Agora que regressamos é nisto que penso
enquanto fazemos sinais uns para os outros com as luzes
dos carros, na rápida estrada, ao anoitecer.
Olha-se devagar para a vida e sobretudo assim
damos conta dos silêncios,
dos nomes devolvidos ao tão de leve silêncio.
A casa vincada pela névoa, a
aldeia imobilizada ao passearmos em grupos,
o café que me conforma quando o recebo entre as mãos.
Como dizer que são estas as mais secretas regiões da alma
a que voltamos sempre
nos maiores frios de dezembro?
Se de repente dizem que estamos a uma eternidade
frágil dos dias inquietos,
cruzas uma palma da mão sobre a outra e olhas para as
unhas, rindo de quando em vez para mim, que fico tão feliz.
e no regresso, quando os sobressaltos se repetem
e anoitece nas estradas vazias e o mundo adormece,
há uma solidão que estremece as bermas e nos aflige debaixo da
língua, como uma chuva miudinha.
Como falar depois da tua inclinada casa a meu lado
e do recanto mais longínquo dos pinhais?
Como acreditar que o tempo não tratá aos olhos a maior
solidão
em que ficámos?
Rui Coias, A Função do Geógrafo, Vila Nova de Famalicão: Quasi, 2000, p.15-6
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