sábado, julho 23, 2011

3 poemas de Arquimedes da Silva Santos

Fragmentos de "Rapsódia da Guerra"

1

Em todos os portos do mundo
há sempre um velho marinheiro olhando olhando
íris esbranquiçada do sal do mar.
Em todos os portos há sempre um velho marinheiro olhando
e perscrutando o que as ondas segredam.
Que sobre as onsas do largo mar não há mais Paz
porque as tinge o sangue de corpos estilhaçados
corpos por minas despedaçados
retesados e hirtos e inchados
boiando sobre as ondas num sonho de Paz...

E velhos marinheiros ouvem águas murmurar
a elegia dos gemidos de jovens marinheiros...


****

Luso leixa mais de ouvir
Profecias de bandarras.
Em areais dos quibir
Fados de morte ou fugir
Soluçam sempre guitarras.
Dom sebastião primeiro
Não esperes pobre e nu.
Neste país marinheiro
Povo sai do nevoeiro
O desejado é só tu.



****

O guardador de pombas
Livra-as pela tardinha

E voam e revoam
Circulos espirais

Ruflam céleres
E tornam e retornam

Graves ao pôr do sol
Retombam nos pombais

Por fios de assobios
Ó guardador de pombas


Arquimedes da Silva Santos, Cantos Cativos, Porto: Campo das Letras, 2003, p.17, 146, 161

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