Eu vejo muitas séries de televisão (Anatomia de Grey, Amor no Alaska, Sobrenatural, Jericó, Betty Feia... já para não falar de outras que segui atentamente, como Sete Palmos de Terra, Perdidos, Prison Break, Roma, Donas de Casa Desesperadas, Ally Mcbeal, Sabrina, Friends, Dharma & Greg, Dr. House…). Em nenhuma delas as personagens "perdem tempo" a ver séries. Nos filmes, em muito poucos, as personagens vão ver filmes, mas não vêem séries. Nos livros há sempre uma personagem ou outra que lê. Às vezes vão ao cinema, mas também não passam muito tempo em frente à televisão a ver séries. Mas eu também não sou personagem de romance…
Para ocupar o tempo tenho visto muitos filmes em dvd ou outros formatos que estavam lá em casa, já há alguns anos. Vi finalmente coisas tão espectaculares como Babel, Hotel Rwanda e Crash – Colisão, só para citar os melhores e mais emocionantes. Mas revi também a trilogia do Senhor dos Anéis, agora toda seguida e com os dvd dos extras e opções especiais. Uma verdadeira maratona de fazer perder a cabeça a qualquer um. Mais emocionante do que quando vi cada um deles no cinema. Talvez por já conhecer e poder atentar noutros pormenores. Seguir-se-ão os livros, um dia destes, uma vez que as bandas sonoras também já foram ouvidas. Uma história que ali aparece aflorada e que no livro deve vir mais desenvolvida é a de Faramir (desempenhado por David Wenham), que no fundo não tem grande interesse para a progressão da história, para nenhuma delas (a de Frodo e Sam, ou a das batalhas em Gondor), embora intervenha nas duas. Mas é uma preciosidade no meio de todo o valor físico e emocional da história. Ainda bem que não a eliminaram do filme…
Estar aqui no fim do mundo parece que implica o atenuar das coisas da cultura. Vou vendo o Câmara Clara, o Jornal 2, o Bastidores, mas parece que as coisas surgem sem o mesmo brilho e importância. José Luís Peixoto publicou Cal e não me chegou a mesma excitação que aquando de Cemitério de Pianos. António Lobo Antunes voltou com um pequeno O meu nome é Legião, e não me chegou o mesmo impacto de Ontem Não Te Vi em Babilónia… E até mesmo o Harry Potter e os amuletos da morte me passou um pouco despercebido… Será de mim, de estar focado em outras coisas mais técnicas, ou de andar a recuperar coisas do passado, ou será de estar aqui no desterro? Imagino então se trabalhasse, se tivesse companhia, filhos e casa para cuidar, se tentasse escrever a sério e se estivesse a trabalhar a sério na tese… Não é falta de tempo, mas talvez preguiça…
Por falar em escrita, a tese vai ponicamente. Tenho de falar com os orientadores para ver o que faço efectivamente. Tenho lido muitos artigos sobre o antes e o durante da obra e Arlindo Barbeitos e coisas de teoria literária sobre geração, convenção e inovação em sistemas literários, mas ainda falta ser a obra dele em específico (não há muitos…), sobre poesia japonesa, literaturas orais, aspectos de retórica e estilística, angolanidade e questões de identidade e nacionalismos literários, enfim… Na escrita mais artística, as coisas vão andando, sem grandes avanços. Mas re-ordenei a minha obra. Composto de Mudança, os 52 contos que estou a escrever ao ritmo de um por semana, desde a primeira semana de Janeiro até à última de Dezembro deste ano, está quase pronta: o último que escrevi está até adiantado, pois tenho tido um tempo mais livre, mas também é tão pequeno… A trilogia tem finalmente nome: As Mil e Uma Noites de Solidão e Medo (um verso de Alexandre O’Neill), composta por Inventário das Coisas Sós, Gravado na Pedra e Explicação da Luz (títulos ainda provisórios, romances ainda não escritos). A Antologia Poética Possível espera pelo último livro de poesia em que vou escrevendo alguma coisa, a Explicação das Coisas. Mas quero começar a trabalhar noutras coisas: Vazio Repetido (de um verso de Daniel Faria) será uma continuação do projecto do Composto de Mudança), e quero muito escrever finalmente um romance (mas mais fácil do que Inventário das Coisas Sós, de que cheguei ao terceiro capítulo) que tem o título provisório de Algumas tardes entre o mar e a morte (verso de Ruy Belo). Podem chamar-me maluco vá, eu deixo, mas nunca se sabe o que pode sair daqui! Está tudo gravado no pc e na pen (não vá o diabo tecê-las). Qualquer dia deixo algumas pessoas lerem alguma coisa, para além do que vai aparecendo aqui no Tulisses. E as leituras, tantas! Agora com este tempo frio em que nada se faz (sim, continuo desempregado, embora em Janeiro e Fevereiro tenha trabalho na Reitoria/FLUP para mais um EILC), leio. Recomendo, do que recentemente passou pelos meus olhos e mãos: Bom dia Camaradas de Ondjaki, Estação das Chuvas de José Eduardo Agualusa, A Casa Velha das Margens de Arnaldo Santos, Jornada de África de Manuel Alegre e, para não ser tudo prosa, nem tudo africano ou sobre África, mas também porque vale por si próprio, e muito, Todos os Poemas de Ruy Belo.
2 comentários:
bem... tantos projectos!! e gostei particularmente da frase "a tese vai indo ponicamente"!
se precisares de alguma coisa avisa.
o Bom Dia Camaradas vale mesmo a pena?
vale muito a pena, sim. coloca algumas das questões de sempre, mas com um humor muito interessante. e muito bem feito.
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