sexta-feira, agosto 31, 2007

Mariza - Meu Fado Meu

Mariza - Cavaleiro Monge

Mariza - Ó gente da minha terra

No site de mariza podem ver-se três video-clips e e um making of. a não perder. http://www.mariza.com/



quinta-feira, agosto 30, 2007

Mariza ao vivo no Porto


Mariza veio o Porto para um concerto memorável. «É indiscritível o que estou a sentir. É o primeiro concerto que dou que tem esta atitude». Foi assim que se dirigiu a um público extasiado, após ter cantado «Loucura». Também ninguém sabia como descrever o que começava a sentir... nem o que sentiu durante toda a noite! Beleza, emoção, um arrepio prolongado por todo o corpo e toda a alma. Excelente o concerto que Mariza deu esta terça-feira à noite (28 de Agosto 2007), no Pavilhão Rosa Mota (e não na Cordoaria, como estava marcado, devido às ameaças climatéricas). Acompanhada pela Orquestra Sinfonietta de Lisboa e mais três músicos, encantou e arrepiou até às lágrimas, mas também fez rir e dançar. Ao longo de todo o concerto, também soube afagar o ego regional da cidade (passando pelo «Porto Sentido» de Rui Veloso e Carlos Tê em registo de fado, cantado com a ajuda do público, que também se esmerou em «Barco Negro» e em «Nem às paredes confesso»). O público vibrou e transmitiu essa vibração em consonância com a de Mariza. Um espectáculo perfeito. Muita gente, mesmo, desde os sete anos aos oitenta. Muitos adolescentes e jovens, obviamente seduzidos pela excelência de Mariza e a sua capacidade de mudar, reinventar, afastar-se de estereótipos e banalizações. De salientar, sobretudo, as belíssimas interpretações de «Loucura», «Maria Lisboa» e «Ouça lá ó senhor vinho» (os ritmos mais mexidos), «Montras», «Há uma música do povo» (entre a contenção e o excedência de emoção), «Barco Negro» (com uma versão alternativa preenchida com batuques e luzes quase de discoteca), «Primavera» (o público ia deitando a casa abaixo), «Ó Gente da Minha Terra» (o delírio final)... Pena ter só cantado duas («Primavera» e «Há uma música do povo») das minhas sete favoritas («Poetas», «Por ti», «Deserto», «Caravelas», «Há palavras que nos beijam»)... Um espectáculo extraordinário, de música, de canções, de palavras, de sentimentos, de vida...




Libertei-me, obviamente, da espécie de preconceito que tinha em relação a Mariza ao vivo - sempre gostei mais de ouvir gravação em estúdio do que ver os dvd. Pois bem, depois do «Concerto em Lisboa», as coisas mudaram um bocadinho, e depois deste concerto, em que realmente foi ao vivo e eu estava lá, já não quero outra coisa! Ficou a promessa de um regresso em breve para um espectáculo ao ar livre, na Cordoaria!



Lista das canções interpretadas:

1.Loucura
2.Chuva
3.Maria Lisboa
4.Montras
5.Há uma música do povo
6.Barco Negro
7.Meu fado Meu
8.uma guitarrada (mariza ausente)
9.Duas lágrimas de orvalho
10.Cavaleiro monge
11.Recusa
12.Transparente
13.Feira de castro
14.Ouça lá ó senhor vinho
15.Primavera

encore:
16.Porto sentido
17.Lá vai maria (sem microfone)
18.Nem às paredes confesso
19.Ó gente da minha terra
20.Ouça lá ó senhor vinho (outra vez)

quarta-feira, agosto 29, 2007

Alberto de Lacerda

Morreu Alberto de Lacerda, uma das grandes vozes da poesia portuguesa da segunda metade do século XX português. como sempre, a melhor homenagem é deixar o poeta falar, como sempre.


Ilha de Moçambique

Desfeitos um por um os nós sombrios,
Anulada a distancia entre o desejo
E o sonho coincidente como um beijo,
Exalei mapas que exalaram rios.

Terra secreta, continentes frios,
Ardei à luz dum sol que é rumorejo
Para lá do que eu sou, do que eu invejo
Aos elementos, aos altos navios!

Trouxe de longe o palácio sepulto,
A cobra semimorta, a bandarilha,
E esqueci poços, prossegui oculto.

Desdém que envolve por completo a quilha,
Sou bem o rei saudoso do seu vulto,
Vulto que existe infante numa ilha.


http://www.iplb.pt/pls/diplb/!get_page?pageid=402&tpcontent=FA&idaut=1717589&idobra=&format=NP405&lang=PT

segunda-feira, agosto 27, 2007

Eduardo Prado Coelho

Morreu Eduardo Prado Coelho (Lisboa, 29 de Março de 1944 — Lisboa, 25 de Agosto de 2007). Escritor, professor universitário, colaborador de uma série de jornais e revistas e publicou uma crónica semanal no jornal Público. Escreveu inúmeros e importantíssimos livros e ensaios, dos quais se destacam: O Reino Flutuante (1972), Os Universos da Crítica (1983, versão da sua tese de doutoramento), A Mecânica dos Fluídos (1984), A Noite do Mundo (1988), os dois volumes do diário Tudo o que não escrevi (1992 e 1994), O Cálculo das Sombras (1997), A Razão do Azul (2004) e Nacional e Transmissível (2006). Um dos nomes mais importantes da cultura portuguesa nas últimas décadas, incontornável no estudo da literatura. Todos lhe estamos agradecidos.

mais informação:
as crónicas no jornal Público:

sexta-feira, agosto 24, 2007

Explicação das Coisas

4 poemas do meu último livro de poesia, ainda em construção, Explicação das Coisas:


Explicação dos Montes

Procuro a luz e o calor
E a fuga do fundo. Cresço
Como se fosse vida o que trago.
Mas só em milhares de anos
Chegarei a metade do caminho.


*****************

Explicação do Mundo (selon Plotino)

Existe desde sempre porque é autónomo.
Existe porque é exigido por e subordinado à
Eternidade.

Não sabe o que quer, mas quer infinitamente.

*********************

Explicação do Rio

Vontade de ser grande
De correr ou de fugir do nada.
Vontade de me afogar ou fundir.
Vontade de ver mais e mais longe
E morrer, contigo.


************************

Explicação ténue do suicídio

Defendia-me da morte todos os dias.
Mas hoje achei que não valia a pena continuar.

quinta-feira, agosto 23, 2007

poema de arlindo barbeitos

corvos de ronda
não sabem
quem matou o antílope
cor de vento listrado de chuva
e
pombos verdes
de vôo redondo
não sabem
por que o homem tatuado
caiu no feitiço das coisas de longe

in: Nzoji

(é este o famoso poema de que usurpei os últimos dois versos paar me definir face às literaturas africanas...)

Matem a madonna, por favor



Eu até gostava dela, a sério. e ainda gosto de certas coisas. apesar do pouco jeito para cantar, inicialmente, mas dava espectáculo. para Evita ela aprendeu melhor a colocar a voz e tornou-se bem melhor, como se vê no extraordinário álbum Ray of Light (continuo a dizer, o único que vale a pena possuir, além de uma ou outra música, posteriores ou não, como Beautiful Stranger...). das tours, nem falo. teve o seu auge com a Drowned World Tour e com a The Re-Invention Tour. e pronto. longos e velhos tempos. madonna morreu como artista em 2004. a sua última tour (The Confessions Tour) é um relfexo do seu último álbum (Confessions on the dance floor): muito mau! nada de novo trouxe, a não ser uma não novidade ou mudança, que era o constante na sua carreira. Hung Up foi um sucesso (merecido, até pela melodia dos ABBA), mas o resto é mau, muito, desde Sorry (irritante à brava) até Jump (parola). Mas o pior mesmo é o dvd da tourné. conheço umas pessoas que estão sempre a ver/ouvir/tentar cantar - e conseguem tornar aquilo ainda pior. nada daquilo me parece verdadeiramente interessante no contexto da carreira de Madonna. acho que está esgotado o conceito, pelo menos por agora, neste trabalho. e depois, como é possível não se notar que o seu visual não é um decalque de uma fase de Kylie Minogue, exactamente antes desta se retirar um pouco por motivos pessoais? demasiado óbvio...


matem a madonna, por favor, ou pelo menos não a deixem ir cada vez mais baixo. ou então matem quem vive comigo e se põe a babar em frente da televisão até à meia noite, adorando-a como nunca adoraram ninguém... é capaz de ser mais eficaz, para o meu caso...

P.S. - é agora que alguém do lobby gay me mata...

Novo P.S. (em Março de 2008): como me assinalaram, corrigi Hung Up (estava Hang Up), falha minha. Não levem este post tão a sério! É fruto de circunstâncias plausíveis que estão subentendidas, ou não. Mas mantenho-o. Palavra por palavra. Mas não era bem da Madonna que eu estava a falar...

quarta-feira, agosto 22, 2007

Agosto


Em agosto a vida parece crescer exponencialmente, pelo menos na minha terrinha. os emigrantes chegam e arrasam com a paz e o sossego normal. acaba-se o silêncio das noites. na verdade, não são só eles, é mesmo do tempo, e de todos (praticamente) estarem de férias e fazerem de todas as noites uma festa contínua, mesmo que as noites sejam um bocadito para o frias (mas eu sou suspeito...). cá no Porto está muito mais gente, claro. mas menos do que durante o ano, parece-me. e tenho visto muita gente com sacos de compras e de toalhas ao ombro e de cestas de piquenique. é agosto, é verdade, mas não sinto falta de praia nem de piscina, nem do acostumado rio. nem de ficar ao sol (nunca gostei, mas este ano, na única ida ao rio, até gostei...). posso sentir, quanto muito, falta de estar mais com os meus primos, ou daquela sensação de acordar cedo de manhã fresca e passar o dia a ler romances enormes (foi no verão que li o Lobo Antunes, a Ana Karenina, As Mil e Uma Noites, e seria este o mês em que leria so Sinais de Fogo e a História Trágico-Marítima, mas enfim, tive de escolher obras mais pequenas e portáteis, mas nem assim consigo ler muito: a Poesia Completa do Alexandre O´Neill vai a meio, O Livro do Desassossego de Pessoa nem a meio vai, os dois livros de contos programados, um de Mia Couto (Na berma de nenhuma estrada), outro de Luísa Costa Gomes (Contos outra vez), estão completamente encerrados, esmagados pelos livros e fotocópias dos trabalhos de mestrado que tenho de entregar em Setembro. salvou-se ao menos Orlando de Virginia Woolf, que li (e adorei). mas agosto é assim um mês em que costumo estar eu e os livros e pouco mais. um mês de reflexão interior. mas este ano, foi quase todo o ano assim. então, para ser diferente (muito eu gosto de ser diferente) passo agosto a trabalhar, longe de tudo o que foi este ano: sem solidão, sem grandes livros e leituras, sem o silêncio e o frio de Poiares. mas em setembro, se nada acontecer entretanto, volto ao mesmo. e não sou menos feliz por isso. só que de outra maneira.

quinta-feira, agosto 16, 2007

conselho pónei para a sandra



a melhor maneira de nos livrarmos de um desejo é.... satisfazê-lo (Oscar Wilde)

segunda-feira, agosto 13, 2007

Primavera


Quem pode impedir a Primavera
Se as árvores se vão cobrir de flores
E o homem se sentiu sorrir à Vida!

Quem pode impedir a surda guerra
Que vai nos campos deslocando as pedras
- Mudas comparsas no ritmo das estações –
E da terra inerte ergueu milhares de lanças

Que a tremer avançam, cintilantes, para o limite
Em que a luz aquosa se derrama
Como um ar infinito onde o arado
Abre caminhos misteriosos à seiva inquieta?

Quem pode impedir a Primavera
Se estamos em Maio e uma ternura
Nos faz abrir a porta aos viandantes
E o amor se abriga em cada um dos nossos gestos?

Quem?...
Se os sonhos maus do Inverno dão lugar à Primavera?

Ruy Cinatti

sexta-feira, agosto 10, 2007

quarta-feira, agosto 08, 2007

Teoria das Cores


«Na natureza, o verde é uma coisa, na Literatura é outra completamente diferente.»

Virgínia Woolf, Orlando

Diante do mestre Diamantino, sete pessoas, homens e mulheres, estavam sentadas em posição de lótus, de olhos fechados, meditando sobre uma qualquer praia e o seu corpo nela, ao sol, a ser percorrido desde as planas dos pés até ao cabelo, passando, frisado, pelos glúteos, por uma nuvem fresca. As pessoas estavam todas vestidas de branco, embora, para se distinguirem, cada uma tivesse uma fita de pano de cor diferente na testa. Assim, o homem mais à frente tinha uma fita laranja e a mulher ao seu lado, cinzenta. Se nos fosse permitido entrar no jardim onde todos estavam diante do mestre, poderíamos ver que a cor do homem mais distanciado era azul – a fita, claro.
Se nos fosse permitido circular por ali, veríamos a forma como o sol ali habita. Embora rodeado por árvores frondosas, cada uma com seus verdes das mais variegadas matizes, além da cerca de arame farpado, que dava um tom de privacidade ao espaço, embora algo selvagem e violento, o espaço era amplo e parecia aberto, recebendo o sol morno em si como um casal de amantes. Nasciam por isso plantas com bastante facilidade, mantidas também por um riacho que percorria o jardim e o dividia a meio; ligadas as margens por três pontes de pedra (ponte talvez seja uma palavra demasiado grande para as designar, mas sempre têm a mesma função, embora a palavra em si também não seja muito grande). À luz do sol, as coisas ganhavam contornos nítidos e precisos. Um girassol era um girassol, e os cravos e as rosas eram eles. Quando o sol abruptamente adormecia, essa nitidez esbatia-se e as formas como que se uniam, em êxtase e indefinição. Mas naquele momento era dia e o sol cumpria a sua função de luz e tudo resplandecia com a cor que o sol lhes emprestava, incluindo as tais faixas que diferenciavam cada um dos participantes do encontro.
Todos os anos, o mestre Diamantino, especialista em filosofias orientais que pretendem transcender o tempo e o espaço através da mente e de uma relação especial com o corpo, escolhia alguns dos seus mais fiéis e avançados alunos da sua Academia, devidamente creditada e referenciada pelos especialistas do mesmo assunto, para fazer uma viagem até um local remoto do mundo a fim de estabelecerem um novo ponto de contacto com a Terra-Mãe, num local semi-virgem, onde poucos tivessem profanado o chão. Era teoria deste grupo que a nossa existência era prejudicial para o equilíbrio da Terra-Mãe e, embora vivêssemos nela, tínhamos de conseguir estabelecer uma forma mais neutra de nos relacionarmos com ela. Assim, só comiam frutos e vegetais caídos da árvore, húmus e coisas meio estranhas, criadas de propósito por eles, para eles. E assim, sem reparar que entravam em contradição com as suas crença, iam todos os anos para um local ermo, levando consigo a sua presença e, obviamente, o avião que os levava – com certeza a Terra-Mãe agradecia a agitação do pó que em cima dela se acumulava por milhares de anos. Porém, de há uns anos para cá, por maior comodidade e respeito por essa Terra-Mãe, o grupo comprou uma casa com um extenso terreno algures no meio de África e ali se reuniam todos os anos, rodando os membros escolhidos. Outros grupos, provenientes de todos os lados do mundo, de todas as cores de olhos, cabelos e pele se juntavam, embora cada grupo na sua divisão. Se nos fosse permitido entrar ali, veríamos a diversidade dos outros grupos, mas este era até bastante coeso: sete pessoas com idade para terem juízo, já entradas na metade do século. Nos outros grupos falavam-se muitas línguas, embora as conversas nem sempre fossem muito interessantes, embora todas, sem excepção, lamentassem o estado do mundo, da moral ao clima. Este era, aliás, o tema mais versado: os animais em vias de extinção, as plantas e insectos que desaparecem todos os dias, os pulmões do mundo a serem cortados, os glaciares a perderem a sua vida gigantesca, a seca extrema de determinadas zonas, contrastando com outras. Aquela zona não fora ainda atingida pelas mudanças. Continuava a haver sol e humidade suficiente para todos os animais e plantas sobreviverem por ali. De alguma forma, o grupo considerava-se responsável por isso: as energias que recebiam da Terra-Mãe devolviam-nas transformadas em amor àquele lugar sacralizado, mantendo o equilíbrio daquele espaço.
Era também crença do grupo, em especial do mestre Diamantino, que as certas cores eram positivas e outras negativas para a conservação da Terra-Mãe. Assim, o branco e o azul eram primordiais para o equilíbrio do ar e da água, respectivamente. O vermelho e o castanho para o fogo e a terra. Nada de novo, até aqui. Mas o verde era, na opinião deles que nenhum de nós pode confirmar, a não ser que sejamos aceites na irmandade e tivermos capacidade para a acompanhar em todas as suas vertentes, a cor por excelência da Terra-Mãe, a cor com que se enfeitava, vestia, brilhava. Tudo o que era verde era bom e puro. Perfeito e impossível de maltratar. Assim, quando naquela tarde de sol definidor da geografia das coisas e de concentração máxima, uma cobra enorme, verde, com umas riscas castanhas, de olhos brancos e vermelhos, apareceu subitamente no jardim e aos poucos foi engolindo o homem com a fita de pano azul – a única cor da perfeição que lhe faltava, ninguém pareceu notar o que se estava a passar, e mesmo que notassem talvez nada fizessem, já que a cor mandava sobre tudo. Mas disto nada sabemos, porque não pudemos lá entrar.

terça-feira, agosto 07, 2007

poema


Só com as palavras guardámos nuvens em caixas de sapatos
E a seguir nos perdemos nas areias ao sol.