sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Sugestões de Fevereiro

As coisas que povoaram o meu mês de Fevereiro. Aqui a revisão e as sugestões:
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Livros:

1 – Bíblia (Eclesiástico, Isaías), Paulus

argumentos: sem grandes argumentos… Eclesiástico é um conjunto de recomendações ou procedimentos moralizantes que no fundo repetem o que já está para trás… e a desorganização é um pouco irritante. «O orvalho abranda o calor, e a palavra é melhor que o presente» Eclo 18, 16. Isaías, o primeiro dos livros proféticos é mais interessante.***

2 – O Sonhador, Ian McEwan, Booket

argumentos: uma história de um menino sonhador que se tornará num escritor: as aventuras com as bonecas da irmã, a troca de corpo com o gato (uma das minhas passagens favoritas, claro), a forma de derrotar rufiões na escola e visões sobre o que é ser bebé ou ser adulto. Agradável para ser lido a/por crianças, jovens e adultos. «o próprio facto de nos habituarmos a viver com mistérios é em si um mistério»p.62****


3 – Onde vais Drama-Poesia?, Maria Gabriela Llansol, Relógio d’Água

argumentos: embora tenha uma relação de conflito com esta escrita que nem sempre é fácil e dentro das lógicas a que estamos habituados («ler é ser chamado a um combate, a um drama»p.18), gostei deste livro. Pelas reflexões metatextuais, pelas relações intertextuais hetero e auto-autorais. Mais: «escrever e dizer não são sinónimos _________ como qualquer pessoa, tenho opiniões sobre o processo do mundo; essas opiniões são ditos; o texto vê e não opina; nem aconselha»p.185, ou «Damos nomes ao que somos juntos, reconhecendo que o Amor é o seu único nome, mas tememos dizê-lo para não apressar a morte.»p.287****


4 – Poeta Militante II, José Gomes Ferreira, Círculo de Leitores

argumentos: mais do mesmo, que é mais de outra beleza. Como ficar indiferente a «(Um dos grandes acontecimentos do século XX. Encontrei uma pedra no campo e beijei-a.)»p.22 – porque não será este um dos grandes momentos do século em que se moveu? Mas surgem outros, e fortes, até porque «o tempo soltou-se dos relógios»p.479 ou «Saudades de não poder inventar o futuro»p.301. Para se chegar às perguntas de sempre: «Vais perguntar outra vez porque existes?/ Para quê? Para ficares com os olhos do tamanho de ilhas tristes?»p.68 ou «Mas vivos que são?/ Mortos incompletos»p.306. *****


5 – Poeta Militante III, José Gomes Ferreira, Círculo de Leitores

argumentos: ainda mais do mesmo, que percorre ainda outros caminhos. Forte insistência no tema/figura da morte: «o problema estava em não saber/morrer»p.82 ou «tornam a morte ridícula de tanto a esperarem ao espelho»p69. Reflexões sobre o seu século XX, sobre a vida, sobre o ofício do poeta: «ofício de tecer respirações de homem»p.176 e «digam-me lá:/ para que serviria ser poeta/ se não chorasse/ publicamente/ diante do mundo?»p.544. Muito bonitos os poemas sobre a Noruega e um em que interpela Sophia (p.422-4).*****


6 – O Livro das Igrejas Abandonadas, Tonino Guerra, Assírio & Alvim

argumentos: pequenos contos/poemas, como os de aqui já falei, mas todos em torno de uma determinada região e suas igrejas e gentes, coisas veladas, silêncios, cruzamentos de tempos, certo ar de magia e poder oculto da existência… Mais: «Mais solitário que Deus não há ninguém»p.28 e a história de «A Ovelha» - uma delícia.****


7 – Uma das últimas tardes de Carnaval, Carlo Goldoni, Colibri

argumentos: comédia da boa (também se recomenda A Estalajadeira), quase sem enredo e cujo carisma reside na linguagem pura e nos diálogos. Personagens a quem o amor parece querer sorrir, mas com alguns dos cuidados e medos típicos. Mas o texto, que teve a sua estreia a 23 de Fevereiro de 1762, ou seja, imediatamente antes de Goldoni partir para França, parece ser uma despedida do próprio dramaturgo ao seu público, pois Anzoleto faz o mesmo antes de partir para a Rússia, apresentado os seus cumprimentos e agradecimentos aos convidados da festa: «onde quer que tenha estado sempre trouxe o nome de Veneza gravado no coração»p.123.****


8 – A Baía dos Tigres, Pedro Rosa Mendes, D. Quixote (BBL)

argumentos: «Este é um livro sobre coisas simples: a tranquilidade do medo e a vitalidade da morte»p.13. Mas também um livro sobre a vida ou a esperança dela/nela, apesar de tudo, através das suas múltiplas facetas, em muitas histórias que relembram o prazer de ouvir contadores num cruzamento do real com a ficção em que dificilmente se percebe onde acaba um e começa outro. Relato a partir de uma viagem real por um continente minado («Minas à frente, atrás, à esquerda, à direita. Minas dentro de nós»p.81), de Angola a Moçambique (mais centrado em Angola), com uma estrutura não-cronológica, assistemática, que prende pelo humanismo que respira em cada página. «O viajante é apenas o seu relato, identifica-se com ele porque dele extrai a sua identidade; não existe fora do mapa; viajante e mapa são uma e a mesma identidade»p.221-2. *****



TV:

Câmara Clara (2:)

Argumentos: cultura da boa. Paula Moura Pinheiro conduz inteligentemente áreas tão diferentes como literatura, cinema, política, música, pintura, ou tema como cidade, felicidade, pós-colonialidade… Com sugestões de leitura, de espectáculos, de filmes, de cds, sempre com temas actuais e convidados topo de gama.*****


Música:

Susana Félix - Pulsação

argumentos: Fiquei apaixonado por «Flutuo» há uns tempos. Depois uma ou outra música agradável em novelas que o zapping apanhava na tvi. Depois a sua nova sonoridade no Gato Fedorento. Depois, finalmente, Pulsação na minha mão, nos meus ouvidos. Muito bom, do início ao fim. É uma espécie de best of, com novas roupagens para os temas antigos. Destaque para: «(bem) na minha mão», «Flutuo», «Fintar a pulsação», «Sou eu», «Luz de presença»… E ainda para uma aqui não incluída: «O mesmo olhar». Voz simpática e bonita, sem exageros, melodias simples e eficazes – directas à melancolia.*****

Cinema:

Sweeny Todd

argumentos: Tim Burton, Johnny Depp (muito bom aqui) já são razões suficientes. Juntem-se-lhes Alan Rickman e Helena Bonham Carter. Músicas de Stephen Sondheim? Mais. Depois porque um musical negro não é coisa que haja muito por aí. Está muito bom, embora chegasse a um certo momento em que pensei: «isto nunca mais acaba?». Grande trabalho de fotografia, de direcção artística e guarda-roupa, além da realização e interpretações.****

Gangster Americano

argumentos: Ridley Scott novamente a realizar com Russell Crowe e agora também Denzel Washington. E adoro Russell Crowe. Não é o meu tipo de filme, com crimes, polícias e drogas, de longe, mas gostei, no geral. Um pouco longo…***

Nota: este ano não fui ao Correntes d’Escrita, mas destaco o vencedor: Ruy Duarte de Carvalho com Desmedida, embora eu preferisse que vencesse O Outro Pé da Sereia de Mia Couto.

2 comentários:

Milai disse...

lindo o sweeney todd: joanaaaaa. só o princípio é que é cansativo, mas depois entra se no estilo.

Milai disse...

oh...seca...
esqueço-me...