Um dos meus projectos este ano é escrever um conto todas as semanas, sem falhar. como tal, já escrevi dois. O primeiro é «Casa dos corações partidos», este é o segundo, e gosto muito dele. do outro também, mas não vou publicá-lo aqui, para já... como não vou publicá-los todos... enfim, depois gostava de alguma reacção... ou não...
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Gostei muito do livro, tinhas razão, vale mesmo a pena. Parece que tem tantas páginas que até se tem pena que acabem depois. Mas o livro tinha uma coisa a mais. Olhou para mim, de só movendo a cabeça, como que receando que essa coisa fosse algo comprometedor. O que era? Oh, era areia, mais nada, está sossegado. Ah, pois! Eu li o livro quando estava de férias na praia, em Setembro há uns anos atrás. Hum… E já na altura gostei imenso dele, andava sempre com ele, depois, com outras obrigações nunca mais lhe peguei… Mas também não lhe irias tirar a areia… Pois, provavelmente não, gosto de guardar coisas nos livros, tipo recordações dos sítios e dos tempos em que os li: papéis dos chocolates que comi ao ler alguma passagem mais quente, pétalas de rosas quando lia passagens românticas, areia quando lia na praia, folhas quando lia no jardim, cartas, poemas, escritos que escrevi a propósito de alguma coisa lida, às vezes até no próprio livro, nas margens… Enquanto ele falava olhava à minha volta, com emoção da possibilidade de encontrar um tesouro no meio de todos aqueles livros e descobrir muito mais da vida dele do que alguma vez me diria…Mas o que não quer dizer sequer que tenham essa lógica, pode estar tudo baralhado… Como assim? Sei lá, olha, uma carta que está neste livro posso tê-la recebido e lido quando estava a ler outro livro, mas esse podia estar à mão e calhou ir para lá… se calhar não guardo as coisas, perco-as… Bem, o conhecimento não seria tão profundo, mas ainda assim possível. Então, um pouco a medo e só para ver no que dava, pedi mais três livros emprestados. Quando cheguei a casa o coração descompassado centrou-se nas muitas páginas dos romances. No primeiro havia um fio azul de linha, no segundo um marcador de livros, no terceiro nada, no quarto alguns rabiscos incompreensíveis e uma folha de plátano seca. Nada mais. Para não dar demasiado nas vistas, esperei uma semana até os devolver. Quando entrei na sala dele tive a sensação de ser o centro da atenção dos livros, como se me estivessem a ler, já que eu agora recusava lê-los, a não ser o que as mãos dele tivessem escrito neles. A tentação de devassar aquele tesouro desordenado e caótico era maior que a minha prudência e não resisti a abrir uns quantos enquanto ele preparava um chá. Encontrei algumas coisas que não li no momento, preferi guardá-las na minha capa, com a firme intenção de devolver logo que as tivesse lido. Sim, amanhã já estariam nos seus sítios, ou mais ou menos, porque ao olhar para a estante fiquei sem saber de onde as tinha tirado. O chá foi rápido e corri, sem trazer mais livro nenhum, nada. O tesouro devassado, uma mínima parte jazia em cima da minha cama e não tive coragem de o possuir. Nessa mesma noite voltei e consegui deixar tudo no meio de livros que fingia interessarem-me muitíssimo. Até que um deles tinha uma fotografia de uma mulher bonita, com um vestido perto decotado, com uma cabeleira ruiva encaracolada, e no verso estava escrito um nome e um beijo. Foi como que um baque súbito e forte. Com uns ciúmes doidos, propus-lhe organizar a sua biblioteca toda, retirar as coisas perdidas e guardá-las numa caixa e talvez confrontá-lo. Recusou, como seria de esperar. Mas isso assim não tem utilidade nenhuma, quando procurares uma coisa nunca a encontrarás! Elas acabam sempre por aparecer. Mas tu emprestas livros a toda a gente, elas podem ler ou ver alguma coisa… pessoal, secreta… Não tenho segredos… Baixei os olhos, toda a gente tem segredos. E pensei em perguntar quem era aquela mulher. Que papel tinha na sua vida. Mas faltou a coragem. Se bem que ando à procura de uma foto que só pode estar num livro. Uma foto? Sim, de uma amiga, é a melhor foto dela e pediu-ma para fazer uma cópia porque perdeu a dela. Talvez fosse a verdade, não sei. Não vi nada nos livros que me emprestaste… Pois, vou então procurar, mas amanhã, queres vir ajudar-me? Aceitei, mas vinha só de tarde. À tarde, quando cheguei, era já demasiado tarde, embrenhado nos seus livros e leituras, coisas e memórias, fora engolido pelo caos.
Gostei muito do livro, tinhas razão, vale mesmo a pena. Parece que tem tantas páginas que até se tem pena que acabem depois. Mas o livro tinha uma coisa a mais. Olhou para mim, de só movendo a cabeça, como que receando que essa coisa fosse algo comprometedor. O que era? Oh, era areia, mais nada, está sossegado. Ah, pois! Eu li o livro quando estava de férias na praia, em Setembro há uns anos atrás. Hum… E já na altura gostei imenso dele, andava sempre com ele, depois, com outras obrigações nunca mais lhe peguei… Mas também não lhe irias tirar a areia… Pois, provavelmente não, gosto de guardar coisas nos livros, tipo recordações dos sítios e dos tempos em que os li: papéis dos chocolates que comi ao ler alguma passagem mais quente, pétalas de rosas quando lia passagens românticas, areia quando lia na praia, folhas quando lia no jardim, cartas, poemas, escritos que escrevi a propósito de alguma coisa lida, às vezes até no próprio livro, nas margens… Enquanto ele falava olhava à minha volta, com emoção da possibilidade de encontrar um tesouro no meio de todos aqueles livros e descobrir muito mais da vida dele do que alguma vez me diria…Mas o que não quer dizer sequer que tenham essa lógica, pode estar tudo baralhado… Como assim? Sei lá, olha, uma carta que está neste livro posso tê-la recebido e lido quando estava a ler outro livro, mas esse podia estar à mão e calhou ir para lá… se calhar não guardo as coisas, perco-as… Bem, o conhecimento não seria tão profundo, mas ainda assim possível. Então, um pouco a medo e só para ver no que dava, pedi mais três livros emprestados. Quando cheguei a casa o coração descompassado centrou-se nas muitas páginas dos romances. No primeiro havia um fio azul de linha, no segundo um marcador de livros, no terceiro nada, no quarto alguns rabiscos incompreensíveis e uma folha de plátano seca. Nada mais. Para não dar demasiado nas vistas, esperei uma semana até os devolver. Quando entrei na sala dele tive a sensação de ser o centro da atenção dos livros, como se me estivessem a ler, já que eu agora recusava lê-los, a não ser o que as mãos dele tivessem escrito neles. A tentação de devassar aquele tesouro desordenado e caótico era maior que a minha prudência e não resisti a abrir uns quantos enquanto ele preparava um chá. Encontrei algumas coisas que não li no momento, preferi guardá-las na minha capa, com a firme intenção de devolver logo que as tivesse lido. Sim, amanhã já estariam nos seus sítios, ou mais ou menos, porque ao olhar para a estante fiquei sem saber de onde as tinha tirado. O chá foi rápido e corri, sem trazer mais livro nenhum, nada. O tesouro devassado, uma mínima parte jazia em cima da minha cama e não tive coragem de o possuir. Nessa mesma noite voltei e consegui deixar tudo no meio de livros que fingia interessarem-me muitíssimo. Até que um deles tinha uma fotografia de uma mulher bonita, com um vestido perto decotado, com uma cabeleira ruiva encaracolada, e no verso estava escrito um nome e um beijo. Foi como que um baque súbito e forte. Com uns ciúmes doidos, propus-lhe organizar a sua biblioteca toda, retirar as coisas perdidas e guardá-las numa caixa e talvez confrontá-lo. Recusou, como seria de esperar. Mas isso assim não tem utilidade nenhuma, quando procurares uma coisa nunca a encontrarás! Elas acabam sempre por aparecer. Mas tu emprestas livros a toda a gente, elas podem ler ou ver alguma coisa… pessoal, secreta… Não tenho segredos… Baixei os olhos, toda a gente tem segredos. E pensei em perguntar quem era aquela mulher. Que papel tinha na sua vida. Mas faltou a coragem. Se bem que ando à procura de uma foto que só pode estar num livro. Uma foto? Sim, de uma amiga, é a melhor foto dela e pediu-ma para fazer uma cópia porque perdeu a dela. Talvez fosse a verdade, não sei. Não vi nada nos livros que me emprestaste… Pois, vou então procurar, mas amanhã, queres vir ajudar-me? Aceitei, mas vinha só de tarde. À tarde, quando cheguei, era já demasiado tarde, embrenhado nos seus livros e leituras, coisas e memórias, fora engolido pelo caos.
2 comentários:
:/ n gostei...mas eu cm uma boa profissional vou analisar porkê. Fica em standby. Mas foi a primeira reacção.
eu identifiquei-me...as vezes gosto de descobrir os segredos mais intimos das pessoas, mesmo que nao o sejam assim tao intimos...por estarem num livro parece que ganham uma outra história;)
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