terça-feira, outubro 27, 2009

Santa Margarida

Já tenho as chaves da casa nova. É na rua supracitada.

E só para mim :)

(e os meus milhentos livros e outros eus)

domingo, outubro 25, 2009

desafio em Outubro

Espacio para la lectura, Santiago de Compostela

Em tempo de trocar de casa - finalmente, embora não por ter demorado a procura, pois a única que fui ver me atraiu logo - tempo também para arrumar esta outra casa, a virtual. Não tenciono voltar cá nos próximos tempos, pelo menos para escrever: os testes acumulam-se, a preparação de aulas sobre obras integrais, a mudança e adaptação. Assim, antecipo já o desafio/sugestões, que não são muitas, concedo, porque a viagem, a Diana e o trabalho deixaram-me cansado (que já estava, da conclusão da dissertação). Mas isto vai animar e já só falta um livro para terminar o desafio :)

Livros:

96. Enciclopedia da Estória Universal, Afonso Cruz, Quetzal, 134p.*****
97. Ética Para Um Jovem, Fernando Savater, D. Quixote, 160p.****
98. Anões e Pigmeus da Pátria, Adulcino Silva, Erasmos, 94p.*
99. Um Deus Passeando Pela Brisa da Tarde, Mário de Carvalho, Caminho, 320p.*****

Santiago de Compostela

Vista geral, a partir do jardim Carlomagno.


Tinha prometido, cumpro em parte: só imagens, sem grande relato. Há coisas ficam mais guardadas do que reveladas na memória pessoal. E para não priveligiar umas em função de outras, ficam no caderno pessoal do tempo. E as imagens, por vezes, falam por si. Algumas, das cerca de 200. Acrescento só que não me importava de morar lá, uns tempos. Mas mesmo nada.


As lojas das recordações e afins... perdição nos doces e nos típicos.


San Martín Pinario - muito interessante.




Catedral do meu Sant'Iago.


Vieira no chão... muitas por todo o lado!
P.S. - mais fotos aqui.

Diana Krall no Porto



Foi dia 11. E foi genial.


Apesar de não totalmente cheio, o Rosa Mota estava ao rubro com a sua presença sedutora e enérgica, com a sua voz inconfundível e a sua técnica ao piano. E com a ajuda de Anthony Wilson (guitarra), Ben Wolf (contrabaixo) e Karrien Riggins (bateria). Floreados, improvisos, novos arranjos em músicas tão conhecidas, do passado, como «I Love being here with you», «Cheek to cheek», «Deed I do», «I was doing alright», «Case of you», «Let´s fall in love» ou «Let's face the music and dance» e músicas tão conhecidas do novo álbum (que revisita em grande parte clássicos anglófonos mas sobretudo brasileiros), como «I've grown accustomed to his face», «So Nice», «Quiet Nights», «The boy from Ipanema» e «Este seu olhar» - em português, mesmo e já não tenho certeza do «Walk on by». Muito divertida, intensa, com confidências, tentativas de falar português, simplicidade e simpatia.




Agora o negativo: a pontualidade dos espectadores - muito fraca. Eram 22:15 e ainda havia muita gente a entrar. Fosse outro sítio e ficavam na rua. O pavilhão também não foi o local mais indicado - por vezes, com as palmas, deixava de se ouvir o que a senhora dizia, e ela notou-o, brincalhona ("Só vou falar Português quando estiverem a bater palmas"), e por isso o público conteve-se um pouco. Casa da Música ou Coliseu poderiam ter sido mais apropriados, talvez. Já para não falar das cadeiras, muito desagradáveis.


Para saber mais leia-se o Blitz. Sobre o último álbum, Quiet Nights: ideias, influências, elaboração, veja-se aqui. E muitos vídeos circulam por aí, como aqui.

Caim, perdão, cair ou afim


«Abri um dos rolos e li, ao acaso:
"... E ouviram a voz de Deus que percorria o jardim, tomando a brisa da tarde..."
Ali se relatava, em grego vulgar, um mito da criação do mundo por uma divindade que deambulava em jardins, ao refresco da brisa. A narração pareceu-me primitiva, um tanto incongruente e mal pensada, nada que se comparasse à lenda de Deucalião e Pirra. Fui tomando os rolos e rodando-os, sempre ao acaso: havia intermináveis enumerações, heróis que viviam centenas de anos, lamentações, apóstrofes, traições, guerras, extermínios, tudo exposto num estilo bárbaro, repetitivo, obscuro. Tudo me pareceu brutal, intolerante, sanguinário. Não o serão menos os nossos mitos e lendas. Mas no meio das violências e das felonias há sempre, entre nós, um exemplo de clemência e grandeza de alma que se avantaja e fica como regra da humanidade para os tempos vindouros. No entanto, alguns daqueles textos lisonjeavam a inveja, o desamor dos outros, a sede de matança, como se fossem virtudes. São assim esses deuses bárbaros. Aceitam sacrifícios humanos, apraz-lhes o sangue e o odor das carnes calcinadas. Dessa feição era aquele abominável deus de Cartago, Bel, que nunca se fartava das cinzas dos impúberes e que, em boa hora, nós, romanos, derrubámos.
Admito que a leitura breve e porventura superficial daqueles livros fosse insuficiente para formar uma ideia de todo o conjunto. Talvez estivesse a ser injusto ou preconceituoso e as partes edificantes as contivessem as folhas que não li, que foram as mais.
(...)
Mas não deixa de ser estranha uma religião que precisa de tantos textos e se funda em tantos milhões de palavras.»

Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde
, Mário de Carvalho, Editorial Caminho, 1994, p.289-290

domingo, outubro 18, 2009

Tralhas Grátis

É o nome de um blogue que descobri por acaso durante as férias deste ano. E deve haver mais do género, mas fiquei-me por este. E já recebi muita coisa por causa dos posts que vão surgindo lá. Coisas que se vão juntando à pilha de «Expressos» e «Únicas», «Sábados» e «Visões», «Voltas do Mundo» e «Ler», que tenho à espera de dias menos cheios. Coisas como a «Time» (oferecem quatro números) e a «Saudi Aramco World» (dois anos), cartões Smile, 15 euros cheque-Fnac que já gastei oferecidos um passatempo de que até falei aqui, o Alfabeto braille, o material giro da Sociedade Ponto Verde (canetas de madeira, borrachas, revistas, autocolantes e um livro), um livro de biologia da Universidade de Coimbra, e o que ainda poderá vir. Mas há sempre anúncios de passatempos e concursos, para filmes, cosméticos e afins, viagens, estadias, livros, concertos e outros que tais. Coisas engraçadas, mesmo que não todas para mim. Há para todos os gostos e necessidades.
Nota: não é o blogue que oferece, tão-só anuncia, descobre, informa, encaminha. E fá-lo muito bem!

Memoirs of an Imperfect Angel


É a voz da minha adolescência. E ouvi-la faz-me ser menos velho. Mas não é só por isso que a ouço, penso. Gosto mesmo da voz, que se pode fazer ou responder a quem me diz que não percebe, eu tão erudito e tal, pouco tolerante em relação a lixo que por aí anda. Mas esta senhora não é diferente do que para aí anda, muito. Muito trabalhinho, que ninguém faz as coisas por ela nem a voz lhe caiu do céu. Sim, alguma loucura e excessos, mas isso é o espectáculo... E parece que anda mais calma, mais elegante e moderada, mas isso agora...
17 músicas mais quatro de remix de «Obsessed». 17 músicas com traços mais ou menos comuns: uma certa suavidade, com batidas que lembram o estalar de dedos, com continuidade, por vezes, entre elas, como se prolongamentos ou variações, de fácil audição, para ouvidos menos habituados a muitas vozes (sempre dela, às vezes com coro) a fazer cambiantes e com os seus registos impressivo/impressionantes. Um bom álbum, tido por alguns como o melhor dela nesta década. Talvez menos comercial, como se tem visto pelas vendas, mas mais intimista, mais maduro, mais álbum e não apenas um conjunto de canções justapostas. Está de parabéns a senhora e seu grupo de trabalho. Falta uma ou outra balada mais à anos 90, talvez. E o desfecho, com o «cover» dos Foreigner, podia ter sido alargado, numa exploração intensiva/excessiva que levasse os três minutos e pouco a cinco e tal.
Gosto especialmente de «Betcha Gon Know», a abrir, «Ribbon», «Standing O», «Up out my face» (as duas versões - pena não se apostar em coisas parecidas como a segunda versão, que lembra uma banda num campo de futebol ou coisa assim), «More than just friends». Mas o melhor está mesmo no final: «Angel (Prelude)», a mostrar que os seus dotes vocais ainda estão lá, mesmo que por vezes um pouco disfarçados, «Angels Cry» e «Languishing», duas belíssimas baladas emotivas, e «I want to know what love is», que só peca por ser tão curta.
Já tenho na estante dos cds (o cd tem uma estética interessante, mas a revista da «Elle» que o acompanha não é assim tão interessante como se dizia) e no pc. E ouço amiúde, muitas das músicas. Mais informações, ver o sítio oficial, ou outros, como aqui ou aqui, para ouvir, aqui.

terça-feira, outubro 13, 2009

brevemente

os relatos de Santiago e do concerto de Diana Krall... isto anda tudo atrasado, pois o tempo, que existe, não chega para tudo, porque ando muito cansado...

sexta-feira, outubro 02, 2009

A Poesia de Arlindo Barbeitos

Como prometido num post anterior, aqui ficam alguns poemas de Arlindo Barbeitos, cuja obra me deu muito trabalho nos últimos anos para conseguir escrever uma dissertação.
Selecção não comentada, subjectiva, como quase todas. Respeita apenas a ordem de publicação das obras: Angola Angolê Angolema - AAA - (edição bilingue Português/Alemão, Amesterdão, 1974; edição portuguesa, Lisboa: Sá da Costa, 1976, edição angolana, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1976), Nzoji - N - (Lisboa: Sá da Costa, 1979, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1979), Fiapos de Sonho - FS - (Lisboa: Vega, 1992, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1993) e Na Leveza do Luar Crescente - LLC - (Lisboa: Caminho, 1999).


Angola Angolê Angolema

árvore sem sombra
mulher sem sexo
vento sem poeira
cão sem rabo (p.18)

****
eu quero escrever coisas verdes
verdes
como as folhas desta floresta molhada
verdes
como teus olhos
que só a saudade deixa ver
verdes
como a menina duma trança só
que soletra em português sa-po sa-po
verdes
como a cobra esguia que me surpreendeu
naquela cubata sem outra história
verdes
como a manhã azul
que acaba de nascer

eu quero escrever coisas verdes (p.26).

****
um homem de chuva
jaz morto no chão de folhas podres

talvez só os pássaros
que parecem fazer ninho
nas ruínas das casas de nuvem
possam dar notícia

um homem de chuva
jaz morto no chão de folhas podres (p.31)

****
matar uma andorinha
é pecado
diz o meu povo

assassinar um homem
é crime
diz a tua lei

no entanto

naquele ano
que afirmavam de graça
a morte
de gorda
não se podia curvar (p.41)

****
para ver
se o camaleão
tomava a cor vermelha
do fogo
tu o botaste, meu irmão
na queimada grande

então
ele ficou castanho
porque assado. (p.55)


Nzoji

o
menino
pequeno
muito pequeno
nu
tudo nu
traz botas
botas muito grandes (p.3)

****
no céu amendoado de teus olhos
vejo estrelas
que são bombas (p.4).

****
o mabeco raivoso abriu a boca e comeu o vento
o menino sujo atirou pedras ao céu
a pacaça ferida caiu na lama da lagoa sem água
a mulher grávida quebrou a sanga vazia
o bode velho tentou de novo cobrir a cabra sem leite (p.8).

****
vogando
vogando vem
um dongo
sem ninguém
cirandando
cirandando vem
uma menina
sem o seu bem
marchando
marchando vem
um soldado sem vintém
voando
voando vem
um pássaro que nem asas tem
vogando
vogando vem
um dongo
sem ninguém (p.14)

****
quando o melaço
escorre pelas pontas sem forma
quando o aroma de mel quente
atrai as abelhas
quando as manchas pretas
no fundo amarelo
lembram o leopardo

então
come-se a banana devagarinho
lambendo-se os dedos depois (p. 24)

****
pelas palavras
podia-se crer
que
o falar de milho
faz a lavra
e que
gestos ao longe
são de mudos
em terra de cegos (p.32)

Fiapos de Sonho

roçando
pelo teu rosto
tombou ao chão
a estrela cadente



guarda-a
é o ouro dos sonhos (p.13)

****
ao de leve amanhecendo
abrem-se a flor e o dia
e
meus dedos roçam suaves
tua face inda nocturna
de súbito
rebenta a bomba
na incandescência de luz e orvalho
de uma aurora indiferente


ao de leve amanhecendo
abrem-se a flor e o dia (p.45)

****
a sul do sonho
a norte da esperança


a minha pátria
é um órfão
baloiçando de muletas
ao tambor das bombas


a sul do sonho
a norte da esperança (p.46)



Na Leveza do Luar Crescente

distraída na verdura

a garça branca
repousa sobre uma pata só
apodrecido na morte
o soldado preto
nem pernas tem (p.36)

****
borboletas de luz

esvoaçando
de cadáver em cadáver
colhem
o fedor dos mortos em
vão

e
pelos buracos da renda
dos dias
passam álacres
do mundo do esquecimento
ao país da indiferença
levando consigo
o pólen fatal
das flores da guerra

borboletas de luz (p.38)

****