quarta-feira, outubro 06, 2010

Tomai lá (não do O'Neill) do Cesariny

O Álvaro gosta muito de levar no cu
O Alberto nem por isso
O Ricardo dá-lhe mais para ir
O Fernando emociona-se e não consegue acabar.

O Campos
Em podendo fazia-o mais de uma vez por dia.
Ficavam-lhe os olhos brancos
E não falava, mordia. O Alberto
É mais por causa da fotografia
Das árvores altas nos montes perto
Quando passam rapazes
O que nem sempre sucedia.

O Fernando o seu maior desejo desde adulto
(Mas já na tenra idade lhe provia)
Era ver os hètèros a foder uns com os outros
Pela seguinte ordem e teoria:
O Ricardo no chão, debaixo de todos (era molengão
Em não se tratando de anacreônticas) introduzia-
-Se no Alberto até à base
E com algum incómodo o Alberto erguia
Nos pulsos a ordem da Kabalia
Tentando passá-la ao Álvaro
Que enroscado no Search mordia mordia
E a mais não dava atenção.
O Search tentava
Apanhar o membro do Bernardo
Que crescia sem parança direcção espaço
E era o que mais avultava na dança
Das pernas do maço da heteronomia
A que aliás o Search era um pouco emprestado
Como de ajuda externa (de janela do lado)
Àquela endemonia
Hoje em dia moderna e caso arrumado.

Formado o quadrado
Era quando o Aleyster Crowel aparecia.
"Iô Pan! Iô Pã!", dizia,
E era felatio para todos
E pão de ló molhado em malvasia.

Mário Cesariny, Uma Grande Razão: Os Poemas Maiores

4 comentários:

anjo disse...

uma grande razão e um grande poeta nem sempre aplaudido «««

tulisses disse...

um dia destes, acidentalmente, ainda mostro este poema aos alunos. Para alguns, Pessoa ganhará uma nova visibilidade. :)

Conceição disse...

Ontem, para ver se os alunos se interessavam mais por Cesário, pois quase dormiam com De tarde ( e muito injustamente, porque é um excelente poema), acabei por lhes falar de um outro poema com um verso em comum, mas não me atrevi a mostrar-lhes. De qualquer modo falei em Cesariny e dei vagas instruções de como poderiam chegar ao poema. Se lá chegarem, sempre fica como introdução a Pessoa e até pode ser que os motive a ler mais Cesariny.

tulisses disse...

Ai, «De Tarde» é um poema maravilhoso e os meus alunos deste ano até o encararam bem (fui pelo lado do que nos é dito e do qu eé sugerido, com o ramalhate como engodo), logo não tive de de ir buscar este Cesariny :)

Tenho a certeza que muitos ficariam escandalizados e leriam com muito mais interesse outros poemas. No ano passado, nesta mesma turma que gostou do «De Tarde», um grupo fez um trabalho sobre Cesariny e estiveram tentados a apresentar este poema, mas tiveram, palavras dos seus elementos, «pudor». Ah, delícias da juventude!