Após a leitura dos três volumes da poesia de José Gomes Ferreira, em Poeta Militante, edição Círculo de Leitores, lá fiz a minha habitual selecção dos poemas favoritos, além dos versos que vou sublinhando. E faz já parte dos meus favoritos – na verdade, já fazia dos poucos que ia conhecendo daqui e dali. Aqui fica a selecção (era suposto ser um por volume, mas a rebeldia deu-me para isto).
I
(Enquanto os aliados a caminho de Berlim morrem, eu entretenho-me a ver a chover na Rua da Palma, espalmado num portal a cheirar a urina podre.)
Chove...
Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?
Chove...
Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.
Vol. I, p.311
Não fui eu que pintei o sol no céu,
Vol. I, p.311
Não fui eu que pintei o sol no céu,
nem as nuvens no Ar
com água de prata.
Quando nasci já tudo estava no mundo
com relvas e azuis,poentes e sombras,
pobres e cicatrizes...
Porque então estes remorsos
de andar a sofrer não sei por quem
a culpa de haver rosas e haver vida?
Palavra! não fui eu
quem atirou a lua para o céu!
Vol. I, p.340
XLIII
(Na morte de Manuela Porto)
Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica ao mundo que vai transformar-se em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio."
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir à despedida. Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio."Adeus! Adeus!" E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes… (primeiro, os olhos… em seguida, os lábios…depois os cabelos…) a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo… tão leve…tão subtil…tão pólen…como aquela nuvem além (vêem?) - nesta tarde de Outono ainda tocada por um vento de lábios azuis…
Vol. II, p.195
XXXIX
(Regresso ao mundo das palavras.)
Dou um pontapé nestas árvores de carne e folhas.
Vol. I, p.340
XLIII
(Na morte de Manuela Porto)
Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica ao mundo que vai transformar-se em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio."
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir à despedida. Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio."Adeus! Adeus!" E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes… (primeiro, os olhos… em seguida, os lábios…depois os cabelos…) a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo… tão leve…tão subtil…tão pólen…como aquela nuvem além (vêem?) - nesta tarde de Outono ainda tocada por um vento de lábios azuis…
Vol. II, p.195
XXXIX
(Regresso ao mundo das palavras.)
Dou um pontapé nestas árvores de carne e folhas.
Mas esperem!
A palavra árvore não é uma árvore,
momento de sombra,
nem a palavra sol queima a pele das mãos.
E até hoje nunca vi voar a palavra rouxinol.
Ah! Se eu pudesse colar no papel o canto dos pássaros,
o esfarrapar concreto do canto verdadeiro dos pássaros,
e esta mão de sol que cria a invenção das flores.
Mas não.
Sempre as mesmas palavras,
com alçapões de bruma.
Sempre esta resignação à Poesia
com pontes mágicas para coisa nenhuma.
Vol. II, p.237
XIX
Em certa noite de sol pando
descobri que os deuses da Grécia
vinham de quando em quando
visitar os seus parentes escandinavos
num rasto de danças,
flautas,
escravos,
sistros,
liras de acordes.
Vi-lhes tantas vezes as pegadas
no ritmo da neve fluida
dos fiordes!
Vol. III, p.324
Vol. II, p.237
XIX
Em certa noite de sol pando
descobri que os deuses da Grécia
vinham de quando em quando
visitar os seus parentes escandinavos
num rasto de danças,
flautas,
escravos,
sistros,
liras de acordes.
Vi-lhes tantas vezes as pegadas
no ritmo da neve fluida
dos fiordes!
Vol. III, p.324
5 comentários:
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