quarta-feira, outubro 27, 2010

As mãos inteiras

Quem mas dera agora
inteiras e cheias com as minhas
ou com o meu corpo
água ou vento que nos leve ao encontro do outro mundo.

As mãos que eram andaime e guindaste
cofre do tesouro que era o próprio tesouro sem fim.

As mãos ambas
dextra e sinistra perfeitamente idênticas
onde o sopro do meu ser
pode encontrar abrigo.

Desafio em Outubro


Pois coloquemo-nos naquilo que amamos. Corpos, livros, filmes, teatro, música... E vivamos deles, como se fosse impossível ao contrário. É assim que faço, ou quase. E por isso tenho tempo ainda para os poemas irreverentes e apaixonados de Joaquim Pessoa (102), atravessar a ponte cheia de histórias fantásticas (103), apreciar escritas tão díspares e interessantes (104, 105, 106, 108), mergulhar numa especial Barcelona (107), confirmar gostos (109, 110)... E ver filmes - sozinho ou acompanhado, sempre de um modo tão subjectivo como ser - já cheguei aos 183 que tinha projectado, continuemos pois. Menos no teatro, claro, mas O Fim foi a peça deste mês.

livros:
102. 125 poemas. Antologia Poética, Joaquim Pessoa, Litexa, 224p.*****
103. A Ponte Sobre o Drina, Ivo Andrić, Cavalo de Ferro, 418p.*****
104. dentro de mim faz sul seguido de acto sanguíneo, Ondjaki, Caminho, 128p.***
105. Solte os Cachorros, Adélia Prado, Cotovia, 128p.****
106. Contos Cruéis, Villiers de L’Isle-Adam, Estampa, 152p.*****
107. Alicia, ao Amanhecer e outros contos, Carlos Ruiz Zafón, Planeta, 40p.*****
108. Contos do Mal Errante, Maria Gabriela Llansol, Rolim, 240p.****
109. A Feira dos Assombrados e Outras Estórias Verdadeiras e Inverosímeis, José Eduardo Agualusa, BIS/LEYA, 144p.*****
110. Lenin Oil, Pedro Rosa Mendes, D. Quixote, 160p.****

filmes:
168. O Reino Perdido, Rob Minkoff***
169. Crank, Mark Neveldine e Brian Taylor***
170. CrankItálico 2, Mark Neveldine e Brian Taylor****
171. Shelter, Mans Marlind e Bjorn Stein*****
172. Shutter Island, Martin Scorcese*****
173. A Casa das Coelhinhas, Fred Wolf***
174. He's just not into you, Ken Kwapis****
175. Remember Me, Allen Coulter*****
176. Burn After Reading, Ethan e Joel Cohen*****
177. The men who stares at goats, Grant Hesloy*****
178. Les Herbes Folles, Alain Resnais***
179. Les Chansons d'amour, Christophe Honoré****
180. 21: A última cartada, Robert Luketic***
181. Filme do Desassossego, João Botelho****(*)
182. Zoom, Peter Hewitt***
183. Beautiful Kate, Rachel Ward*****
184. A Lenda de Zorro, Martin Campbell***
185. La Journée de la jupe, Jean-Paul Lilienfeld*****
186. Padrinho... mas pouco, Paul Weiland***
187. Regresso a Halloweentown, David Jackson**(*)
188. A Nightmare on Elm Street (2010), Samuel Bayer***
189. Devil's Diary, Farhad Mann**(*)

terça-feira, outubro 19, 2010

sábado, outubro 16, 2010

filme do desassossego




vi ontem, no Theatro Circo, com apresentação breve do realizador, João Botelho, na companhia de colegas e/ou amigos. Para além dos óbvios textos extraordinários, uma imagem e uma banda sonora deslumbrantes, grande elenco, tudo em conformidade, melhor do que esperava. Gostei (menos da "ópera").





«Que coisa morro quando sou?»
Bernardo Soares, O Livro do Desassossego



nota: a visualização do filme não dispensa a leitura. mesmo.

quinta-feira, outubro 14, 2010

Alberto Caeiro certeiro

Caeiro certeiro é um pleonasmo, uma verdade lapalissada. Mas ainda assim - não só na verdade geral, mas na minha. Comecei a folhear (e não desfolhar, como vejo por aí) edições, a recordar poemas e versos em que não pegava bem desde o ano de estágio (2006!) e deparei-me com este. Assim, logo de repente. E não me lembrava dele. Pronto, as lágrimas não chegaram, mas quase, porque cair a água é natural, mesmo sem saber teorias de gravidade nem razões.


Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, Poemas Inconjuntos (7-11-1915)

segunda-feira, outubro 11, 2010

Desejo II (disfarçado de música)

Rebel Heart, The Corrs

quarta-feira, outubro 06, 2010

Tomai lá (não do O'Neill) do Cesariny

O Álvaro gosta muito de levar no cu
O Alberto nem por isso
O Ricardo dá-lhe mais para ir
O Fernando emociona-se e não consegue acabar.

O Campos
Em podendo fazia-o mais de uma vez por dia.
Ficavam-lhe os olhos brancos
E não falava, mordia. O Alberto
É mais por causa da fotografia
Das árvores altas nos montes perto
Quando passam rapazes
O que nem sempre sucedia.

O Fernando o seu maior desejo desde adulto
(Mas já na tenra idade lhe provia)
Era ver os hètèros a foder uns com os outros
Pela seguinte ordem e teoria:
O Ricardo no chão, debaixo de todos (era molengão
Em não se tratando de anacreônticas) introduzia-
-Se no Alberto até à base
E com algum incómodo o Alberto erguia
Nos pulsos a ordem da Kabalia
Tentando passá-la ao Álvaro
Que enroscado no Search mordia mordia
E a mais não dava atenção.
O Search tentava
Apanhar o membro do Bernardo
Que crescia sem parança direcção espaço
E era o que mais avultava na dança
Das pernas do maço da heteronomia
A que aliás o Search era um pouco emprestado
Como de ajuda externa (de janela do lado)
Àquela endemonia
Hoje em dia moderna e caso arrumado.

Formado o quadrado
Era quando o Aleyster Crowel aparecia.
"Iô Pan! Iô Pã!", dizia,
E era felatio para todos
E pão de ló molhado em malvasia.

Mário Cesariny, Uma Grande Razão: Os Poemas Maiores

Desejo I

se a tristeza, a solidão e o cansaço matassem quando combinados...

de modo célere.

:)

sábado, outubro 02, 2010

ai o Natal!

é cedo, bem sei, mas quem em conhece sabe que ouço canções de Natal sempre. e esta é nova e eu gosto :) Mariah Carey em grande!