quarta-feira, março 28, 2007

despedida

já há algum tempo que isto deixou de fazer sentido, escrever neste blog. eu já não sou o mesmo, recentes acontecimentos e estradas percorridas levaram-me a reconsiderar muitas coisa. muitas delas nem fazem grande sentido. às vezes nem eu faço sentido para mim próprio, quanto mais para os outros. já morri no porto, não cheguei a renascer em lisboa, em poiares sou um sonâmbulo. a pouco tempo de fazer dois anos, este blog encerra as suas «tulisses», para melhores dias. também me encerro um pouco mais, mas é um percurso inevitável que só em fará crescer ainda mais. a todos os que por aqui passaram, comentando ou não, obrigado pela amizade. ficam sempre na geografia do meu coração. por fim, a ti que tantas coisas me ensinaste e fizeste ver de maneira diferente (ou não), também tu me mataste e matas todos os dias, mas a vida é também feita de mortes. termino como comecei, com um poema de sophia:

SOROR MARIANA - BEJA

Cortaram os trigos. Agora
A minha solidão vê-se melhor


O Nome das Coisas, 1977

quarta-feira, março 21, 2007

prémio camões

O Prémio Camões é o mais importante galardão literário de língua portuguesa, atribuído anualmente pela Fundação Biblioteca Nacional (de Portugal) e pelo Departamento Nacional do Livro (do Brasil) a um escritor que tenha desenvolvido um conjunto de obra relevante em língua portuguesa. E este ano foi, finalmente, entregue a António Lobo Antunes!

A lista de vencedores é a seguinte:
1989 - Miguel Torga (Portugal, 1907-1994)
1990 - João Cabral de Melo Neto (Brasil, 1920-1999)
1991 - José Craveirinha (Moçambique, 1922-2003)
1992 - Vergílio Ferreira (Portugal, 1916-1996)
1993 - Rachel de Queiroz (Brasil, 1910-2003)
1994 - Jorge Amado (Brasil, 1912-2001)
1995 - José Saramago (Portugal, 1922)
1996 - Eduardo Lourenço (Portugal, 1923)
1997 - "Pepetela" (Artur Carlos Mauricio Pestana dos Santos, Angola, 1941)
1998 - Antonio Candido (Brasil, 1918)
1999 - Sophia de Mello Breyner (Portugal, 1919-2004)
2000 - Autran Dourado (Brasil, 1926)
2001 - Eugénio de Andrade (Portugal, 1923-2005)
2002 - Maria Velho da Costa (Portugal, 1938)
2003 - Rubem Fonseca (Brasil, 1925)
2004 - Agustina Bessa-Luís (Portugal, 1922)
2005 - Lygia Fagundes Telles (Brasil, 1923)
2006 - José Luandino Vieira (Angola, 1935) (recusou o prémio por motivos pessoais)
2007 – António Lobo Antunes (Portugal, 1942)

Enterrem-me esse deus

(porque hoje é Primavera, mas também o dia da poesia)

(com versos de Afonso Duarte)

Também eu já fiz minha humanidade
De árvores, de pedras e de rios
E os deixei porque vi que sacrifiquei o amor
Por me encontrar de mais com a paisagem.

Agora trago os olhos quebrados de tristeza,
Quando na praia não há o tambor do mar
E nele apenas a gaivota, que me enche
De saudades e lonjuras de mim.

Jogo meu corpo às nuvens que o sol abrasa
Em ti, que bem meu corpo se acomodava –
- verso que dentro em nós não cabe.
Lá, eu posso morrer. Eu, posso lá morrer!

segunda-feira, março 12, 2007

deserto de mim


Primeira desilusão

Quebraram os vasos
Antes de eu nascer

Como pegar-lhes
Se não existimos mais?



Última desilusão

Plantaram as árvores
Antes de eu morrer

Como senti-las
Se não as chegarei a ver?

A palavra gato morde



«A palavra cão não morde»
Henry James

De todos os medos, aquele que mais me aterroriza é no instante imediatamente antes de dormir. À noite, quando a casa está silenciosa e deserta de ti e sombras crescem amplificando os objectos e os móveis, há a presença apenas dos meus passos, dos meus ruídos de preparação para dormir. Temos de arranjar um gato, talvez mitigasse esta sensação de escuro e quebrasse a solidão. Os gatos não fazem companhia, dizes. Arranja antes um cão – mas para esse era preciso mais tempo, para ensinar, para brincar. O melhor era o gato. Mesmo que não me ligasse nenhuma, estaria sempre por ali…
Só ao apagar a luz me descubro acompanhada. Ao entrar na cama ainda há o teu calor, ainda. Às vezes o teu perfume. Deixas sempre o pijama no chão, do teu lado. Nunca o apanho, pois isso seria quebrar as tuas rotinas e a ordem do teu mundo. Para chegar ao quarto é preciso progressivamente ir acendendo as luzes, e depois apagá-las. E espreitar pela janela, debaixo da cama, no guarda-fatos. É um pouco paranóico, mas desde pequena se tornou um ritual antes de dormir. Só tu o quebraste quando casámos e íamos juntos dormir, quando eu me sentia segura e feliz. Agora é a pressa e o desencontro das nossas vidas que nos colocam solitariamente de nós quase todo o dia. E é no momento de dormir, após alguma oração meio apressada e de uma canção ou duas, meio cantadas, meio balbuciadas, para entorpecer os sentidos, que enfrento a escuridão das horas seguintes. Nem sempre me apercebo de sombras de fora que passam pelas frinchas da janela, mas inevitavelmente só adormecerei deitada de lado, sobre o braço esquerdo – a posição que me permite estar de frente para a porta e para a janela. É impossível conseguir adormecer de outra maneira pois o vazio incomoda e provoca arrepios na espinha. De costas só para ti, como se pudesses proteger-me sempre, mesmo quando não estás. E enfrentar o que vier sempre de frente.

Quando volto é dia e as pessoas saem à rua para o trabalho. Tu estás como sempre com um sorriso pijamoso à minha espera, com um pequeno-almoço reforçado. Às vezes não é bem o pequeno-almoço que nos interessa… Queixas-te das saudades que sentiste esta noite, e do medo. Das saudades, pouco posso fazer, os meus turnos este mês são assim e não há nada a fazer, porque não consigo arranjar outro emprego. Do medo, aconselho-te novamente o cão: Quem tem medo compra um cão. Far-te-ia companhia, mas tu recusas por causa do trabalho que teríamos com ele. E com tão pouco tempo, ambos sempre fora de casa… Depois aproveitamos melhor a hora que temos juntos antes de ires trabalhar. Vais ficando fresca durante o duche, ganhas uma suavidade inebriante. E quando sais nada me resta mais para fazer. O pijama está no sítio de sempre. Quando entro na cama, encontro-te ainda nela, com o teu perfume e os vincos nos lençóis, que me acompanham no dia de que não verei muito mais luz.

Esta noite, em que jantaria sozinha, como sempre durante um mês, de mês a mês, tenho comigo um gato. É o gato da vizinha que saiu uns dias e me pediu para ficar com ele. Está a dormir, encostado à janela que talvez tenha ainda algum calor do dia. Depois de jantar poderei ler um pouco o romance que me ofereceste no aniversário e que ainda nem a meio vai. Não é mau mas é tão violento… Não tenho temperamento para policiais.
Lá fora anda um cão a espreitar pela porta. Talvez tenha adivinhado o gato num local estranho. O gato é que o adivinhou de imediato e eriçou o pelo, algo desconfortado, mas seguro pelo vidro. Para evitar tensões, fecho a persiana e até corro a cortina. O ritual hoje mantém-se, mesmo tendo aqui um gato. Ou talvez por isso, afinal o gato não é meu e não me deve qualquer tipo de amizade… E um gato não me pode proteger de nada nem de ninguém – a não ser da solidão. Se aqui aparecesse um criminoso qualquer o gato fugiria ou, na melhor das hipóteses, morria ao esboçar o mínimo gesto de ataque. A verdade é que para chegar ao quarto não sinto a necessidade de progressivamente ir acendendo as luzes, e depois apagá-las: avanço pela escuridão do corredor tantas vezes por mim percorrido, com o gato ronronante nos braços. Mas espreito pela janela, com a desculpa de tentar ver o cão de há pouco, e debaixo da cama, no guarda-fatos, onde o cão não poderá estar de maneira nenhuma.
O pijama no chão hoje incomoda-me e apanha-o e arrumo-o no guarda-fatos. Ao apagar a luz descubro-me acompanhada. Ao entrar na cama ainda há o teu calor, mas não o teu perfume. E neste momento de dormir, após uma oração sentida e de uma canção digna de ovação, fecho os olhos. O gato aninhou-se ao fundo da cama e não perturba com a sua respiração profunda. Apesar de tantas mudanças sei que só adormecerei deitada de lado, sobre o braço esquerdo, pelas mesmas razões de sempre. Penso que começa até a ser um peso excessivo sobre o coração. Será que dormir sempre assim poderá afectá-lo? Terei de falar com alguém sobre isso.

O dia nasce para tantos. Para mim também, mas o sono domina já os meus sentidos. Estranhamente não cheira a torradas quando entro em casa. Não há nada sobre a mesa. Não corre água no chuveiro, não há vapor. No quarto estás deitada, serena. O gato salta e foge quando me vê, corre pelo corredor… Queixas-te das saudades que sentiste esta noite, mas não muito do medo. Mas sabes que o gato não é teu, tens de arranjar um, então, já que gostaste da experiência e te sentiste melhor esta noite. Mas olha que o cão… Levantaste tentando recuperar o tempo perdido. Enquanto tomas banho eu preparo teu pequeno-almoço, a minha ceia. Sais de casa e subitamente fico tão só como nunca. O gato voltou para a cama e já nãos e incomoda com a minha presença. Demoro algum tempo a encontrar o pijama, mas quando o resgato entro na cama, encontro-te ainda nela, com o teu perfume, mas sem vincos. Tiveste talvez uma boa noite de sono descansada…

Foram as melhores noites de sono em anos. O gato ajudou-me a progressivamente ir deixando alguns medos. Hoje consegui adormecer de barriga para baixo! Quebrei tanto o ritual que nem sou a mesma mulher. Esta noite janto sozinha, como sempre durante um mês, de mês a mês. Já não tenho comigo o gato da vizinha. Acabei de ler o policial. Agora tenho no sofá um outro livro, parece ser mais do meu estilo, foi o que a tua irmã me ofereceu no meu aniversário. Foram tantos os livros que me ofereceram neste aniversário… com a desculpa de que não sabiam o que me oferecer…
O pijama continua a não estar no chão, e isso incomoda-me. Tiro-o do guarda-fatos. Ao apagar a luz descubro-me acompanhada. Neste momento de dormir, após uma oração sentida e de uma canção digna de ovação, fecho os olhos. Penso na necessidade de arranjar um gato, ou talvez um cão… A palavra gato enche-me a cabeça. A tua voz dizendo-o. De repente, naquele preciso momento de dormir, em que os pensamentos e as memórias começam a transformar-se em sonhos, a palavra na tua boca morde-me, e sinto então o teu calor e o teu perfume, e um ronronar delicado entre nós.

quarta-feira, março 07, 2007

excêntrico II





como prometido ;), em latim (de onde vem a forma do meu nome em português) e em grego (obviamente por similitude fonética, tal como no árabe e no indiano...)

sexta-feira, março 02, 2007

para quem acha que eu sou egocêntrico e tal...


afinal também sou excêntrico...
(o meu nome em indiano e em árabe, futuramente verm aí em latim e em grego... ou não)