das muitas palavras que povoam a minha língua, girassol tem-me sido a mais afetiva. retorno e regresso e ciclo. ver, seguir, observar. um ser que tem como atitude seguir a luz parece ser um exemplo ignorado. razão tinha Caeiro por nele ver uma figura a elogiar - «o meu olhar é nítido como um girassol» - nítido porque cheio de luz, a luz do Sol, e ele próprio ser um olho de inexcedível beleza e rigor. o girassol foi feito para ver e estar atento, mas também para estarmos atentos a ele e para o vermos. e podemos também tocar-lhe a pupila, na rugosidade agradável da perfeição. seguir sem sair do sítio, ser do tamanho do que se vê, percorrer a distância da solidão com a vontade, o gesto. o amarelo é cópia, é propósito solar reafirmado, o verde das folhas vida que se agita e constrói em torno da luz, sol terrestre em menor tamanho. palavra justa, verbo e nome em nome, com a flor, verbo e nome em ação e essência. assim é por vezes o amor, quando nos torna girassóis uns dos outros - uns dos outros, porque de si é já o Narciso e é outra história e outra palavra bem diferentes. ou ser o oposto de tudo isto, de tudo e todos. girassol que, no meio dos outros, preferisse ver o espaço subitamente iluminado. ou, mais linearmente, o girassol que rema contra a maré.
cf. esta história das palavras favoritas.
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