terça-feira, junho 12, 2007

Lisboa nos últimos dias…


4 de Junho – Foi o dia maravilhoso em que eu, euzinho no meio de 165 pessoas, fiz o exame do Instituto Camões para uma das 19 vagas previstas de leitor de Português. Até que correu bem a primeira parte, a de análise e comentário gramatical de um texto de um aluno em aprendizagem da Língua Portuguesa. Valeu-me a leitura das suas teses de Isabel Leiria (A Aquisição dos Aspectos Verbais, e A aquisição do Léxico – títulos abreviados ao seu essencial disponíveis na biblioteca da FLUL – e um artigo encontrado na Internet: «Português língua segunda e língua estrangeira: investigação e ensino», que também deu uma ajuda importante, porque os desvios e falhas são comentados tendo em conta a aprendizagem dos estrangeiros e suas condicionantes não só gramaticais tradicionais mas sobretudo contextuais, pragmáticas, sociolinguísticas…). A segunda parte era composta por duas questões para escolher uma: ou a aquisição do léxico (Isabel Leiria outra vez – ela até era a presidente do júri de correcção e tal…) ou a relação literatura e outros textos na aprendizagem da língua. Escolhi esta última sobretudo porque umas semanas antes fiz uma recensão crítica ao artigo de Fernanda Irene Fonseca «Da Inseparabilidade do Ensino da Língua e o Ensino da Literatura», tendo para isso reflectido em textos de outros autores, nomeadamente Margarida Vieira Mendes, Manuel Gusmão, Aguiar e Silva – que me deram uma base teórica considerável para resolver esta questão que estava, obviamente, direccionada para o ensino-aprendizagem do Português como língua estrangeira/segunda. A terceira parte, aquela que em princípio seria a mais acessível por ser a de cultura, sobretudo a partir dos anos setenta, foi a mais complicada. Duas questões para escolher uma: ou a revisão da história recente de Portugal (nomeadamente colonial e pós-colonial – e eu a fazer um seminário chamado Diálogos Pós-Coloniais entre Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas) ou a relação entre as artes e a tecnologia. Respondi a esta última, porque numa nota impertinente dizia qualquer coisa como «Não se pedem exemplos da literatura» - logo eu não podia ir para o colonial pós-colonial porque não me lembrava de nada das outras artes que fizessem essa revisão, a não ser A Costa dos Murmúrios de Margarida Cardoso que, lá está, vem do livro homónimo de Lídia Jorge. Lá inventei como pude, falando de arquitectura, dança e cinema de fugida, de música focando Madredeus e o seu Electrónico, de artes plásticas e suas instalações e de teatro e do caso específico das encenações de Ricardo Pais, para terminar com umas considerações um pouco estranhas sobre o repensar da arte e da sua relação com os públicos. Enfim, três horas, onze páginas de escrita rigorosa (pois é) e tal.

(para quem está interessado, aqui ficam mais algumas referências breves de textos que consultei: «A Propósito De Uma Política De Língua» e «Uma Política de Língua para o Português» de Maria Helena Mira Mateus, disponíveis na Internet, uma tese de Valéria Verónica Quiroga sobre a aprendizagem do Espanhol, mas com introdução teórica relevante, também disponível on-line: A autonomia no processo de ensino-aprendizagem para a formação de professores de língua estrangeira: Espanhol, o site da Associação de Professores de Português, e outras pequenas coisas mais ou menos discutíveis que se vão encontrando, e para exercícios, veja-se ainda: http://www.prof2000.pt/users/anamartins/FLUP/LPE/Aula1.html, e as outras aulas).

Feira do Livro

Lisboa representa este ano também uma nova vertente da feira do livro. Ao ar livre, no Parque Eduardo VII. Desculpem-me o saudosismo, mas gosto mais da do Porto, a organização é mais sequenciada e nunca ninguém lá me apalpou como aqui. Mas esta tem a vantagem de aparecerem mais escritores para dar autógrafos. No dia 2, lá estavam, entre outros, Saramago, José Luís Peixoto, Pepetela, José Eduardo Agualusa, Alice Vieira, José Rodrigues dos Santos… Comprei algumas coisitas, claro, aproveitando o dinheiro recebido no meu aniversário: O Barão de Lavos de Abel Botelho, Histórias de cronópios e de famas de Júlio Cortázar, As Meninas de Lygia Fagundes Telles, Na Leveza do Luar Crescente de Arlindo Berbeitos, Contos Outra Vez de Luísa Costa Gomes, 2 filmes e algo de algodão de Jacinto Lucas Pires, Perseguição e Cerco de Juvêncio Gutierrez de Tabajara Ruas e os seis últimos volumes do Dicionário Ilustrado de Literatura Portuguesa… Obrigado à Carla por me ter aturado por lá em duas das três vezes em que fui!

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