quinta-feira, setembro 13, 2007

agosto


Não é fácil escrever sobre este mês de Agosto no Porto. Mas vou tentar, como prometido à Denise. Foi muita coisa, intensa, que talvez sirva de material de base para um conto que escreverei entretanto que rouba um verso e meio a Alexandre O’Neill, o poeta que lia durante esses tempos, «As mil e uma noites de solidão e medo». Comecemos pelo início, ou seja, a Rosi e a sua tese de Linguística Portuguesa sobre A anáfora nominal (trabalhada com alunos do 7.º ano, a partir de «No Moinho» de Eça de Queirós e textos de «National Geographic»). Foi uma demanda inexplicável, contra o tempo, com imprevistos terríveis, como o «pc dar o pau» no dia de véspera da entrega da dissertação – atrasou um pouco a entrega, mas conseguimos, porque estava guardada na pen… Entretanto já foi defendida, com sucesso (ontem!!!).

Revi a Marisa, encontros imprevistos e rápidos, sempre no metro… E a Ana Cabral, pela FLUP. E a Celine, a Susana Melgaço, a Lídia, a Rute – todas cada vez mais lindas, e o Roberto… Muitas conversas pelo msn com a Sandra, Milai e Bruna… muitas e nem sempre fáceis… Café com a Marta, Patrícia e Guilherme. Almoço interessante com Constantina, Mário, Ivo, Marta, Patrícia e Guilherme. O costume, mas diferente.
Saldos: de roupa e de livros (Feira do Livro da Bertrand – fraquinha…, e Feira do Livro e do Material Escolar do Mercado Ferreira Borges, onde comprei 31 livros e um caderno por 40€…).

Depois o apartamento partilhado com amigos e não só, onde muito aconteceu, e se calhar não deveria, e se calhar até devia, para chegar a conclusões que se calhar naufragaram entretanto, ou não. Mas como não sou pessoa muito pensadora, as coisas flutuam ainda por aí, meias esquecidas. Mas serviu para escrever uma mão cheia de contos para o meu livrinho (Composto de Mudança) e para a história de fazer o funeral mental… que resultou, até que houve uma ressurreição, por assim dizer, que me estragou um pouco os planos de ontologia da palavra e da mente, mas enfim, o que está morto, morto pode voltar a ser. E foi a morte do artista, ou antes, da artista: Madonna. Para mim está bem enterrada, para já. Redescobri algumas coisas dos Madredeus, foi bem. Mas a Mariza voltou a ocupar o lugar… que nunca perdeu, realmente. Quem se perdeu foi eu, no último dia, em que me aconteceu uma… mas que eu não conto, foi daquelas de anedotas, como ir carregado no metro para ia apanhar o comboio, dar conta que falta o telemóvel e voltar para trás, sabendo que não se tem a chave de casa e se tem de esperar que algum dos colegas volte… e em vez do comboio das cinco, apanha-se o das dez… pronto, já contei…

O trabalho: no início foram três dias loucos na Reitoria, onde conheci uma menina muito interessante, física e psicologicamente, cabo-verdiana ;). Afiei imensos lápis, fiz dossiers, tirei cópias, distribui folhetos de Coimbra, Braga, Porto, Gaia, Aveiro, Guimarães… Enviei emails, fiz compras, fiz arranjos equilibristas com bandeiras de todos os países da Europa para a sessão de abertura, enfim. Tudo em prole do IELC – Intensive Erasmus Language Course, para sessenta meninos e meninas (alguns mais velhos do que eu, mas enfim) que vieram a prender Português. Durante o resto do mês, prestei apoio no que pude e o melhor que pude aos alunos (dúvidas linguísticas, localizações: procurar casa, encontrar sítios e ruas, metro, comboio, autocarros, feiras e, pasmem, casas de meninas – mas isto eu não sabia…), acompanhá-los, com a guia, a Marta Villares, nas visitas pelo Porto – baixa e monumentos como Palácio da Bolsa e Igreja de São Francisco e caves de Gaia (6 e 10 de Agosto), Guimarães – castelo, Paço dos Duques e centro histórico (17 de Agosto), Braga – Bom Jesus, Sé e centro histórico (24 de Agosto) e Serralves (31 de Agosto). E apoio às extraordinárias formadoras: Ana Isabel, Ana Paula e Débora (power point, fotocópias, acetatos e retroprojectores, impressões, entrevistas, vídeos…). Enfim, às vezes uma estafa por ter de andar de um lado para o outro, outras vezes uma calmaria arrasadora. Tinha uma sala de 40 computadores com ligação à Internet e assim ia ocupando os tempos mortos. Os miúdos eram espectaculares. E ficam na memória da ternura alguns: Greta, Sara, Giulia, Alex, Simone, Valentina (italianos), Estefânia, Pablo (espanhóis), Muhammet, Fatih, Belkis (turcos), Vera, Kate (alemãs), Tomasz, Hubert (polacos), entre outros… No fim foi difícil despedir-me de todos, alunos, formadoras e Rosi. É que os laços criam-se... e ficam…

Do meu caderno (Pensamentos Ligeiros – vol.13, que mantenho desde os catorze anos, tipo diário/registos vários/poemas meus e de outros e afins…) posso transcrever que a «A primeira noite foi estranha, claro. Choveu e água bateu forte no plástico e no vidro da marquise» - o meu quarto tinha contacto directo com a única parte da casa com janela para o exterior - «conversa até tarde, muito, sobre muitas coisas – sobre nós de vez em quando, de fugida». Mas sobre isto não vou revelar mais, só no tal conto.

Já o disse, as leituras foram poucas. Mas agora em Setembro (agora que já acabei todos os trabalhos de mestrado) posso vingar-me e é o que estou a fazer. Contos Outra Vez, de Luísa Costa Gomes é extraordinário, seguem-se Olhos Verdes, também dela, Na berma de nenhuma estrada do eterno Mia Couto, acompanhados pela Bílbia, Poesia Completa de Natália Correia, e depois se verá.

1 comentário:

Denise disse...

Detalhado e completo q.b. Sim senhor, ó Tiago!
Vejo que foi um Agosto interessantíssimo.
Duas notas: 1. Também eu sou fã do O'Neill; 2. A publicação dos contos e dos poemas que entretanto vais publicando no blogue é para quando?

Um beijinho,
continua a escrever, que eu gosto!