Um texto que eu escrevi depois de um exame ou prova global qualquer, enquanto esperava pelo autocarro para ir para casa. É verídico. reparem no fantástico pormenor do carro!
Paciência
Parou um carro azul à minha frente, com um senhor jovem e gordo; de camisa aos quadrados azuis, verdes e amarelos; que bebia água e falava ao telemóvel.
Parou um autocarro Rodonorte e lá foram umas seis pessoas embora.
O homem do carro azul, um citroen saxo de matrícula 93.33.OV, está a ler um livro enorme, mas parece ir nas primeiras páginas. A leitura está a ser desagradável e por isso pousa o livro no banco do lado. Recosta o banco para trás, bebe mais água e espera... Quem espera desespera! É o que aparece acontecer... Em apenas cinco minutos fez tudo isto e muito mais. Não para quieto um segundo.
Liga o rádio: notícias, apesar de já serem 11:14 horas. Aperta o baraço dos calções de licra azul, olha para o relógio e espera. Desaperta um botão da camisa, coça a cabeça, põe as mãos no guiador, no banco do lado, na janela...
Grande seca, e ainda faltam mais quarenta minutos.
Pega novamente no livro, que agita por breves momentos. A sua capa é branca, totalmente branca, sem imagens.
O autocarro já abriu, mas ainda não se pode entrar, está apenas a refrescar.
O vaivém dos carros é constante, mas o seu barulho ainda permite ouvir o som lubrioso das andorinhas e de outros pássaros. Corre uma brisa refrescante do rio.
O homem espera.
A paciência tem limites, assim como o Homem. Começa a comer bolacha de água e sal: são mais saudáveis...
Uma senhora velha e magra passa a passadeira e procura o seu autocarro.
Na estação, acaba de chegar o combóio das onze e meia, na linha dois, plataforma um.
Aparece um senhor de olhos azuis, todo esfarrapado que olha a gente com olhos desconfiados e segue caminho.
Vem um senhor a vender gelados, cujo negócio está em grande, ultimamente.
A paciência tem limites, e o Homem também. O limite da paciência atingiu-se, o Homem ainda não atingiu o seu limite.
Atira o livro para o rio. Atira as bolachas para a mata, atira a água para o chão. Gira a chave e atira-se ao desconhecido, procurando atingir o seu limite terreno.
Entretanto, chegou a hora de entrar no autocarro e ir para casa.
15/06/00
2 comentários:
porque é que a marca, o modelo e a cor ma fazem lambrar alguma coisa?
Meu Deus Ti...já nessa altura??? Estava marcado no destino..conheceres o meu carro..e consequentemente (tipo arrasto..a mim tb LOL :p)!!!
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