segunda-feira, setembro 29, 2008

Sugestões de Setembro


Toda a gente me dizia: começas a dar aulas e acabam as tuas leituras fabulosas. Em parte é verdade: não li tanto, nem coisas tão grandes neste mês de início de carreira docente; mas li, o que não é mau, sem ser coisas para o Colégio. Aqui ficam, acompanhadas por outras sugestões:


Livros:

1 – A Bíblia (Cartas de São Paulo: Romanos, Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, Tessalonicenses, Timóteo, Tito, Filémon, Hebreus), Paulus***

argumentos: um conjunto de cartas potencialmente escritas todas por São Paulo onde estão muitos dos alicerces da Igreja: a resolução de casos práticos, do dia-a-dia, face à boa nova trazida por Cristo. Destaque para a misoginia. Vale a pena conhecer: «Somos amaldiçoados, e abençoamos; perseguidos, e suportamos; caluniados, e consolamos. Até hoje somos considerados como o lixo do mundo, o esterco do universo.» (1Cor 4, 12-13) ou «Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim.» (Gl 2, 20).


2 – O Cais das Merendas, Lídia Jorge, JL/Visão/D. Quixote**

argumentos: depois de livros tão bons como A Costa dos Murmúrios e O Belo Adormecido, e outros menos bons, mas ainda assim recomendáveis, como O Dia dos Prodígios e A Instrumentalina e Outros Contos, este livro surpreendeu-me pela negativa. Cansei-me de mais com as conversas e acções de um grupo de gentes que faz as suas merendas, depois serões, depois parties, depois outros nomes. Vê-se uma nítida crítica ao crescimento desmesurado do turismo algarvio, mas enquanto obra estética, e apesar das experiências e algumas ousadias, o livro não me convenceu. Mas com alguns momentos interessantes, como: «Para falar de Rosário deveríamos inventar um nome que se chamasse orassàp, se fosse possível, porque ela quis voar ao contrário dos passarinhos quando estão assustados pelo bater das palmas.» (p.71); ou «Na praia a claridade era tão intensa e tudo tão despido que qualquer santo quereria ser violado mesmo depois da colonização.»(p.127); e a terminar, uma frase que achei muito bonita: «um ar de estátua pousada no dorso da melancolia»p.24.


3 – O Circo da Onça Malhada – Iniciação à Obra de Ariano Suassuna, Carlos Newton Júnior, ArteLivro***

argumentos: um livro que a Aldinida, apaixonada por Ariano Suassuna, me emprestou para ler, para ver se eu me apressava a ler a sua obra. Este livro em específico fala da vida e obra, por vezes interligadas. E fiquei com vontade de ler Cantam as Harpas de Sião – agora com o título de O Desertor da Princesa - , o Auto da Compadecida e O Romance d’A Pedra do Reino (e companhia). Um dia será!


4 – O Retrato do Sr. W. H., Oscar Wilde, Quasi***

argumentos: um daqueles livrinhos que o DN ofereceu este verão. Pequeno, portanto, mas denso e interessante. Nele, ensaia-se a possibilidade de a dedicatória dos Sonetos de Shakespeare ser feita a um jovem e belíssimo actor. Vale a pena conhecer: «A arte, mesmo a de maior alcance e mais ampla visão, nunca nos mostra o mundo exterior. Tudo o que nos mostra é a nossa própria alma, o único mundo que realmente conhecemos. E a alma em si, a alma de cada um, é para nós próprios um mistério. Esconde-se na obscuridade, a meditar, e a consciência não é capaz de nos revelar os seus planos. A consciência, na verdade, é bastante desadequada para explicar o conteúdo da personalidade. É a arte, e apenas a arte, que nos revela a nós próprios.»(p.82).


5 – Cartas a Um Jovem Poeta, Rainer Maria Rilke, Quasi****

argumentos: um livro já clássico na literatura mundial, também ele grátis com o DN. As cartas que Rilke escreveu a um aspirante a poeta e que nos mostram a sua concepção de poesia, de escritor, de homem. Lê-se rápido e com interesse. Mais: «pois no fundo, e sobretudo nas coisas mais profundas e importantes, estamos indizivelmente sós.»(p.19); «não se deve ter medo quando diante de si se levanta uma tristeza tão grande como nunca viu»(p.75) e «Ser artista é não calcular e não contar, é amadurecer como a árvore, que não comanda a seiva e que enfrenta tranquila as tempestades da Primavera sem recear que o Verão chegue. O Verão chegará.»(p.28).


6 – Astérix e Cleópatra, R. Goscinny e A. Uderzo, Meribérica/Liber****

argumentos: ao dar a BD ao oitavo ano, lembrei-me que não tinha álbuns nenhuns e lá comprei este. Porque gosto de Astérix e Obélix, porque são educativos, e este em especial porque vi o filme e adorei. E a BD é também muito boa: a construção do palácio em três meses, para Cleópatra provar a César que o Egipto ainda era grande, cheia de aventuras e muito humor. Destaque para o nariz de Cleópatra que é «muito, muito belo».


7 - Histórias de coisa nenhuma – e outras pequenas insignificâncias, Augusto Baptista, Campo das Letras****

argumentos: um livro como aqueles que eu mais gosto: histórias brevíssimas, coisas entre o conto, poesia e até anedota. Com muito bom gosto, com reflexões sobre a língua. Exemplos breves: «Depois de anos de namoro, receoso, foi pedir a mão da namorada. O futuro sogro ouviu. Hesitou. Por fim, acedeu. Mas doeu-lhe, doeu-lhe muito ver a fila maneta.»(p.14); «A morte é um facto horizontal.»(p.75) e «Extraordinário como depois de já tanta gente ter morrido ainda persistam dúvidas sobre a morte.»(p.76).


TV:

Jane Eyre (Dois)****

argumentos: uma grande série de época, baseada no livro de Charlotte Brontë. A passar na Dois:, em dois episódios às segundas. Gostei muito da primeira parte, dá hoje a segunda. E o melhor: dá vontade de ir ler a seguir o livro! Sitio sobre a série aqui. Com Ruth Wilson, Toby Stephens e Francesca Annis, entre outros.


Música:

OneRepublic, Dreaming Out Loud*****

argumentos: um álbum suave, para ouvir com calma, embora também tenha os seus ritmos. Além da mundialmente conhecidíssima «Apologize» (duas versões, eu prefiro a versão sem Timbeland, mais natural e violinista), e do outro sucesso, que é das minhas favoritas, «Stop and Stare», destaque merecido ainda para «Mercy», «Say», «All fall down», «Prodigal», «Wont Stop», «All we are», «Home» entre outras, todas muito boas. Destaque ainda para «Mercy» - na versão do álbum que por aí corre (edição tour) com quatro músicas ao vivo, assim meio acústicas e muito interessantes - mas atenção, a «Mercy» da Duffy que, aqui, está muito melhor! Grandes arranjos, boas letras, boas canções, grande voz e interpretações de Ryan Tedder. Assim estão entre Keane, Snow Patrol, Coldplay ou The Fray - alguns dos meus grupos masculinos favoritos...

Cinema:

O Efeito Borboleta 2***, de John R. Leonetti – gostei bastante do primeiro, gostei do segundo. Com Eric Levely a fazer através de imagens o que fazia Ashton Kutcher no primeiro filme com os seus diários: voltar atrás num determinado ponto da vida e mudá-la, totalmente – até aos pormenores mais incríveis.
Super Heróis*, de Craig Mazin – apesar de gostar deste tipo de filmes parvos, só para rir, neste não encontrei nada digno de registo…
Antes Que o Diabo Saiba que Você Está Morto*, de Sidney Lumet – ia tendo um enfarte de tanta pasmaceira… Apesar de um elenco bom (Philip Seymour Hoffman, Ethan Hawke, Albert Finney e Marisa Tomei), é demasiado mau…


Outros acontecimentos: um mês com muitos falecimentos (ver posts anteriores + a morte de Paul Newman. Homenagem aqui).

2 comentários:

Anónimo disse...

Logo poderás agregar aqui outro texto publicado em periódico brasileiro. Olha que o Encontro de Comparadas costuma ser trampolim de contactos entre diversos intercambios culturais e literários. Parabéns, bem o mereces. ABÇ Carol

tulisses disse...

Obrigado, minha amiga e relações públicas. E ainda por cima com a deusa lá! Vai ser um espectáculo. E viva USP (rsrsrs).

bjs