Conheci-o nas aulas de africanas, enquanto poeta. E depois fui descobrindo alguma da prosa (Como se o mundo não tivesse leste), vi uma adaptação para teatro de Vou lá visitar pastores, descobri-o antropólogo, cineasta, enfim. Conheci-o homem no Correntes D'Escritas. E já em Lisboa, o meu orientador queria que eu o escolhesse para estudo na minha dissertação de mestrado - acabou por ser Arlindo Barbeitos, autor da mesma geração, porque conhecia já melhor e porque a professora do Porto estava a estudar já o Ruy Duarte... Falta-me ler um lista razoável de livros seus (2011 será ano para isso e não só), alguns deles que ainda não comprei, porque não são assim tão fáceis de encontrar... ou não eram - a Cotovia e as livrarias devem tratar disso agora.
R)evolucionador da literatura angolana, é um dos melhores poetas e prosadores de língua portuguesa, sem sombra de dúvidas. Falava do sul, do sal, do sol. Falava das gentes, das falas dos lugares. Falava metatextualmente, também, das palavras, das imagens. E usava os ................................................ quando não sabia mais que dizer, ou quando não era já necessário? Do pouco que li, ainda, fica:
O verão poisa nas coisas e adormece tudo.
O sal, por toda a parte.
Então pequenos lagos se acrescentam
a partir de alguma fenda original. E são taças de mar
que dão conforto ao continente agreste.
Hábito da Terra, União dos Escritores Angolanos, p.44 e 46
Uma nova geografia se inventava em cada olhar que eu desferia, exacto, para depois consolidar as formas à custa de um moroso entendimento. (...)
Um homem nasce pobre e pobre há-de morrer. De resto nunca sabe o que vai ser. De tudo o que viu na vida, gente boa e gente má, anos bons e anos maus, João Carlos retirou duas ou três conclusões: que um homem nem sempre está onde o corpo lhe impõe estar, e o importante na vida é como estar, não aonde. Na vida de cada um há quatro vidas ao todo: sozinho dentro de si ou perto ou longe dos seus e em contacto com os outros, da mesma forma, conforme. Para além da outra vida que há-de haver depois de morto. Onde se vive uma só sem divisões ou viagens.
Como se o mundo não tivesse leste, União dos Escritores Angolanos, p.45 e 81
1 comentário:
tinha razão... na FNAC Braga lá estavam Lavra, que comprei, e A Terceira Metade, para outra altura. E outros que já tenho: Os Papéis do Inglês, Desmedida, Como se o mundo não tivesse leste. Ainda assim, faltam Vou Lá Visitar Pastores e As Paisagens Propícias. Para outros dias...
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