>
ADIVINHA:</h3>
<div class="text">
Qual é o titulo do livro de Jorge Amado: ”<span style="font-size: x-small;">O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá</span>”?<br />
<ul>
<li>O Gato Molhado e a Andorinha Sinhã?</li>
<li>O Gato Malhado e a Andorinha Simá?</li>
<li>O Gato Marado e a Andorinha?</li>
<li>O Gato Espalmado e a Andorinha Sinhá?</li>
<li>O Gato Fedorento e a Andorinha Sinhá?</li>
<li>O Gato Malhado e a Andorinha Assanhada?</li>
<li>O Gato Manhoso e a Andorinha?</li>
<li>O Gato Falhado e a Andorinha Dele?</li>
<li>Os Livros da Andorinha Sinhá?</li>
<li>O Gato Miau e a Andorinha Cinha?</li>
<li>O Gato Malvado e a Andorinha Mimi?</li>
<li>O Gato Malhado e a Andorinha Sei Lá?</li>
<li>O Gato Parolo e a Andorinha Sinhá?</li>
<li>O Gato das Botas e a Andorinha Sinhá?</li>
<li>O Gato Malhado e a Andorinhazinha?</li>
<li>O Gato Malhado e a Andorinha Sisi?</li>
<li>O Gato Mamado e a Andorinha Sinhá?</li>
</ul>
E a tacada final:<br />
<span style="font-size: x-small;">Freguês</span>: Tem o “Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”?<br />
<span style="font-size: x-small;">Livreira Anarquista: </span>(Muito ingénua, a pensar: «wooow…não posso crer…alguém resolveu este grande enigma!») Não, de momento não temos, vendemos todos…<br />
<span style="font-size: x-small;">Freguês</span>: Mas…não tem nenhum dos dois?<br />
E assim se destroem utopias.<br />
<br />
<br />
também podem consultar <a href="http://livreiranarquista.tumblr.com/post/3116245870">aqui</a>. vale bem a pena!</div>
</span><br />tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-30724655476725166982012-10-19T12:43:00.000+01:002012-10-25T13:15:16.305+01:00Galego, dia 1.<span class="userContent"><div class="text_exposed_root text_exposed" style="text-align: justify;">
<br /> <span class="userContent">«O que em Portugal é dialectal é padrão na Galiza. E o que é dialectal na Galiza é padrão em Portugal». </span></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="text-align: justify;">
<span class="userContent"></span> </div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="text-align: justify;">
<br /> A UM é uma confusão e pronto. Cheguei mais do que a tempo, mas não havia maneira de encontrar a sala. Encontrei antes uma ex-aluna ;) Afinal, a sala indicada era «proibida» para os simples mortais... era uma sala de arrumações. Voltas e mais voltas, até me decidir ir ao <a href="http://www3.ilch.uminho.pt/babelium/index.php">Babelium</a> e lá me disseram para procurar o «Gabinete de Gestão do Complexo Pedagógico I». Medo. Lá descobri a sala, tinha sido erro e arranjaram uma à pressa. <br /> <br /> O grupinho parece simpático. Trabalhei mais com um rapaz que estuda Matemática e Computação. Sim, sou o único de Letras, pelo que percebi, o que pode vir a ser interessante. A formadora é... espetacular. Quase in love, claro. <br /> <br /> Aprendemos a escrever em cinco minutos, a falar em dez. Muita eficiência. Ahahah. Obrigado, curso feito. Pois sim... <br /> <br /> E pronto, deixo-vos uns versinhos de minha autoria, com as palavras de hoje, a assinalar a ocasião: <br /> <br /> «unha bágoa se solta sobre a morriña<br /> cando un bico me toca o corazón»</div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/MQ7eoa-JX34?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Diz a Lídia para ouvir os Luar na Lubre e diz muito bem. Enviou-me estes dois, mas há mais no youtube. A ver se, com tempo, os vou conhecer melhor. </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
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</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/vRNmYdK4tEw?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/7z8vZIb8Uik?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
p.s. - Todo eu me sinto galego, hoje. já ia para Santiago comer feuchos sentado nas escadas laterais da catedral!</div>
</span><div style="text-align: justify;">
<br /></div>
tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-18079872307038591852012-09-30T21:08:00.000+01:002012-10-25T13:15:05.944+01:00Desafio 12:9Súmula do que me ocupou este mês - entre as decisões académicas, também - e as cinco temporadas de <em>Big Bang Theory</em> (adoro profundamente!) e as duas de <em>Queer as Folk</em> (versão britânica). <br />
<br />
Livros:<br />
<br />
86. <em>O Sorriso Etrusco</em>, José Luis Sampedro, Martins Fontes, 364p.*****<br />
87. <em>Obra Poética</em>, Rui Knopfli, IN-CM, 544p. *****<br />
88. <em>Vasto Mar de Sargaços</em>, Jean Rhys, Biblioteca Sábado, 180p.***(*) <br />
89. <em>Veneza. Percursos com Corto Maltese</em>, Hugo Pratt, Guido Fuga, Lete Vianello, Asa/Público, 160p.*****<br />
90. <em>A Varanda do Frangipani</em>, Mia Couto, Caminho, 154p.*****<br />
91. <em>Vinte e Zinco</em>, Mia Couto, Caminho, 104p.*****<br />
92. <em>Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra</em>, Mia Couto, Caminho, 262p.*****<br />
93. <em>A Confissão da Leoa</em>, Mia Couto, Caminho, 270p.****(*)<br />
94. <em>Primeiro Livro de Poesia</em>, Sophia de Mello Breyner Andresen, Caminho, 188p.*****<br />
95. <em>Roma. Percursos com Alix</em>, Thérèse de Chérisey, Jacques Martin, Gilles Chaillet e Enrico Sallustio, Asa/Público, 160p.***** <br />
96. <em>Sobre o amor e a morte</em>, Patrick Süskind, Presença, 64p.*****<br />
97. <em>O Prazer da Leitura</em> (2012), V.V.A.A., Teodolito/Fnac, 150p.****(*)<br />
<br />
Filmes:<br />
<br />
196.<em>The Cabin in the Woods</em>, Drew Goddard***(*)<br />
197. <em>The Hunger Games</em>, Gary Ross****(*)<br />
198. <em>ATM</em>, David Brooks**(*)<br />
199. <em>The Dictator</em>, Larru Charles**(*)<br />
200. <em>Dark Shadows</em>, Tim Burton***(*)<br />
201. <em>La nouvelle guerre des boutons</em>, Christophe Barratier*****<br />
202.<em> Memoria de mis putas tristes</em>, Henning Carlses***<br />
203. <em>Mentiras Y Gordas</em>, Alfonso Albacete e David Menkes**(*)<br />
204. <em>The Lorax</em>, Chris Renaud, Kyle Balda****<br />
205. <em>Snow White and the Huntsman</em>, Rupert Sanders***(*)<br />
206. <em>Silent House</em>, Chris Kentin, Laura Lau***<br />
207. <em>Life of Brian</em>, Terry Jones*****<br />
208. <em>The Divide</em>, Xavier Gens**(*)<br />
209. <em>La Princesse de Montpensier</em>, Bertrans Tavernier****<br />
210. <em>Puncture</em>, Adam Kassen, Mark Kassen***<br />
211. <em>Cowboys & Aliens</em>, Jon Favreau***<br />
212. <em>Truth or Dare</em>, Robert Heath***<br />
213. <em>The Deep Blue Sea</em>, Terence Davies***(*)<br />
214. <em>Ne te retourne pas</em>, Marina de Van****<br />
215. <em>The Raven</em>, James McTeigue***(*)<br />
216. <em>Resident Evil</em>, Paul W. S. Anderson****<br />
217. <em>Resident Evil 3 - Extinction,</em> Russel Mulcahy****(*)<br />
218. <em>Resident Evil 4 - Afterlife</em>, Paul W. S. Anderson***(*)<br />
219. <em>The Guard</em>, John Michael McDouglas***(*)<br />
220. <em>American Pie Presentes The Naked Mile</em>, Joe Nussbaum**(*)<br />
221. <em>Amercian Pie Presentes: The Book of Love</em>, John Putch**(*)<br />
222. <em>Stone</em>, John Curran***<br />
223. <em>The Eye of the Storm</em>, Fred Schepisi***<br />
224. <em>La grande bouffé</em>, Marco Ferreri*(*)<br />
225. <em>Akmareul boatda</em>, Jee-woom Kim***<br />
226. <em>17 Again</em>, Burr Steers***<br />
227. <em>Les infidèles</em>, Emmanuelle Bercot (entre outros)****<br />
228. <em>The Thing</em>, Matthijs van Heijningen Jr.***<br />
229. <em>Age of Dragons</em>, Ryan Little**<br />
230. <em>The Oxford Murders</em>, Álex de la Iglesia****(*)<br />
231. <em>Star Wars: Edpisode I - The Phantom Menace</em>, George Lucas***(*)<br />
232. <em>Star Wars: Episode II - Attack of the Clones</em>, George Lucas***<br />
233. <em>Star Wars: Episode III - Revenge of the Sith</em>, George Lucas****<br />
234. <em>Star Wars: Episode IV - A New Hope</em>, George Lucas****<br />
235. <em>Star Wars: Episode V - The Empire Strikes Back</em>, Irvin Kershner****<br />
236. <em>Star Wars: Episode VI - Retunr of the Jedi</em>, Richar Marquand*****<br />
237. <em>Star Trek</em>, J. J. Abrams***(*)<br />
238. <em>Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull</em>, Steven Spielberg****<br />
239. <em>The Last King of Scotland</em>, Kevin Macdonald*****<br />
240. <em>One for the Money</em>, Julie Anne Robinson***(*)<br />
241. <em>Quo Vadis</em>, Mervyn LeRoy*****<br />
242. <em>28 Days Later</em>, Danny Boyle****(*)<br />
243. <em>28 Weeks Later</em>, Juan Carlos Fresnadillo****(*)<br />
244. <em>Monty Python and the Holy Grail</em>, Terry Gilliam, Terry Jones*****<br />
245. <em>The Meaning of Life</em>, Terry Jones*****<br />
246. <em>Holy Flying Circus</em>, Owen Harris****<br />
247. <em>Original Sin</em>. Michael Cristofer***(*)<br />
248. <em>La femme du Vème</em>, Pawel Pawlikawski**(*)<br />
249. <em>John Carter</em>, Andrew Stanton***<br />
250. <em>Le Moine</em>, Dominic Moll***tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-80498164153162896912012-09-10T21:06:00.002+01:002012-09-10T21:08:10.777+01:00O Último Adeus, António<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/Q26O0TczJto?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/0b4Ruo8-kWk?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />
<br />
pois que o tempo nos dobrou e agora sou eu quem parte...tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-81826037815053440952012-08-31T23:18:00.001+01:002012-09-03T20:18:12.881+01:00Desafio 12:8<div style="text-align: justify;">
Ainda a refazer-me da maleita, um mês demasiado relaxado... Conclusão dos Jogos Olímpicos (que fui acompanhando), o Casamento da Liliana, o concerto dos Monte Lunai no Theatro Circo (ou antes, ao lado do teatro, ao ar livre, com danças e tudo!), a agradável série <em>Camelot</em> (Eva Green, Joseph Finnes e Peter Mooney impecáveis), a fantástica produção da BBC <em>The Line of Beauty</em>, que revi já não me lembrando muito bem da história protagonizada por Dan Stevens e Hayley Atwell, e a grande surpresa que foi <em>Once Upon a Time</em>, uma série de vinte e dois episódios que me prendeu de tal maneira que vi tudo em três dias... Jennifer Morrison, Giniffer Goodwin, Josh Dallas, Eion Bailey a desempenhar algumas das personagens favoritas: contos de fadas revistos, às vezes bem mais coerentes que os que conhecemos, cujas personagens se encontram amaldiçoadas numa cidade de onde não podem sair e onde vivem sem se lembrarem quem são. Muitos livros e muitos filmes, também, como é costume:</div>
<br />
<br />
livros:<br />
<br />
72. <em>O Prisioneiro do Céu</em>, Carlos Ruiz Zafón, Planeta, 400p.*****<br />
73. <em>Resumo. a poesia em 2011</em>, Vários, Assírio & Alvim-Documenta, 192p.****(*) <br />
74. <em>O Conhecimento da Dor</em>, Carlo Emílio Gadda, Ulisseia, 180p.***<br />
75. <em>Contos</em>, Franz Kafka, Relógio D’Água, 90p.****<br />
76. <em>O Outono em Pequim</em>, Boris Vian, Público/Mil Folhas, 256p.****(*)<br />
77. <em>Havia</em>, Joana Bértholo, Caminho, 168p.*****<br />
78. <em>Embaixada a Calígula</em>, Agustina Bessa-Luís, Guimarães Editores, 376p.****(*)<br />
79. <em>As Suplicantes</em>, Ésquilo, CECH-FESTEA, 92p.****<br />
80. <em>A Sogra</em>, Terêncio, CECH-FESTEA, 132p.***(*)<br />
81. <em>Persa</em>, Plauto, Verbo, 128p.***<br />
82. <em>Bucólicas</em>, Calpúrnio Sículo, Verbo, 144p.**(*)<br />
83. <em>Enciclopédia da Estória Universal. Recolha de Alexandria</em>, Afonso Cruz, Alfaguara, 114p.*****<br />
84. <em>Água, cão, cavalo, cabeça</em>, Gonçalo M. Tavares, Caminho, 96p.**<br />
85. <em>O Museu da Rendição Incondicional</em>, Dubravka Ugerešić, Cavalo de Ferro, 352p.*****<br />
<br />
<br />
filmes:<br />
<br />
161. <em>Pa Negre</em>, Agustí Villaronga*****<br />
162. <em>Der Untergang</em>, Oliver Hirschbiegel****(*)<br />
163. <em>Five Minutes of Heaven</em>, Oliver Hirschbiegel, ****(*)<br />
164. <em>O Brother, Where Art Thou?,</em> Joel Cohen*****<br />
165. <em>The Prince and the Showgirl</em>, Laurence Olivier****(*)<br />
166. <em>Faubourg 36</em>, Christophe Berratier*****<br />
167.<em> L'Autre Monde</em>, Gilles Marchand***<br />
168. <em>Gegen die Wand</em>, Fatih Akim****(*)<br />
169. <em>Magnolia</em>, Paul Thomas Anderson*****<br />
170. <em>There Be Dragons</em>, Roland Joffé****(*)<br />
171. <em>Odete</em>, João Pedro Rodrigues**(*)<br />
172. <em>Rec3 Génesis</em>, Paco Plaza****<br />
173. <em>Slutty Summer</em>, Caspar Andreas**<br />
174. <em>Les Égarés</em>, André Téchiné****(*)<br />
175. <em>Knocked Up</em>, Judd Apatow****<br />
176.<em> Los Ojos de Julia</em>, Guillem Morales***(*)<br />
177. <em>Dancer in The Dark</em>, Lars Von Trier*****<br />
178. <em>Once</em>, John Carney*****<br />
179. <em>Q</em>., Laurent Bouhnik**<br />
180. <em>The Pirates! Band of Misfits</em>, Peter Lord, Jeff Newitt****(*)<br />
181. <em>Fish Tank</em>, Andrea Arnold****<br />
182. <em>Grande École</em>, Robert Salis****<br />
183. <em>I am Sam</em>, Jessie Nelson*****<br />
184. <em>La Haine</em>, Mathieu Kassovitz****<br />
185. <em>You will meet a tall dark stranger</em>, Woody Allen****(*)<br />
186. <em>Cassandra's Dream</em>, Woody Allen*****<br />
187. <em>De Battre mon Coeur s'est Arrêté</em>, Jacques Audiard****(*)<br />
188. <em>The Shrine</em>, Jon Knautz***<br />
189. <em>A Soldier's Choice</em>, Adrian Benjamin Burke***<br />
190. <em>Shi</em>, Chang-dong Lee*****<br />
191. <em>eCupid</em>, J. C. Calciano****<br />
192. <em>História Trágica com Final Feliz</em>, Regina Pessoa***<br />
193. <em>The Best Exotic Marigold Hotel</em>, John Madden*****<br />
194. <em>The Houseboy</em>, Spencer Schilly***(*)<br />
195. <em>Sangue do meu Sangue</em>, João Canijo***(*)<br />
<br />tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-59660569558675663512012-08-23T18:10:00.000+01:002012-08-23T18:18:38.220+01:0090 Anos, 90 Palavras<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3nyGgME7M_yx77bbWG286XhV5vu9pztRrdqm_yv7_QM3FFnOVs7trANW_A6Mop7CgxkLKF5Iydl1Ie2_6UDG0F9B_F-GWTmIZa9BWVRpm6aLg1LtXFGYKgubcUminS1SCgwW0/s1600/a-casa-de-jose-saramago.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="238" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3nyGgME7M_yx77bbWG286XhV5vu9pztRrdqm_yv7_QM3FFnOVs7trANW_A6Mop7CgxkLKF5Iydl1Ie2_6UDG0F9B_F-GWTmIZa9BWVRpm6aLg1LtXFGYKgubcUminS1SCgwW0/s320/a-casa-de-jose-saramago.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Celebrando Saramago, como sempre deve ser, a Fundação a que dá nome pede que os seus leitores escolham uma palavra que relacionem com o autor e que a comentem. Eu fui o quinto a ser publicado, cá fica o textinho. Também podem ler <a href="http://josesaramago.org/tag/90+anos">aqui</a>, o sítio original. <br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: "Tahoma","sans-serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Casa<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: "Tahoma","sans-serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Os livros que nos deixou são casas com
as janelas abertas onde deu ao mundo as histórias de que mais fazia caso.
Podemos ficar nelas, ir aos seus jardins, percorrer os caminhos que nos levam
até elas. <span style="display: none; mso-hide: all;">oncedido o maior galardão
literário da língua portuguesa, um cão assustou tanto uma vizinha que ela
gritou a pedir ajuda. Os que estávamos em asa saímos para a rua e vimos que o
animal feroz era um cachorro assustado com o susto da mulher. O animal entrou
pela porta aberta do jardim, mexendo sem jeito as pernas, um pouco desajeitado,
feliz por ninguém o maltratar. Quando Saramago apareceu a anunciar que tinha
recebido o Prémio Camões, soubemos, soubemo-lo nesse instante, que o cão que
tinha encontrado a sua casa não ia ter outro nome que o do grande poeta
português. E assim, pelo menos em Lanzarote, Camões foi mencionado centenas de
vezes por dia, foi vida e foi homenagem. E este cão doce e nobre, que nunca
aprendeu a comer devagar porque até chegar à Casa tinha tido que lutar contra a
fome e o abandono, com a sua gravata branca desenhada no pelo negro, que foi o
modelo para “O Achado” d' A Caverna, um cão que, como todos os cães que
Saramago inventa, é a melhor resposta animal à melhor consciência humana,
morreu com todos os seus anos e sempre amado.<br />
<br />
Quando o cão chamado Camões regressou a casa depois da morte de José Saramago,
não conseguiu aceitar a ausência. Esteve inquieto durante o dia, mas quando
chegou a noite e não viu o dono nem na cama nem no sofá que ocupava
habitualmente, quando uma e mil vezes percorreu o espaço entre os dois quartos,
quando percebeu que o dono já não estava nem ia estar, que isso é a morte,
uivou, gritou, rasgou-se numa dor que arranha a alma só de descrevê-la. Não
bastaram abraços para consolá-lo, nem palavras carinhosas: ia e vinha de um
lugar para outro, numa correria que partia o coração, gemia com uma dor humana.
Por isso, um amigo que estava lá em casa e ali passou a noite, intitulou no dia
seguinte a sua coluna jornalística: “Camões chora por Saramago”.<br />
<br />
Saramago já não poderá chorar por Camões, agora que morreu tão docemente como
viveu, tão honestamente animal que apetece aprender com a sua forma de estar na
vida. Ou talvez, sem chorar, se encontrem na sensibilidade criada que nada nem
ninguém pode destruir, porque tanta vida partilhada, e em companhia tão amável,
não pode perder-se. Estão por aí, em livros e memórias, em corações que não se
rendem, José Saramago com os seus três cães, Pepe, Greta e Camões, pondo beleza
no mundo, imortais na vivência pessoal dos que sabem ver e também sentir.<br />
<br />
Pilar del Río<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="color: #333333; font-family: "Tahoma","sans-serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><o:p> </o:p></span><span style="color: #333333; font-family: "Tahoma","sans-serif"; font-size: 12pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Casas tão diferentes, seja o barco ou a
mulher do homem que queria um barco, seja a Lisboa do revisor Raimundo Silva ou
a que o cão Achado encontrou em Cipriano e Marta - e aquela Casa onde viveu
permanece e atrai, porque «olharem-se era a casa de ambos», diz de Baltasar e
Blimunda. <span style="display: none; mso-hide: all;">oncedido o maior galardão literário
da língua portuguesa, um cão assustou tanto uma vizinha que ela gritou a pedir
ajuda. Os que estávamos em asa saímos para a rua e vimos que o animal feroz era
um cachorro assustado com o susto da mulher. O animal entrou pela porta aberta
do jardim, mexendo sem jeito as pernas, um pouco desajeitado, feliz por ninguém
o maltratar. Quando Saramago apareceu a anunciar que tinha recebido o Prémio
Camões, soubemos, soubemo-lo nesse instante, que o cão que tinha encontrado a
sua casa não ia ter outro nome que o do grande poeta português. E assim, pelo
menos em Lanzarote, Camões foi mencionado centenas de vezes por dia, foi vida e
foi homenagem. E este cão doce e nobre, que nunca aprendeu a comer devagar
porque até chegar à Casa tinha tido que lutar contra a fome e o abandono, com a
sua gravata branca desenhada no pelo negro, que foi o modelo para “O Achado” d'
A Caverna, um cão que, como todos os cães que Saramago inventa, é a melhor
resposta animal à melhor consciência humana, morreu com todos os seus anos e
sempre amado.<br />
<br />
Quando o cão chamado Camões regressou a casa depois da morte de José Saramago,
não conseguiu aceitar a ausência. Esteve inquieto durante o dia, mas quando
chegou a noite e não viu o dono nem na cama nem no sofá que ocupava
habitualmente, quando uma e mil vezes percorreu o espaço entre os dois quartos,
quando percebeu que o dono já não estava nem ia estar, que isso é a morte,
uivou, gritou, rasgou-se numa dor que arranha a alma só de descrevê-la. Não
bastaram abraços para consolá-lo, nem palavras carinhosas: ia e vinha de um
lugar para outro, numa correria que partia o coração, gemia com uma dor humana.
Por isso, um amigo que estava lá em casa e ali passou a noite, intitulou no dia
seguinte a sua coluna jornalística: “Camões chora por Saramago”.<br />
<br />
Saramago já não poderá chorar por Camões, agora que morreu tão docemente como
viveu, tão honestamente animal que apetece aprender com a sua forma de estar na
vida. Ou talvez, sem chorar, se encontrem na sensibilidade criada que nada nem
ninguém pode destruir, porque tanta vida partilhada, e em companhia tão amável,
não pode perder-se. Estão por aí, em livros e memórias, em corações que não se
rendem, José Saramago com os seus três cães, Pepe, Greta e Camões, pondo beleza
no mundo, imortais na vivência pessoal dos que sabem ver e também sentir.<br />
<br />
Pilar del Río</span><o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="color: #333333; font-family: "Tahoma","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Saramago fica-nos como
uma casa onde habita a língua portuguesa em restauro em face a um mundo que
precisa de conserto.</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-28608913827528751342012-08-02T16:15:00.001+01:002012-08-02T16:15:16.303+01:00novo visualacompanhando as mudanças do meu próprio visual e vida em vários aspetos (só me falta mesmo a pala à Camões...) - uma mudança no aspeto do blogue, mais leve, mais claro, mais fresco.tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-50274307921066647132012-07-31T19:53:00.000+01:002012-09-21T20:06:18.546+01:00Desafio 12:7<div style="text-align: justify;">
Além da excelente minissérie <em><a href="http://www.imdb.com/title/tt1475582/">Sherlock</a></em>, de que vi agora a segunda temporada (três episódios cada, mas de hora e meia cada e muito bem feitos, com os geniais Martin Freeman e Benedict Cumberbatch a liderar o elenco), deixo abaixo outras sugestões em mês estranho, marcado sobretudo pela uvéite que me condicionou bastante, mas também o calor e a correção de exames - enfim, mais poesia e filmes, porque a primeira não exige tanto do olho como a prosa, e os segundos porque não exigem tanto como os filmes. reflexão breve sobre o Mimarte, que felizmente foi ainda antes da doença!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
livros:<br />
<br />
66. <em><a href="http://www.tulisses.blogspot.pt/2012/07/dois-poemas-de-antonio-candido-franco_23.html">Estâncias Reunidas (1977-2002)</a></em>, António Cândido Franco, Quasi, 184p.***(*)<br />
67.<em> <a href="http://www.tulisses.blogspot.pt/2012/07/cinco-poemas-de-manuel-antonio-pina.html">Todas as Palavras</a></em>, Manuel António Pina, Assírio & Alvim, 400p.****<br />
68. <em><a href="http://www.tulisses.blogspot.pt/2012/07/assim-sao-as-algas-diz-albano-martins.html">Assim São as Algas</a></em>, Albano Martins, Campo das Letras, 448p.*****<br />
69. <em><a href="http://www.tulisses.blogspot.pt/2012/07/3-poemas-de-carlos-wallenstein.html">Obras Completas - 1 Poesia</a></em>, Carlos Wallenstein, Salamandra, 320p.***(*)<br />
70. <em>Fabliaux. Erótica Medieval Francesa</em>, Teorema, 116p.****<br />
71. <em>Danúbio</em>, Cláudio Magris, Biblioteca Sábado, 380p.*****<br />
<br />
filmes:<br />
<br />
121. <em>The Conspirator</em>, Robert Redford*****<br />
122. <em>La Source des Femmes</em>, Radu Mihaileanu*****<br />
123. <em>L'arnacoeur</em>, Pascal Chaumeil****(*)<br />
124. <em>The Whistleblower</em>, Larysa Kondracki*****<br />
125. <em>Warrior</em>, Gavin O'Connor*****<br />
126. <em>Tamara Drewe</em>, Stephen Fears****(*)<br />
127. <em>Breaking and Entering</em>, Anthony Minghella*****<br />
128. <em>Eating Out 5: The Open Weekend</em>, O. Allan Brocka***<br />
129. <em>RRRrrrr</em>!!!, Alain Chabat****<br />
130. <em>Hysteria</em>, Tanya Wexler*****<br />
131. <em>Sherlock Holmes: A Game of Shadows</em>, Guy Ritchie****(*)<br />
132. <em>Ice Age: Continental Drift</em>, Steve Martino e Mike Thurmeier*****<br />
133. <em>Hereafter</em>, Clint Eastwood****(*)<br />
134. <em>Run Fatboy Run</em>, David Schwimmer****(*)<br />
135. <em>Bel Ami</em>, Declan Donnellan e Nick Ormerod****(*)<br />
136. <em>Little Ashes</em>, Paul Morrison*****<br />
137. <em>The Town</em>, Ben Affleck****<br />
138. <em>Banlieue 13 - Ultimatum</em>, Patrick Alessandrin**<br />
139. <em>Sleeping Beauty</em>, Julia Leigh*(*)<br />
140. <em>Anna Karenina</em>, Bernard Rose****<br />
141. <em>Take Shelter</em>, Jeff Nichols*****<br />
142. <em>Pina</em>, Wim Wenders*****<br />
143. <em>Burning Man</em>, Jonathan Teplitzky****<br />
144. <em>The Hangover Part II</em>, Todd Phillips***(*)<br />
145. <em>In The Land of Blood and Honey</em>, Angelina Jolie****(*)<br />
146. <em>Eden Lake</em>, James Watkins***(*)<br />
147. <em>Les Émotifs Anonymes</em>, Jean-Pierre Amério****(*)<br />
148. <em>Black Sheep</em>, Jonathan King***<br />
149. <em>Patrik 1,5</em>, Ella Lemhagen*****<br />
150. <em>Tormented</em>, Jon Wright**(*)<br />
151. <em>Silk</em>, François Girard***(*)<br />
152. <em>Tomboy</em>, Céline Sciamma****<br />
153. <em>Where the Wild Things Are</em>, Spike Jonze***(*)<br />
154. <em>Wet Hot American Summer</em>, David Wain***(*)<br />
155. <em>Limitless</em>, Neil Beerger***(*)<br />
156. <em>Bending All The Rules</em>, Morgan Klein e Peter Knight*(*)<br />
157. <em>My Little Eye</em>, Marc Evans**<br />
158. <em>Weekend</em>, Andrew Haigh****(*)<br />
159. <em>The A-Team</em>, Joe Canahan***<br />
160. <em>Budapeste</em>, Walter Carvalho****(*)<br />
<br />
Mimarte:<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
por ordem de preferência:<br />
1.º <em>1325</em> - Peripecia: genial, como de costume; a força das mulheres nos conflitos humanos ou de como se pode dizer o horrível de forma poética, bela e cómica. <br />
2.º <em>A Ilha dos Deuses</em> - FC Produções: as máscaras ao serviço do encontro de culturas, do outro que nos completa. <br />
3.º <em>As Suplicantes</em> - Thíasos: um coro muito interessante, seguido do egípcio, superou as falhas das outras duas presenças masculinas...<br />
4.º <em>Médico à Força</em> - Jangada Teatro: comédia agradável, sobretudo com a cena da fotografia final e a caixa de medicamentos :)<br />
5.º <em>Os Portas-Comédia da Noite</em> - Sola no Sapato: em especial pelo Fernando Ferrão (e sua Vanessa) e Pedro Teixeira (e sua Susy e Manel).<br />
6.º <em>Falar Verdade a Mentir</em> - CTB, pelos espelhos, pelo General Lemos e pelo Duarte (embora um pouco exagerado, André Laires, mas foi o que lhe pediram, certamente). E chega. </div>
<div style="text-align: justify;">
7.º <em>Auto do Velho Vaqueiro na Visitação da Horta Lusitânia</em> - Teatro Construção: muito Gil Vicente, com um «Auto da Índia» muito engraçado, interativo e estúpido. <br />
8.º <em>O Mentiroso</em> - Teatro ao Largo: Veneza e Goldoni bem tratados, mas faltou ali qualquer coisa... <br />
9.º <em>A Sogra</em> - Thíasos: texto estranho e encenação muito simples... José Luís Brandão em destaque. <br />
10.º <em>Plim! Tragicomédia à Moda de Braga</em> - PIF'H: enfim... nem Júlio Gonçalves salva isto. Tudo em excesso de... nada!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-23735273983381035782012-07-27T13:04:00.000+01:002012-07-27T13:05:42.912+01:004 poemas de Carlos Wallenstein<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4j6_ZGVl4uF1IDfOt194l_9VOUwHN-X3aIwhvGBrbx19IjIMO5GScsYLYZixdi9hbaBrT0c9ym6b3cyLQ4jjVB4AuTNjI1cj93CKWiZ9ed9ZdH5K9GUSwp4TtHANoZgA_7obQ/s1600/%C3%93leo+sobre+painel.+Morning+Mist,+de+Christa+Eppinghaus-Johnston.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4j6_ZGVl4uF1IDfOt194l_9VOUwHN-X3aIwhvGBrbx19IjIMO5GScsYLYZixdi9hbaBrT0c9ym6b3cyLQ4jjVB4AuTNjI1cj93CKWiZ9ed9ZdH5K9GUSwp4TtHANoZgA_7obQ/s320/%C3%93leo+sobre+painel.+Morning+Mist,+de+Christa+Eppinghaus-Johnston.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Óleo sobre painel. <em>Morning Mist</em>, de Christa Eppinghaus-Johnston</div>
<br />
<br />
<br />
AS MÃOS E A ROSA<br />
<br />
(Relatório)<br />
<br />
Na madrugada pardacenta<br />
entre armações veleiras<br />
no cais dos pescadores<br />
era ainda o horizonte<br />
coalhado de vagalumes<br />
<br />
a Polícia Geral<br />
surpreendeu<br />
a existência clandestina<br />
temerária<br />
para mais parecendo apetecida<br />
de duas mãos e uma rosa<br />
<br />
Estes objectos<br />
se passam a descrever:<br />
<br />
Rosa sem qualificação particular<br />
entre rosa e vermelho<br />
pétalas semi-abertas<br />
como a boca da detida<br />
a quem pertencia uma das mãos em questão<br />
A outra mão sombria<br />
de pêlos lavrada<br />
e veias atravessada<br />
pertencia ao cidadão<br />
por quem naquele instante<br />
a detida era abraçada<br />
<br />
As mãos possuíam a rosa<br />
A rosa era possuída<br />
As mãos mutuamente<br />
possuíam as mãos<br />
E cada pessoa<br />
depois na prisão<br />
se declarou possuidor<br />
da mão que possuía a outra mão<br />
que possuía a rosa<br />
<br />
E cada um deles<br />
com grande arrogância<br />
se declarou possuidor<br />
da pessoa do outro<br />
no mesmo teor<br />
<br />
em que o eram da rosa<br />
através dum fenómeno<br />
a que chamaram amor<br />
Detiveram-se os três objectos<br />
mas não havendo instrumento<br />
para separar as mãos<br />
dos corpos respectivos<br />
prenderam-se os corpos também<br />
e ainda bem<br />
pois possuindo-se<br />
mutuamente segundo a declaração<br />
bem é que fiquem na prisão<br />
<br />
pois todas estas posses<br />
− tanta posse tanta posse −<br />
se verificaram à margem<br />
da Teoria da Tributação<br />
<br />
<br />
****** Eu José Calcador<br />
****** da Polícia Geral<br />
****** de Sua Majestade Solar<br />
****** El-Rei D. Nabucodonosor<br />
<br />
<br />
****<br />
<br />
<br />
Nada sou do que quis. Assim me quero<br />
se é querer o osso que me foi<br />
atirado; se crer no todo influi<br />
desta paisagem desenhada em série.<br />
<br />
Assim ou o contrário? Pondere-o<br />
não eu mas quem o ponderar obriga<br />
com metodologias de formiga<br />
e trompas lautas de soar aéreo.<br />
<br />
Tem como sou, assim me fui compondo<br />
no desastre e engaste, na fateixa<br />
manual do rapa tira põe e deixa,<br />
eu de mim meu anzol e meu biombo.<br />
<br />
Nem outro não ser dói ou me corrói.<br />
Igual aos dois; herói/anti-herói.<br />
<br />
<br />
****<br />
<br />
<br />
A água do rio espelhou o teu rosto<br />
e os teus seios, minha amada,<br />
Quando te debruçste para beber<br />
à sombra dos salgueiros<br />
<br />
Na foz do rio espero eternamente<br />
que as águas me tragam consigo<br />
a tua imagem<br />
<br />
***<br />
<br />
Homenagem ao Único/Último<br />
<br />
Alegre, alegre sim:<br />
porém, morto<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
Carlos Wallenstein, <em>Obras Completas. 1 Poesia</em>, Salamandra: 1998:,p.77-9, 167, 205, 310</div>tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8244184.post-53627645341933170862012-07-23T17:43:00.002+01:002012-07-23T17:43:31.949+01:00Assim são as algas, diz Albano Martins<div style="text-align: justify;">
uma seleção longa, bem sei, mas ainda assim incompleta, de um poeta que me agradou particularmente nestas primórdios de verão. gostei muito, dos poemas com pássaros e flores, dos haikus, das reflexões metapoéticas, das relações intertextuais com pinturas, desenhos e esculturas de diversas proveniências... Há já uma <a href="http://www.fnac.pt/As-Escarpas-do-Dia-Albano-Martins/a305566?PID=5&Mn=-1&Mu=-13&Ra=-1&To=0&Nu=2&Fr=0">nova edição da sua poesia completa</a>, muito mais extensa que esta que li, mas enfim, era a que havia comprado, mas aqui fica a referência à nova. E aqui alguns dos muitos poemas: </div>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiygWaNrfMuOOteCxtGbf-FIsYT9AHu0UyvSZTWsWq6Vggi6AxrcQVbnB4gPDWWnsu51wfMuNLLmS2EHDoEoJ5TTbZmNMiYcqCX5y14w95TRDm0NL2dyNlz0BbBRfBpeR6YzH-B/s1600/liberdade.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="211" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiygWaNrfMuOOteCxtGbf-FIsYT9AHu0UyvSZTWsWq6Vggi6AxrcQVbnB4gPDWWnsu51wfMuNLLmS2EHDoEoJ5TTbZmNMiYcqCX5y14w95TRDm0NL2dyNlz0BbBRfBpeR6YzH-B/s320/liberdade.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Não forces a tua inspiração.<br />Deixa a poesia vir naturalmente<br />e não obrigues a mentir o coração.<br /><br />Procura ser espontâneo,<br />A verdadeira beleza<br />está no que o homem tem de semelhante<br />com a natureza.<br /><br />*<br />
<br />Descem as pálpebras sobre<br />o sono vigilante.<br />
<br />
É preciso, amor,<br />dar um nome a esse instante.<br /><br />**<br />
<br />
À laranja não<br />
se lhe tira a casca,<br />
mas o coração.<br />
<br />
**<br />
<br />
Um dia voltarei à morada das papoilas<br />colher os versos vermelhos<br />que semeei na seara.<br /><br />Um dia o vento estará maduro.<br /><br />***<br /><br />A face contra a face. O pulso<br />
contra o peito. A pérgola<br />
do leme a pino e a prumo.<br />
<br />
****<br />
<br />
Só o luto corrompe.<br />De amoras<br />maduras não te falo - trago-te<br />o verão num cesto<br />de morangos e papoilas, um<br />candelabro de medronhos<br />para as pulsões do inverno.<br />Digo-te:<br />a morte não nos pertence.<br />
****<br />
<br />
O verão deixa,<br />
como herança, ao outono<br />
um leque de folhas secas.<br /><br />*****<br />
<br />
Romãs; as últimas<br />
brasas do incêndio<br />
do verão.<br />
<br />
*****<br />
<br />
ÍDOLOS<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
São de barro, de fibra sintética e de barro, e de barro se diz também que alguns homens têm os pés. Aí reside, por isso, ao mesmo tempo, a sua força e a sua fragilidade. E são, como igualmente se diz, objectos profanos.<br />Não há diferença entre o profano e o sagrado, nomes inventados, como tantos outros, pelo homem, para iludir a sua ignorância e preencher o intervalo, a que alguns chamam vazio, que há entre a vida e a morte. Por isso os próprios ídolos, que apenas valem como imagens artificiais projectadas no espelho da arte e da vida, aí encontram, umas vezes, a sua força, outras, a sua fragilidade. São como deuses sentados à entrada da morte e velando o seu próprio cadáver.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
*****</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
CIÊNCIA</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O crescimento do homem pôde algumas vezes medir-se pelo comprimento ou altura das túnicas. O das mulheres sempre se mede pela roda das saias e dos seios. Ou pela altura das árvores e a fundura dos lagos que habitam no seu corpo.</div>
<div style="text-align: justify;">
******</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
MÁSCARA FUNERÁRIA<br />DE TUTANCÁMON</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />Solene, entre o relevo<br />das serpentes que lhe guardam<br />o viço constelado,<br />é apenas uma esfinge,<br />o seu perfil. O cinzel<br />que lhe esculpe o lume<br />e o marfim do rosto. Tem<br />o azul como estigma, e o brilho<br />jovem que lhe doura<br />a cabeça é só<br />o esplendor do tempo,<br />não o seu. Também<br />de azul e ouro<br />se tingem as tardes<br />de outubro e são elas<br />que trazem atrelado o carro<br />funerário onde se abrigam<br />as máscaras dos vivos. O rosto<br />duvidoso e incorpóreo<br />dos enigmas sem data.</div>
<div style="text-align: justify;">
****</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Pequenas Coisas</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Falar do trigo e não dizer<br />o joio. Percorrer<br />em voo raso os campos<br />sem pousar<br />os pés no chão. Abrir<br />um fruto e sentir<br />no ar o cheiro<br />a alfazema. Pequenas coisas,<br />dirás, que nada<br />significam perante<br />esta outra, maior: dizer<br />o indizível. Ou esta:<br />entrar sem bússola<br />na floresta e não perder<br />o rumo. Ou essa outra, maior<br />que todas e cujo<br />nome por precaução<br />omites. Que é preciso,<br />às vezes,<br />não acordar o silêncio. </div>
***<br />
<br />
COMPROMISSO<br />
<br />Pertence-te<br />ser homem, afirmar<br />todos os dias que tens<br />um compromisso: ser claro<br />e brando como a luz<br />e, como ela,<br />necessário. E não deixar<br />crescer à tua porta<br />ervas daninhas.<br />
<br />
**<br />
<br />
A MESMA CANÇÃO<br />
<br />A sensação que tens<br />é de que tudo<br />quanto dizes já o leste<br />noutros livros. Mas<br />depois consideras: também<br />o sol e os pássaros<br />repetem todos os dias<br />a mesma canção.<br />
<br />
*<br />
<br />
Indício<br />
<br />Quando alguém morre<br />apuras o ouvido<br />em busca dum indício.<br /><br />Fecha depressa<br />a janela<br />antes que ouças<br />dizer<br />que é por ti<br />que os sinos dobram.<br />
<br />
<br />
Assim <em>São as Algas. poesia 1950-2000</em>, Albano Martins, Campo das Letras: 2000, p.24, 57, 105, 142, 243, 245-6, 251, 259, 277, 278, 348, 408, 411, 412, 416<br />
<br />tulisseshttp://www.blogger.com/profile/16019219549190167094noreply@blogger.com2