quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Desafio 2012 - 2

sem comentários excessivos, a não ser que me tenho divertido muito, mas também chorado, perdido a paciência ou perdido a noção do tempo. e pronto.

Livros:

12. O Doutor Jivago, Boris Pasternak, Público/Mil Folhas, 608p.****
13. Grandes Museus do Mundo, E-Ducation.IT/Portfolio, 150p.****
14. O Diário Gráfico em Braga, Eduardo Salavisa, Fundação Bracara Augusta, 104p.*****
15. Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, Jonathan Safran Foer, Quetzal, 456p.*****
16. Pedro I, Manuel Poppe, Teorema, 104p.*****
17. Alguns gostam de poesia. Antologia, Cesław Miłosz e Wisława Szymborska, Cavalo de Ferro, 246p.*****
18. A Lenda de Despereaux, Kate DiCamillo, Gailivro, 288p.****(*)
19. O Mercador de Veneza, William Shakespeare, Cotovia, 180p.*****
20. Antídoto, José Luís Peixoto, Temas e Debates, 92p.***(*)
21. A Madona, Natália Correia, Público/Mil Folhas, 192p.****
22. Boneca de Luxo, Truman Capote, Público/Mil Folhas, 96p.***


Filmes:

26. Camino, Javier Fesser*****
27. Restless, Gus Van Sant****(*)
28. Gladiator, Ridley Scott (outrav vez, mas na versão alargada)*****
29. The Other Boleyn Girl, Justin Chadwick****
30. Kak ya provel etim letem, Aleksey Popogrebskiy****
31. Glitter, Vondie Curtis.Hall***
32. The Artist, Michel Hazanavicius*****
33. Wisegirls, David Anspaugh***(*)
34. The Bang Bang Club, Steven Silver*****
35. Elle S'Appelait Sarah, Gilles Paquet-Brenner*****
36. Jeux d'Enfants, Yann Samuell*****
37. Doctor Zhivago, David Lean****(*)
38. Puss in Boots, Chris Miller***(*)
39. Love Happens, Brandon Campo****
40. Jennifer's Body, Karym Kusama**(*)
41. Extremely Loud and Incredibly Close, Stephen Daldry*****
42. Capitães da Areia, Cecília Amado e Guy Gonçalves***(*)
43. Catch Me If You Can, Steven Spielberg****
44. Biutiful, Alejandro González Iñárritu****(*)
45. Funny People, Judd Apatow***
46. Última Parada 174, Bruno Barreto****
47. Hugo, Martin Scorsese****(*)
48. Scenes of a Sexual Nature, Ed Blum****(*)
49. Lie With Me, Clément Virgo**(*)
50. The Descendants, Alexander Payne****(*)
51. War Horse, Steven Spielberg****
52. The Woman in Black, James Watkins***(*)
53. Moneyball, Bennett Miller****
54. Eating Out, Q. Allan Brocka***
55. Eating Out 2: Sloppy Seconds, Phillip J. Bartell***
56. Eating Out 3: All you can eat, Glenn Gaylord**(*)
57. Eating Out 4: Drama Camp, Q. Allan Brocka**
58. Carnage, Roman Polanski*****

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

três poemas de Wisława Szymborska



Nada duas vezes

Duas vezes nada acontece
nem acontecerá. E assim sendo,
nascemos sem prática
e sem rotina vamos morrendo.

Nesta escola que é o mundo,
mesmo os piores
nunca repetirão
nenhum inverno, nenhum verão.

Os dias não podem ser repetidos,
não há duas noites iguais,
não há beijos parecidos,
não se troca o mesmo olhar.

Ontem, o teu nome
em voz alta pronunciado
foi como se uma rosa
me tivessem atirado.

Hoje, ao teu lado,
voltei a cara para a parede.
Rosa? O que é uma rosa?
Será flor? Talvez rocha?

Porque tu, ó má hora,
me trazes a vã tristeza?
Se és, tens de passar.
Passarás - e daí a tua beleza.

Abraçados, enlevados,
tentaremos vencer a mágoa,
mesmo sendo diferentes
como duas gotas de água.


**
Parábola

Os Pescadores tiraram uma garrafa das profundezas.
Havia nela um papel que continha as seguintes palavras:
"Acudam! Estou aqui. O oceano atirou-me para uma ilha deserta. Estou junto à água à espera de ajuda. Depressa. Estou aqui!"
- Não traz data. Por certo já e tarde. A garrafa poderia ter andado à deriva por muito tempo - disse o primeiro pescador.
- E não indicou o lugar. O oceano, pode ser um qualquer - disse o segundo pescador.
- Não é por ser tarde nem longe. A ilha Aqui pode estar em qualquer parte - disse o terceiro pescador.
Sentiram embaraço, fez-se silêncio. Com as verdades universais, é sempre assim.

***

Impressões do teatro


Para mim, o mais importante na tragédia é o sexto ato:
o ressuscitar no campo de batalha,
o agitar das perucas e dos trajes,
o arrancar da faca do peito,
o tirar da corda do pescoço,
o dispor-se na fileira entre os vivos
de cara voltada para o público.

As vénias individuais e coletivas:
a mão branca sobre a ferida no peito,
o reverenciar da suicida,
o acenar da cabeça cortada.

As vénias aos pares:
a fúria dando o braço à brandura,
a vítima trocando um olhar doce com o carrasco,
o rebelde sem rancor acertando o passo com o tirano.

O pisar da eternidade com a biqueira da botina dourada.
O escorraçar da moral com a aba do chapéu.
A incorrigível prontidão de recomeçar amanhã.

A entrada em fila indiana dos mortos
nos actos terceiro, quarto e nos entreatos.
O milagroso retorno dos desaparecidos sem notícia.

Pensar que esperavam pacientemente nos bastidores,
sem tirarem as vestes,
sem limparem a maquilhagem,
comove-me mais do que as tiradas trágicas.

Porém, o mais sublime é o cair do pano
e o que se avista através da fresta minguante.
Aqui, uma mão apressa-se para chegar às flores,
acolá, uma outra apanha a espada caída.
Por fim, uma terceira mão invisível
cumpre o seu dever:
aperta-me a garganta.


Czesław Miłosz e Wisława Szymborska, Alguns Gostam de Poesia. Antologia, Lisboa: Cavalo de Ferro, 2004:113, 135, 153

outras referências aqui.

Três poemas de Czesław Miłosz


Marta Minujin, Torre de Babel



Fé, é quando vemos
A gota de orvalho ou a folhinha pelo rio fluir
E sabemos que existem pois têm de existir.
E ainda que de olhos fechados nos deixemos sonhar
Só haverá no mundo o que havia
E as águas do rio a folhinha vão levar.

Fé, é quando ferimos
O pé na pedra e sabemos que as pedras
Lá estão para que os pés nos firam.

Vejam quão grande é a sombra das árvores,
Assim como a nossa e a das flores,
O que não tem sombra, não tem força para existir.

**
Amor

Amor significa olharmo-nos
Como se olha as coisas não familiares,
Pois somos apenas uma entre milhares.
E quem assim se olha, mesmo sem saber,
De muitas mágoas o coração vai proteger.
E chama-no de antigo o pássaro e a árvore.

Então sim, quer desfrutar de si e de tudo
Para que tudo brilhe no clarão da plenitude.
E não importa não saber ao que servir,
Nem sempre serve melhor quem sabe.

***
Cardo, urtiga

(...) le chardon et la haute
Ortie et l'ennemie d'enfance belladonne

O. Miłosz


Cardo, urtiga, bardana, beladona
Têm futuro. Deles são os baldios,
Os trilhos enferrujados, o céu e o silêncio.

Quem serei eu para as gerações vindouras,
Quando depois da babel das línguas se premiar o silêncio?

Devia ter.me resgatado o dom de versejar,
Mas tenho de estar pronto para a terra não gramatical.

Com o cardo, a urtiga, a bardana, a beladona,
E sobre eles uma brisa, uma nuvem sonolenta, o silêncio.


Czesław Miłosz e Wisława Szymborska, Alguns Gostam de Poesia. Antologia, Lisboa: Cavalo de Ferro, 2004:21, 25, 81.

domingo, fevereiro 12, 2012

Whitney Houston. 1963-2012

as canções que, por diferentes motivos, mais gosto de Whitney Houston - longe daqueles grandes clássicos que a maioria escolheria, as canções de amor que a tornaram conhecida. A primeira é, no entanto, uma escolha óbvia: vencedora de um Óscar, as duas vozes femininas dos anos noventa juntas, numa canção belíssima do filme »O Príncipe do Egito»; a segunda, também de um filme, sempre me agradou pelo que de soul existe nela e como facilmente se constrói; a terceira também,além do que traz do amor pela filha. e pronto, aqui ficam, em forma de homenagem:



Mariah Carey e Whitney Houston, «When you Believe», 1998


«Exhale (Shoop Shoop)», 1995


«My love ir your love», 1998


sábado, fevereiro 11, 2012

dois poemas do Doutor Jivago


Hamlet (de  Franco Zeffirelli, com Mel Gibson)

Hamlet

Extinguiu-se o sussurro. Entrei em cena.
Junto à ombreira da porta,
vou surpreendendo no eco longínquo
o quanto a vida me destina.

Uma obscuridade noturna me destaca
frente a milhares de olhos.
Se for possível, pai,
afasta de mim este cálice.

Respeito o teu obstinado desígnio
e representarei em concordância esse papel.
Está-se porém a dar agora um outro drama
e desta vez, pelo menos, peço renúncia.

Mas a ordem dos atos está já fixada.
Fatal o rumo, fatal o fim.
Em meu redor só há hipocrisia. Sinto-me só.
Viver não é simplesmente atravessar um campo.

***

Março

O Sol empapa as gentes de suor
e o barranco agita-se abrasador.
Como o de uma vigorosa pastora
na primavera o labor escalda as mãos.

Desfalece a neve, enferma de anemia,
em ramificações de debilitadas veias azuladas.
Mas vibra de vida o estábulo
e espelham saúde os dentes das forquilhas.

Oh, estas noites, estes dias e estas noites!
O tamborilar das gotas a meio do dia,
pedacinhos de gelo a fundirem-se nos telhados,
chilreio de arroios que não dormem!

Tudo escancarado, a colheita e o estábulo.
Na neve as pombas debicam a aveia
e, de tudo o que é vivificante e reconhecível,
aromatiza o fresco ar o estrume.


Boris Pasternak, O Doutor Jivago, Público/Mil Folhas, 2002: 551, 553

sábado, fevereiro 04, 2012

gatos


Perante a beleza

O gato não é um simples animal
é um pedaço de Deus mas mais divino
sem aquelas horrendas histórias de incestos
dilúvios punições e outras derivações.
O gato não come nem bebe
ele apenas ingere para não ser notado
pois da última vez que o não fez acharam-no o Diabo
ou que ajudava as bruxas nos seus afazeres.
Quando anda pelos telhados quentes
é um bailado com uma música que só ele escuta
as ondas vêm e vão como num oceano
mas elas são quentes e terminam em garras.
O gato não morre mesmo depois das suas sete vidas
vai para o paraíso rasgar sofás e miar à Lua
e de vez em quando é visível nos raios de Sol
que nos batem no rosto e então
temos de fechar os olhos.

****


Em Roma, os gatos são múltiplos e têm um templo.
Lá, todos lhes levam alimentos como antiga oferenda.
Desconfio que são os deuses todos em forma visível.

quarta-feira, fevereiro 01, 2012

Wisława Szymborska (1923-2012)



Alguns -
quer dizer nem todos.
Nem a maioria de todos, mas a minoria.
Excluindo escolas, onde se deve
e os próprios poetas,
serão talvez dois em mil.

Gostam -
mas também se gosta de canja de massa,
gosta-se da lisonja e da cor azul,
gosta-se de levar a sua avante,
gosta-se de fazer festas a um cão.

De poesia -
mas o que é a poesia?
algumas respostas vagas
já foram dadas,
mas eu não sei e não sei, e a isto me agarro
como a um corrimão providencial.

in Alguns gostam de poesia. Antologia. Lisboa: Cavalo de Ferro, 2004: 215
outro poema aqui.