segunda-feira, maio 07, 2007

A estória nenhuma

Em poema:

Era uma vez uma vez
Ou a vez nenhuma
Nesses tempos o tempo estava de férias
E o espaço era o vazio do nada.
Os seres não existentes faziam acções inexistentes
De quem ninguém não falava.

Era uma história como nenhuma outra.


Em conto:

Era uma vez uma vez, ou a vez nenhuma. Nesse tempo, o tempo estava de férias ou tinha emigrado, se é que alguma vez existiu. E o espaço era o vazio do nada de uma aldeia comum a todas as outras de norte a sul, passando pelo centro. Nesta aldeia não houve uma mulher sonâmbula que se levantava todas as noites e, com um cântaro na cabeça, ia à fonte buscar água, regressando transbordando de vida. E uma noite, essa mulher que não existia, pegou no cântaro e saiu até à ilusória fonte. No regresso, sempre sonâmbula em si, não retirou de cabeça e ao entrar em casa partiu-se e acordou-a com o contacto com a água fria. Mas nada disto aconteceu, claro, porque os seres não existentes não praticam acções – e estas são inexistentes. E ninguém não falava delas. Era uma estória como nenhuma outra.

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