Já aqui manifestei a minha relação amor-ódio com a escrita da Maria Gabriela Llansol. Por um lado a sombra da M.Ry. a dizer bem da escritora, mas felizmente não nos obrigou a lê-la.... por outro a minha leitura agónica de um beijo dado mais tarde só porque sim, queria experimentar, depois a tese de doutoramento do Pedro Eiras em que ela também foi estudada... a ainda, mais recentemente, no mês passado, a leitura de Onde Vais, Drama-Poesia?... e uma tentativa de escrever um conto à maneira dela...
Escrita densa, difícil, muito para além dos seus ________________ e espaços em branco e quebras como se fosse poesia (e não será?), mas ainda pelas lógicas próprias que não as das narrativas e esperadas, que quebra as fronteiras entre prosa e poesia, ficção, diário, romance e novela e até texto dramático. O leitor tem assim de trabalhar, e muito, para não se perder no fulgor, nas personagens, nas vozes que surgem de todos os lados. Originalidade e luta, para quem gosta.
Para saber mais, o blog dedicado a ela.
Obra:
Os Pregos na Erva (1962), Depois de os Pregos na Erva (1973), O Livro das Comunidades (1977), A Restante Vida (1983), Causa Amante (1984), Na Casa de Julho e Agosto (1984), Um Falcão no Punho (1985), Contos do Mal Errante (1985), Finita (1987), Da Sebe ao Ser (1988), Um Beijo Dado Mais Tarde (1990), Amar Um Cão (1990), Hölder, de Hölderlin (1993), Lisboaleipzig I. O Encontro Inesperado do Diverso (1994), Lisboaleipzig II. O Ensaio de Música (1994), Inquérito às Quatro Confidências (1997), Ardente Texto Joshua (1998), Onde Vais, Drama-Poesia? (2000), Amigo e amiga: curso de silêncio de 2004, (2006).
Como sempre, a palavra ao autor:
«produzi, de ouvido, este texto, para não perecer a chorar; não consigo dominar a sensibilidade nostálgica das separações, e esta é uma das separações da linguagem, e da música;
e assim partimos do sítio onde devíamos ficar para o sítio de onde devíamos regressar;
as ondulações que ouço lá fora são a reconstituição do vento que sopra sobre a terra;»
um beijo dado mais tarde, Edições Rolim, p.80
«embalava-me essa mestra da escrita
dizendo-me como era simples ____________ pega nos fios
que vês no mar,
pega em todas as vozes de animais que ouvires,
segue o fulgor que traça círculos velozes na praia
e escreve
e escreve
[...]
E vou vendo o que o texto quer dizer, alterando a ordem cronológica das folhas, por vezes, escritas com muitos anos de diferença, relacionando e desrelacionando extractos e fragmentos, tentando perceber os seus diversos tons de voz porque o texto não tem um maneira única de se dizer,
está todo escrito, mas precisa ser montado.»
Onde Vais, Drama-Poesia?, Relógio D'Água, p.214, 266
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