´
Aquela mulher que rasga a noite
com o seu canto de espera
não canta
Abre a boca
e solta os pássaros
que lhe povoam a garganta
***
O meu amado chega e enquanto despe as sandálias de couro
marca com o seu perfume as fronteiras do meu quarto.
Solta a mão e cria barcos sem rumo no meu corpo.
Planta árvores de seiva e folhas.
Dorme sobre o cansaço
embalado pelo momento breve de esperança.
Traz-me laranjas. Divide comigo os intervalos da vida.
Depois parte.
...........................................................................................
Deixa perdidas como um sonho as belas sandálias de couro.
*****
Perguntas-me do silêncio
eu digo
meu amor que sabes tu
do eco do silêncio
como podes pedir-me palavras
e tempo
se só o silêncio permite
ao amor mais limpo
erguer a voz
no rumor dos corpos
Paula Tavares, O Lago da Lua, Lisboa: Caminho, 1999, p.17, 19, 29.
Sem comentários:
Enviar um comentário