- Diz-me o que vês. Na tua língua - disse em Inglês, a meu lado.
Da cama, eu via o tecto.
- Tábuas: umas para dentro, outras para fora, em relevo. Pintadas de branco. Imperfeitas, com nós, mal cortadas, com mossas. Desfilam de uma ponta à outra sem interrupções - parei, no meu Português que tentava ser claro.
Sem mais, deitou-se em cima de mim, corpo com corpo, peito com peito, faces a dois centímetros, e disse:
- O que vês agora? - em Inglês.
- O rosto com quem queria passar o resto da minha vida - em Português.
Não sei se me percebeu, mas disse-me em seguida em Inglês:
- Agora é a minha vez.
E saiu uma formulação incompreensível em Alemão. Ri-me um pouco, do discurso sem sentido para mim, da pressão que me fazia o seu corpo, numa tentativa vã de aliviar o peso do momento. Riu-se também. Ia dizer qualquer coisa, mas arrependeu-se. em vez disso, apertou as minhas mãos nas suas e beijou-me. Beijámo-nos pela primeira vez, como se fosse a última. E foi. Pelo menos para já...
em dia que seria de namorados. em que o sonho se mistura com a realidade, ou a realidade é tão boa que parece sonho. de amor que nem sempre tem de se realizar para permanecer eterno, ou que tem apenas de se realizar numa outra coisa que não a vida consciente para que se ganhe novo fôlego. ou porque.
5 comentários:
Este texto é excelente para o dia. Como os outros, está fantástico. Deliciei-me.
não sei se é realidade se é sonho... mas é bonito!
:)
beijinhos!
PS: se for sonho não deixes de tentar fazer com que seja realidade... os sonhos são demasiado etéreos... não se podem abraçar.
PS2: talvez esteja na altura de aprender alemão!
Não quero saber se é ou não sonho. O que sei é que é um texto excelente, magnífico, que gostaria ter saído do meu punho.
Parabéns!
...
Andamos os dois muito românticos, muito TUlinhos, não é T.?
para não espalhar respostas pelos posts todos... fica tudo aqui.
1.º - obrigado pelo apoio quanto à comunicação. está pronta, agora só lhe pego segunda-feira quando me enfiar no autocarro às 7:45 da manhã com direcção a Lisboa. Mas antes ainda hei-de ir à feira da caminho quando chegar, só para não me matar de ansiedade ;).
2.º - afinal não está assim tão má... e tem a vantagem de ser inédita - no sentido de nunca ninguém ter trabalhado estes livros, pelo menos nesta perspectiva.
3.º - é verdade, ontem troquei um conjunto considerável de comentários com o Paulo. quando há tempo para que se possa inventar coisas para fazer além das obrigatórias, é assim... mas foi interessante.
em resposta (ainda).
sonho e realidade confunde-se-me às vezes (raul brandão à força toda).
aprender alemão... não é preciso. o português de ambos já dá para umas coisitas...
quanto ao texto, não é assim tão... mas se calhar quando sai mais espontâneo sem tratamento pareça mais verdadeiro.
eu, romântico? sempre me acusaram de não o ser... mas consigo momentos arrebatadores!
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