terça-feira, julho 31, 2012

Desafio 12:7

Além da excelente minissérie Sherlock, de que vi agora a segunda temporada (três episódios cada, mas de hora e meia cada e muito bem feitos, com os geniais Martin Freeman e Benedict Cumberbatch a liderar o elenco), deixo abaixo outras sugestões em mês estranho, marcado sobretudo pela uvéite que me condicionou bastante, mas também o calor e a correção de exames - enfim, mais poesia e filmes, porque a primeira não exige tanto do olho como a prosa, e os segundos porque não exigem tanto como os filmes. reflexão breve sobre o Mimarte, que felizmente foi ainda antes da doença!


livros:

66. Estâncias Reunidas (1977-2002), António Cândido Franco, Quasi, 184p.***(*)
67. Todas as Palavras, Manuel António Pina, Assírio & Alvim, 400p.****
68. Assim São as Algas, Albano Martins, Campo das Letras, 448p.*****
69. Obras Completas - 1 Poesia, Carlos Wallenstein, Salamandra, 320p.***(*)
70. Fabliaux. Erótica Medieval Francesa, Teorema, 116p.****
71. Danúbio, Cláudio Magris, Biblioteca Sábado, 380p.*****

filmes:

121. The Conspirator, Robert Redford*****
122. La Source des Femmes, Radu Mihaileanu*****
123. L'arnacoeur, Pascal Chaumeil****(*)
124. The Whistleblower, Larysa Kondracki*****
125. Warrior, Gavin O'Connor*****
126. Tamara Drewe, Stephen Fears****(*)
127. Breaking and Entering, Anthony Minghella*****
128. Eating Out 5: The Open Weekend, O. Allan Brocka***
129. RRRrrrr!!!, Alain Chabat****
130. Hysteria, Tanya Wexler*****
131. Sherlock Holmes: A Game of Shadows, Guy Ritchie****(*)
132. Ice Age: Continental Drift, Steve Martino e Mike Thurmeier*****
133. Hereafter, Clint Eastwood****(*)
134. Run Fatboy Run, David Schwimmer****(*)
135. Bel Ami, Declan Donnellan e Nick Ormerod****(*)
136. Little Ashes, Paul Morrison*****
137. The Town, Ben Affleck****
138. Banlieue 13 - Ultimatum, Patrick Alessandrin**
139. Sleeping Beauty, Julia Leigh*(*)
140. Anna Karenina, Bernard Rose****
141. Take Shelter, Jeff Nichols*****
142. Pina, Wim Wenders*****
143. Burning Man, Jonathan Teplitzky****
144. The Hangover Part II, Todd Phillips***(*)
145. In The Land of Blood and Honey, Angelina Jolie****(*)
146. Eden Lake, James Watkins***(*)
147. Les Émotifs Anonymes, Jean-Pierre Amério****(*)
148. Black Sheep, Jonathan King***
149. Patrik 1,5, Ella Lemhagen*****
150. Tormented, Jon Wright**(*)
151. Silk, François Girard***(*)
152. Tomboy, Céline Sciamma****
153. Where the Wild Things Are, Spike Jonze***(*)
154. Wet Hot American Summer, David Wain***(*)
155. Limitless, Neil Beerger***(*)
156. Bending All The Rules, Morgan Klein e Peter Knight*(*)
157. My Little Eye, Marc Evans**
158. Weekend, Andrew Haigh****(*)
159. The A-Team, Joe Canahan***
160. Budapeste, Walter Carvalho****(*)

Mimarte:

por ordem de preferência:
1.º 1325 - Peripecia: genial, como de costume; a força das mulheres nos conflitos humanos ou de como se pode dizer o horrível de forma poética, bela e cómica.
2.º A Ilha dos Deuses - FC Produções: as máscaras ao serviço do encontro de culturas, do outro que nos completa.
3.º As Suplicantes - Thíasos: um coro muito interessante, seguido do egípcio, superou as falhas das outras duas presenças masculinas...
4.º Médico à Força - Jangada Teatro: comédia agradável, sobretudo com a cena da fotografia final e a caixa de medicamentos :)
5.º Os Portas-Comédia da Noite - Sola no Sapato: em especial pelo Fernando Ferrão (e sua Vanessa) e Pedro Teixeira (e sua Susy e Manel).
6.º Falar Verdade a Mentir - CTB, pelos espelhos, pelo General Lemos e pelo Duarte (embora um pouco exagerado, André Laires, mas foi o que lhe pediram, certamente). E chega.
7.º Auto do Velho Vaqueiro na Visitação da Horta Lusitânia - Teatro Construção: muito Gil Vicente, com um «Auto da Índia» muito engraçado, interativo e estúpido.
8.º O Mentiroso - Teatro ao Largo: Veneza e Goldoni bem tratados, mas faltou ali qualquer coisa...
9.º A Sogra - Thíasos: texto estranho e encenação muito simples... José Luís Brandão em destaque.
10.º Plim! Tragicomédia à Moda de Braga - PIF'H: enfim... nem Júlio Gonçalves salva isto. Tudo em excesso de... nada!


sexta-feira, julho 27, 2012

4 poemas de Carlos Wallenstein



Óleo sobre painel. Morning Mist, de Christa Eppinghaus-Johnston



AS MÃOS E A ROSA

(Relatório)

Na madrugada pardacenta
entre armações veleiras
no cais dos pescadores
era ainda o horizonte
coalhado de vagalumes

a Polícia Geral
surpreendeu
a existência clandestina
temerária
para mais parecendo apetecida
de duas mãos e uma rosa

Estes objectos
se passam a descrever:

Rosa sem qualificação particular
entre rosa e vermelho
pétalas semi-abertas
como a boca da detida
a quem pertencia uma das mãos em questão
A outra mão sombria
de pêlos lavrada
e veias atravessada
pertencia ao cidadão
por quem naquele instante
a detida era abraçada

As mãos possuíam a rosa
A rosa era possuída
As mãos mutuamente
possuíam as mãos
E cada pessoa
depois na prisão
se declarou possuidor
da mão que possuía a outra mão
que possuía a rosa

E cada um deles
com grande arrogância
se declarou possuidor
da pessoa do outro
no mesmo teor

em que o eram da rosa
através dum fenómeno
a que chamaram amor
Detiveram-se os três objectos
mas não havendo instrumento
para separar as mãos
dos corpos respectivos
prenderam-se os corpos também
e ainda bem
pois possuindo-se
mutuamente segundo a declaração
bem é que fiquem na prisão

pois todas estas posses
− tanta posse tanta posse −
se verificaram à margem
da Teoria da Tributação


****** Eu José Calcador
****** da Polícia Geral
****** de Sua Majestade Solar
****** El-Rei D. Nabucodonosor


****


Nada sou do que quis. Assim me quero
se é querer o osso que me foi
atirado; se crer no todo influi
desta paisagem desenhada em série.

Assim ou o contrário? Pondere-o
não eu mas quem o ponderar obriga
com metodologias de formiga
e trompas lautas de soar aéreo.

Tem como sou, assim me fui compondo
no desastre e engaste, na fateixa
manual do rapa tira põe e deixa,
eu de mim meu anzol e meu biombo.

Nem outro não ser dói ou me corrói.
Igual aos dois; herói/anti-herói.


****


A água do rio espelhou o teu rosto
e os teus seios, minha amada,
Quando te debruçste para beber
à sombra dos salgueiros

Na foz do rio espero eternamente
que as águas me tragam consigo
a tua imagem

***

Homenagem ao Único/Último

Alegre, alegre sim:
porém, morto


Carlos Wallenstein, Obras Completas. 1 Poesia, Salamandra: 1998:,p.77-9, 167, 205, 310

segunda-feira, julho 23, 2012

Assim são as algas, diz Albano Martins

uma seleção longa, bem sei, mas ainda assim incompleta, de um poeta que me agradou particularmente nestas primórdios de verão. gostei muito, dos poemas com pássaros e flores, dos haikus, das reflexões metapoéticas, das relações intertextuais com pinturas, desenhos e esculturas de diversas proveniências... Há já uma nova edição da sua poesia completa, muito mais extensa que esta que li, mas enfim, era a que havia comprado, mas aqui fica a referência à nova. E aqui alguns dos muitos poemas: 




Não forces a tua inspiração.
Deixa a poesia vir naturalmente
e não obrigues a mentir o coração.

Procura ser espontâneo,
A verdadeira beleza
está no que o homem tem de semelhante
com a natureza.

*

Descem as pálpebras sobre
o sono vigilante.

É preciso, amor,
dar um nome a esse instante.

**

À laranja não
se lhe tira a casca,
mas o coração.

**

Um dia voltarei à morada das papoilas
colher os versos vermelhos
que semeei na seara.

Um dia o vento estará maduro.

***

A face contra a face. O pulso
contra o peito. A pérgola
do leme a pino e a prumo.

****

Só o luto corrompe.
De amoras
maduras não te falo - trago-te
o verão num cesto
de morangos e papoilas, um
candelabro de medronhos
para as pulsões do inverno.
Digo-te:
a morte não nos pertence.
****

O verão deixa,
como herança, ao outono
um leque de folhas secas.

*****

Romãs; as últimas
brasas do incêndio
do verão.

*****

ÍDOLOS

São de barro, de fibra sintética e de barro, e de barro se diz também que alguns homens têm os pés. Aí reside, por isso, ao mesmo tempo, a sua força e a sua fragilidade. E são, como igualmente se diz, objectos profanos.
Não há diferença entre o profano e o sagrado, nomes inventados, como tantos outros, pelo homem, para iludir a sua ignorância e preencher o intervalo, a que alguns chamam vazio, que há entre a vida e a morte. Por isso os próprios ídolos, que apenas valem como imagens artificiais projectadas no espelho da arte e da vida, aí encontram, umas vezes, a sua força, outras, a sua fragilidade. São como deuses sentados à entrada da morte e velando o seu próprio cadáver.

*****

CIÊNCIA

O crescimento do homem pôde algumas vezes medir-se pelo comprimento ou altura das túnicas. O das mulheres sempre se mede pela roda das saias e dos seios. Ou pela altura das árvores e a fundura dos lagos que habitam no seu corpo.
******

MÁSCARA FUNERÁRIA
DE TUTANCÁMON

Solene, entre o relevo
das serpentes que lhe guardam
o viço constelado,
é apenas uma esfinge,
o seu perfil. O cinzel
que lhe esculpe o lume
e o marfim do rosto. Tem
o azul como estigma, e o brilho
jovem que lhe doura
a cabeça é só
o esplendor do tempo,
não o seu. Também
de azul e ouro
se tingem as tardes
de outubro e são elas
que trazem atrelado o carro
funerário onde se abrigam
as máscaras dos vivos. O rosto
duvidoso e incorpóreo
dos enigmas sem data.
****

Pequenas Coisas


Falar do trigo e não dizer
o joio. Percorrer
em voo raso os campos
sem pousar
os pés no chão. Abrir
um fruto e sentir
no ar o cheiro
a alfazema. Pequenas coisas,
dirás, que nada
significam perante
esta outra, maior: dizer
o indizível. Ou esta:
entrar sem bússola
na floresta e não perder
o rumo. Ou essa outra, maior
que todas e cujo
nome por precaução
omites. Que é preciso,
às vezes,
não acordar o silêncio.
***

COMPROMISSO

Pertence-te
ser homem, afirmar
todos os dias que tens
um compromisso: ser claro
e brando como a luz
e, como ela,
necessário. E não deixar
crescer à tua porta
ervas daninhas.

**

A MESMA CANÇÃO

A sensação que tens
é de que tudo
quanto dizes já o leste
noutros livros. Mas
depois consideras: também
o sol e os pássaros
repetem todos os dias
a mesma canção.

*

Indício

Quando alguém morre
apuras o ouvido
em busca dum indício.

Fecha depressa
a janela
antes que ouças
dizer
que é por ti
que os sinos dobram.


Assim São as Algas. poesia 1950-2000, Albano Martins, Campo das Letras: 2000, p.24, 57, 105, 142, 243, 245-6, 251, 259, 277, 278, 348, 408, 411, 412, 416

cinco poemas de Manuel António Pina

LUDWIG W. Em 1951

«As palavras (o tempo e os livros que
foram precisos para aqui chegar,
ao sítio do primeiro poema!)
são apenas seres deste mundo,
insubstanciais seres, incapazes também eles de compreender,
falando desamparadamente diante do mundo.
As palavras não chegam,
a palavra azul não chega,
a palavra dor não chega.
Como falaremos com tantas palavras? Com que palavras e sem
                                                                           [que palavras?
E, no entanto, é à sua volta
que se articula, balbuciante,
o enigma do mundo.
Não temos mais nada, e com tão pouco
havemos de amar e de ser amados,
e de nos conformar à vida e à morte,
e ao desespero, e à alegria,
havemos de comer e de vestir,
e de saber e de não saber,
e até o silêncio, se é possível o silêncio,
havemos de, penosamente, com as nossas palavras construí-lo.

Teremos então, enfim, uma casa onde morar
e uma cama onde dormir
e um sono onde coincidiremos
com a nossa vida,
um sono coerente e silencioso,
uma palavra só, sem voz, inarticulável,
anterior e exterior,
como um limite tendendo para destino nenhum
e para palavra nenhuma.»

***


Café do molhe


Perguntavas-me
(ou talvez não tenhas sido
tu, mas só a ti
naquele tempo eu ouvia)

porquê a poesia,
e não outra coisa qualquer:
a filosofia, o futebol, alguma mulher?
Eu não sabia

que a resposta estava
numa certa estrofe de
um certo poema de
Frei Luis de Léon que Poe

(acho que era Poe)
conhecia de cor,
em castelhano e tudo.
Porém se o soubesse

de pouco me teria
então servido, ou de nada.
Porque estavas inclinada
de um modo tão perfeito

sobre a mesa
e o meu coração batia
tão infundadamente no teu peito
sob a tua blusa acesa

que tudo o que soubesse não o saberia.
Hoje sei: escrevo
contra aquilo de que me lembro,
essa tarde parada, por exemplo.
****

Uma prosa sobre os meus gatos


Perguntaram-me um dia destes
ao telefone
por que não escrevia
poesia (ao menos um poema)
sobre os meus gatos;
mas quem se interessaria
pelos meus gatos,
cuja única evidência
é serem meus (digamos assim)
e serem gatos
(coisa vasta, mas que acontece
a todos os da sua espécie)?
Este poderia
(talvez) ser um tema
(talvez até um tema nobre),
mas um tema não chega para um poema
nem sequer para um poema sobre;
porque é o poema o tema,
forma apenas.
Depois, os meus gatos
escapam de mais à poesia,
ou de menos, o que vai dar ao mesmo,
são muito longe
ou muito perto,
e o poema precisa do tempo certo
de onde possa, como o gato, dar o salto;
o poema que fizesse
faria deles gatos abstractos,
literários, gatos-palavras,
desprezível comércio de que não me orgulharia
(embora a eles tanto lhes desse).
Por fim, não existem «os meus gatos»,
existem uns tantos gatos-gatos,
um gato, outro gato, outro gato,
que por um expediente singular
(que, aliás, também absolutamente lhes desinteressa)
me é dado nomear e adjectivar,
isto é, ocultar,
tendo assim uns gatos em minha casa
e outros na minha cabeça.
Ora só os da cabeça alcançaria
(se alcançasse) o duvidoso processo da poesia.
Fiquei-me por isso por uma prosa,
e mesmo assim excessivamente corrida e judiciosa.





*****

Sétimo Dia


Voltámos, um a um, da tua morte
para a nossa vida como quem regressa a casa
de uma longa viagem. Para trás ficaram recordações, países,
e agora é como se te tivéssemos sonhado.
A voz que, diante da escuridão, suspendemos
quando se desmoronou o mundo para o fundo de ti
erguêmo-la de novo para os afazeres diurnos
e para as horas comuns.
Ainda ontem estávamos sozinhos diante do Horror
e já somos reais outra vez.
A própria dor adormeceu no nosso colo
como um animal de companhia.
*****

Há um deus único e secreto
em cada gato inconcreto
governando um mundo efémero
onde estamos de passagem

Um deus que nos hospeda
nos seus vastos aposentos
de nervos, ausências, pressentimentos,
e de longe nos observa

Somos intrusos, bárbaros amigáveis,
e compassivo o deus
permite que o sirvamos
e a ilusão de que o tocamos

Manuel António Pina, Todas as Palavras. poesia reunida, Assírio & Alvim, 2012, p. 232-233, 240-241, 270-271, 288, 358

dois poemas de António Cândido Franco


Escultura de papel, por Sue Blackwell



VII


Ao céu regresso.
Quero dizer
à terra anoitecida
pelo amor.
Extasio-me
com a terrestre vida dos astros.
Passeio
por uma estrada de estrelas.
Isto é
uma estrada de flores sublimadas
pela noite.
Vou visitar um estábulo
em pleno universo.
Zodíaco.
Jardim zoológico astral.
Lá estão as constelações
irradiando o seu frio.
Quero dizer
os animais pela memória
desterrados.
Regresso à noite.
Piso a escuridão.
Olho o céu
como se a terra visse.
As estrelas são flores.
As constelações são animais.
O céu é um jardim
com um estábulo no meio.
Comem flores os animais da terra.
Mastigam estrelas os do céu.
O céu também é um chão
mas um chão feito de memória.
Estão lá os mitos.
Isto é
homens elevados
pela luz e pela palavra.
Pisam-se lá em cima astros
como em baixo
se pisam pedras.
No céu passo por mitos
e por ideias.
Estão lá poemas.
Quero dizer
coisas metaforizadas
por esta outra noite do mundo
íntima e secreta
que são as palavras.

****

17

Esforço-me por arrumar os pensamentos.

Antes não havia pássaros.
Era eu o pássaro.
Cantava
mas sem o saber.

Agora há pássaros.
Um pássaro sacudiu o corpo.
Acabei de o ver.
E acabei de por duas vezes
o ouvir cantar.
ainda o vejo e escuto
mas ele
prisioneiro do sia e da luz
não me vê.

Esse pássaro
está dentro da sua manhã de Primavera.
É um pássaro
tão alegre para mim
como tão triste é para ele.
Está tão livre e tão preso
como outrora eu estive
na minha infância
antes de nascer
quando cantava e não me ouvia
quando era mas não me via.

E foi preciso perder a minha infância
afastar-me tanto de casa
para que houvesse um pássaro à minha volta.

Quem é mais
ele ou eu?
Aquele que para nascer deixou de ser
ou aquele que continuou a ser para não ser?
Aquele que nem ser sabe
ou aquele que canta sem saber?

Quem devo escolher
aquele que alegria dá mais triste
ou o que tristeza dando conhece a alegria?

O que houve no haver sem ter havido
foi o que foi só feliz ou o que foi triste?


António Cândido Franco, Estâncias Reunidas 1977-2002, Edições Quasi: 2020, p.29-30, 148-149.