terça-feira, março 31, 2009

(bem) na minha mão - Susana Félix

Porque faz cada vez mais sentido. Mesmo depois do que aqui já disse. Sobretudo o refrão, impagável: «enquanto vergo, não parto/ enquanto choro, não seco/ enquanto vivo, não corro/ à procura do que é certo» (todos reparámos nos pares antitéticos e todos sabemos do que se fala no final).

sábado, março 28, 2009

O livro dos dias - (breve selecção de Março)

5. Primeira frase, em muitas das últimas, que não é sobre ti, ou para ti. Ou então não...

6. O comprazimento da dor. O gostar de sofrer. Não é isso que quero mas às vezes parece que sim. É como se nada valesse realmente a pena e o melhor seria fugir e ler, apenas, até a morte chegar e levar-me para uma biblioteca eterna. Mas não é de livros que preciso, T., é de ti. do teu assoar discreto, do riso tão próprio, dos olhos inquietos. É por eles, pela falta deles e de tudo que sofro. Não podes ser da amizade, tens de ser também do amor, do meu amor - isso já és, falta o resto...

8. «O meu Guano desapareceu, fiquei muito triste... e o Rafa: ó Rita, não fiques triste, o Guano só morreu e depois volta.» - A sabedoria das crianças!

9. Esses botões desapertados, por esquecimento, em lugar tão crítico, bastariam para encher a minha mão. Mas não para saciar o que tu sabes que também termina em ão.

10. Deus é realmente um romancista dos ranhosos. E o resto é silêncio, pois então.

14. E não é que voltou mesmo! O meu primo Rafael afinal sabe mesmo destas coisas. E ainda comentou «Foi às meninas»!

19. E «enquanto eu não reclamo a dor dos dias» e a morte não toma conta dessa reclamação, continuarei aqui, à espera...

27. «É para dizer que em parte a minha vida está ligada à tua e tens que cuidar de ambas - agora não tens outra saída senão viver eternamente.» Marta
embora "eternamente" seja demasiado para mim...

29. «A ouvir o silêncio que a ausência da tua voz, do teu abraço... de ti... traz até a mim...» (roubado ao Tozé - frase do msn)

30. Face ao vazio e à loucura: as palavras.

31. Pergunto-me quantas vezes te terás lembrado de mim hoje. Nenhuma, ou uma ou outra, por acidente. Pois eu apenas uma; ao acordar lembrei-me da tua ausência real... e nunca mais apaguei de mim o desejo de ti.

terça-feira, março 24, 2009

desafio em março


Do tempo apertado, sem tempo quase, entre os afazeres de final de período sem vontade, e o fantasma da dissertação, e o fantasma da minha própria vida... fez-se este conjunto de leituras. Gradual, demorado no caso do Vale Abraão (brilhante, mas denso e não me apanhou na melhor fase), enquanto que os seguintes, a partir de Um Crime no Expresso do Oriente, me apanharam na fase do tudo preparado até ao final das aulas, o matar o tempo que devia ser para a dissertação. E continuo a ler, como um maluco. E ainda bem, porque soube-me muito bem percorrer As Cidades Invisíveis, ler as histórias com bichos, ou chegar à conclusão que O Resto é Silêncio. E o que mais virá, diria o meu pai se lesse isto.

25. O Beijo da Palavrinha, Mia Couto, Caminho, 30p.*****
26. Fanny Owen, Agustina Bessa-Luís, Público/Mil Folhas, 224p.****
27. Crime no Expresso do Tempo, Luísa Ducla Soares, Lisboa Editora/Civilização, 80p.****
28. Sonetos Luxuriosos, Pietro Aretino, Guerra & Paz, 96p.***
29. Só de Amor, Maria Teresa Horta, Frente e Verso/Visão, 80p.***
30. Vale Abraão, Agustina Bessa-Luís, Planeta DeAgostini, 306p.*****
31. Um Crime no Expresso do Oriente, Agatha Christie, RBA, 240p.*****
32. Raízes do Porvir, Domingos Florentino (Marcolino Moco), Universitária, 84p.***
33. Sem Título e Bastante Breve e Outros Poemas, Al Berto, Assírio & Alvim/FNAC, 32p.***
34. O Resto é Silêncio, Augusto Monterroso, Oficina do Livro, 200p.*****
35. As Batalhas no Deserto, José Emílio Pacheco, Oficina do Livro, 88p.****
36. «Ficções de bichos», direcção de Luísa Costa Gomes, 160p.*****
37. As Cidades Invisíveis, Italo Calvino, Biblioteca Sábado, 180p.*****
38. Falar Verdade a Mentir, Almeida Garrett (ilustrações de João Caetano), Porto Editora, 60p.****


Recomendam-se ainda Milk e Changeling - dois filmes muito bons.

domingo, março 22, 2009

Revolutionary Road - algumas pequenas pérolas


April Wheeler: Come on, tell me the truth, Frank. Remember that? We used to live by it. You know what's so good about the truth? Everyone knows what it is, however long they've lived without it. No one forgets the truth, Frank, they just get better at lying.



April Wheeler: So now I'm crazy because I don't love you, right? Is that the point?

Frank Wheeler: No! Wrong! You’re not crazy, and you do love me. That’s the point, April.

April Wheeler: But I don’t. I hate you. You were just some boy who made me laugh at a party once, and now I loathe the sight of you. In fact, if you come any closer, if you touch me or anything, I think I’ll scream.

Frank Wheeler: Oh, come on, stop this April. [He touches her for an instant and she screams at the top of her lungs before walking away. He chases after her] Fuck you, April! Fuck you and all your hateful, goddamn - [He breaks a chair against a wall]

April Wheeler: What are you going to do now? Are you going to hit me? To show me how much you love me?

Frank Wheeler: Don’t worry, I can’t be bothered! You’re not worth the trouble it would take to hit you! You’re not worth the powder it would take to blow you up. You are an empty, empty, hollow shell of a woman. I mean, what the hell are you doing in my house if you hate me so much? Why the hell are you married to me? What the hell are you doing carrying my child? I mean, why didn’t you just get rid of it when you had the chance? Because listen to me, listen to me, I got news for you - I wish to God that you had!


John Givings: Hopeless emptiness. Now you've said it. Plenty of people are onto the emptiness, but it takes real guts to see the hopelessness.

*********
Não transcrevo um dos melhores momentos do diálogo: a revelação da infidelidade dele e a reacção dela. Fica para ser visto, que é bem melhor. Um grande filme, sobre tudo o que já se disse por aí sobre ele, sobre a inutilidade, a futilidade, o sentir-se preso a um quotidiano que oprime e não permite ser-se maior, vivo, do desejo da mudança e da realização, do ser-se especial e não sentir-se desse modo... Eu próprio já devo ter dito da banda sonora (que ouço amiudadamente), das interpretações (e de uma grande Kate Winslet), da fotografia, do guarda-roupa, da direcção artística, do guião...
O que vai abaixo é só para quem viu:
No final, o desfecho inevitável de April foi acidente ou suicídio? Quando vi no cinema fiquei mais convencido pela primeira hipótese, mas agora, ao ver novamente em casa, parece-me que há uma certa tendência para a segunda. E ainda gosto mais do filme assim, ambíguo...

sábado, março 21, 2009

Dia da poesia, ó T!


Porque é dia de poesia (supostamente):
«andei pelas praças anunciando o teu nome,
chamei-te barco, flor, incêndio, madrugada»
e «falei de ti com as palavras mais limpas,
viajei, sem que soubesses, no teu interior»,
como diz Fernando Assis Pacheco, acrescentando:
«hoje os versos são para entenderes».
Se é que me faço entender pelas palavras dos outros.

(isto não é um poema, é uma sms com versos de Fernando Assis Pacheco - o poema completo pode ser lido aqui. E esta é também a entrada do Livro dos Dias de hoje)

domingo, março 15, 2009

In Memoriam

Simples, como deveria ser, apesar de tarde. Com umas músicas dos nossos Radiohead, que me apresentaste e me fizeste apreciar. Talvez não sejam as tuas favoritas, acho que a tua era «Creep», não me lembro bem (isto da memória tem destas coisas), mas estas são as minhas. Não te preocupes que não te sigo, nem eu estou preocupado, agora, com o ter-te sugerido um caminho.


E obrigado pela caixa, pelo barco com a carta (apesar de não ter gostado de tudo o que lá escreveste), pelo livro O Resto é Silêncio que lerei o mais depressa possível. Obrigado sobretudo por teres partilhado comigo uma amizade - breve, mas a sério. E talvez um dia nos possamos ver.

As minhas favoritas, além de «No Surprises»:

«High and dry» e «Karma Police».

Ano Agustina


Parece que escolhi bem o ano para ler, finalmente, os livros de Agustina que estavam nas estantes. Não foi bem escolher, aliás. Era para ter sido já no ano passado, mas passou e não foi. E era para ter sido aquando do Honoris Causa em que tive o provilégio de ser o transportador das suas insígnias. E a presença frequente dela na minha faculdade, e o facto de viver perto da minha residência (nos tempos do Porto), sempre me despertaram para a sua leitura...

No início deste ano, a Denise disse-me que era giro eu escrever um artigo para a «Textos E Pretextos», para o número dedicado à escritora. Pois até era, mas eu só tinha lido A Sibila há muitos anos e não compreendera; Dentes de Rato e não era a minha praia; Aquário e Sagitário e não saberia o que dizer dele. Então, a Flora, muito amavelmente, ofereceu-me O Comum dos Mortais e emprestou-me As Fúrias. E deixei os que tinha em casa por ler. Escolhi ler As Fúrias, por ser mais pequeno (em tempo de trabalho e com prazos...) e adorei. Pensei: que andei a fazer para adiar a leitura de Agustina? Escrevi o artigo, veremos se é publicado.

Entretanto já li Fanny Owen, que é também muito bom, e ando perdido pelo Vale Abrãao (mas vai lentamente, não é uma boa altura). Seguir-se-ão O Comum dos Mortais e Os Meninos de Ouro. Mas mais poderão fazer parte da minha biblioteca em breve.

Disse que era um bom ano para estas leituras porque este é o Ano Agustina. Assim mesmo, segundo o JL ou IC. A «Ler» já lhe dedicou um número, que a Flora também me ofereceu, e vêm aí exposições, um filme de João Botelho, a reedição da obra e disponibilização para leitura no IC, conferências, colóquios, ciclos de cinema... Uma excelente oportunidade para conhecer a obra de um dos melhores escritores portugueses vivos.

excerto do artigo - «As Fúrias em "sede absurda de ruína"»

«Fica antes uma sugestão de suspensão, de ruína não totalmente concretizada, como se fosse possível um ressurgimento de que é símbolo a «energia» acima referida, ou ainda a salamandra negra referida no final do romance, a salamandra cuja vida se coloca em hipótese, mas «sem ética possível e sem transcendência» (Bessa-Luís, 1977, 179). No entanto, a configuração que se apresenta não pode deixar de se considerar como disfórica e sem solução, uma vez que o espaço, agora transformado em lugar, segundo a distinção estabelecida por Michel de Certeau, não parece deixar lugar a uma nova transformação. Mas isso não se afirma como certo, pois há na sua obra, e nesta também, uma vacilação das certezas, um romper do esperado, e tudo é possível, como a contradição – um dos pactos que o leitor de estabelecer de início com a obra de Agustina, a fim de a pretender conhecer um pouco melhor, como afirma, exemplarmente, Lídia Jorge: «o contraditório é o chão do pensamento. Quem não entender essa raiz profunda terá dificuldade em compreender a obra que produziu» (Jorge, 2009, 53). Mesmo da destruição pode nascer a criação – ainda que ficcional e de papel.»