sexta-feira, junho 24, 2011

2 poemas de Luís Adriano Carlos

Um verso vem

Um verso vem. Calculo o peso da neblina
que envolve o seu teor, o preso ritmo
da esfera em movimento: cerro o olhar na alma tensa
que ao longo do percurso mais ensina. O verso
vem por si em si da imagem que vier
no imaginar do corpo em sua ascese leve, peso
de uma estrutura fina ao seu redor.

Um verso vem. O olhar na alma mais se inclina.


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À Espera da Musa

Espero pela musa como quem confia
na transfiguração do mundo e na transmigração das almas.
Espero pela musa como quem não usa
usar o pensamento no lugar do génio
que todo o verso puro traz da luz eterna. Espero
pela musa, louco, pela musa espero, fonte
da minha criação sem termo. Um verso, musa,
um verso mais espero. E, se não vem,
sempre virá depois de apenas não ter vindo.

Musa espero, como quem confia.

Luís Adriano Carlos, Livro de Receitas, Porto: Campo das Letras, 2000, p.9, 12

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