quinta-feira, janeiro 18, 2007

TLEBS


Segundo palavras na lista de rodapé do Jornal Nacional da TVI corre na internet uma petição contra a implementação das “novas regras da Língua Portuguesa”. 4.000 assinaturas já levam a questão à Assembleia da República. Não sabia que havia novas regras, que a língua estava assim a mudar tanto… Ou será que se referiam à TLEBS? É que se é isso, não são bem novas regras, são “apenas” novas designações ou formas de conhecimento. Algumas até são bastante bonitas e funcionam muito bem enquanto conceitos operatórios, embora não funcionem tão bem em contexto educativo.

Muito se tem escrito sobre a TLEBS e este texto não trará grandes novidades. Alguns defendem-na com unhas e dentes (como Maria Helena Mira Mateus e Inês Duarte, o que tem lógica, porque são partes intervenientes no documento) ou criticam-na, (Helena Carvalhão Buesco, Vasco Graça Moura, Maria Alzira Seixo e até o gato fedorento Ricardo Araújo Pereira – embora de uma forma cómica e caricatural, mas que não deixa de ser válida e interessante).

A TLEBS não pode ser apenas um conjunto mais ou menos operatório de conceitos de uma ciência, a Linguística, ainda que de língua falemos. Interessa ensinar a Língua e não Linguística. E o que interessa «transmitir a uma criança uma determinada metalinguagem, se ela ainda não domina a funcionalidade dos termos que integram a linguagem que usa todos os dias?» (G. Pinto, Saber Viver a Linguagem, p.35). O problema começa com a inadequação ao público-alvo: não são os professores (por muito que custe a alguns, lá acabam por se actualizar quando é mesmo necessário e obrigatório e percebem os novos conceitos) mas sim os alunos, que não desde os seis aos dezoito – com todas as mudanças que ocorrem entre uma altura e outra, sem haver propriamente uma distinção concreta de que «termos» terão os alunos de decorar em cada ano. Porque será decorar, já que algumas das novas designações não têm uma relação muito óbvia, para o que designam, para os alunos, que poderão ser questionados sobre elas em exame nacional! Ou talvez não, mas mais vale precaver…

A verdade é que o documento está em experimentação, irá ser reformulado, mas também está dominado por uma teoria específica da ciência da Linguística, exceptuando o que a Literatura, a Filosofia ou a Lógica poderiam ter como contributos para a questão. Poderá ser benéfica para os alunos, para a qualificação educativa? Ensinará os alunos a manipular a sua língua na sua componente oral e escrita, no seu funcionamento e na sua dimensão estética e lúdica? É óbvio que um documento desta natureza é necessário para actualizar e uniformizar algumas questões, mas o trabalho está no início e começou torto. Mais uma vez serão professores e alunos as cobaias de uma experiência mal conduzida.

Só por curiosidade, num manual do 7.º ano são apontados como «Conhecimento Explícito da Língua» a explorar os seguintes termos, entre outros: coerência e coesão, modificadores, complemento preposicional e adverbial, nome epiceno, sobrecomum, comum de dois (quando eles ainda têm dúvidas sobre nomes comuns, concretos e abstractos)… Nada de muito complicado para os professores, mas quanto aos alunos, que nessa altura ainda dizem coisas como «quem é o espaço?» ou «pomar é um conjunto de mares», já será menos certo… Uma boa dose de bom-senso, muito investimento e sensibilidade terão de estar na atitude do professor de Língua Portuguesa e Português, para que não se torne num potencial professor de Linguística.
Textos dos autores referidos:

Buesco, Helena Carvalhão, «TLEBS E DISCUSSÕES», Jornal Público, 29 de Novembro de 2006
Mateus, Maria Helena Mira, «Terminologias: a Nova e a Antiga», Jornal Público, 29 de Novembro de 2006
Marques, C.; Silva, I.; Ferreira, P.; Silva, F., Oficina da Língua 7, Porto, Edições Asa, 2006
Pereira, Ricardo Araújo, «Metam os epicenos no advérbio disjunto», Revista Visão, 15 de Novembro de 2006
Seixo, Maria Alzira, «A Nova Terminologia Linguística», Revista Visão, 28 de Outubro de 2006
adenda: http://ciberduvidas.sapo.pt/controversias/311006_8.html (e outras páginas que descobri agora, com uma série de textos interessantes para a discussão).

2 comentários:

Anónimo disse...

LOL os nossos pekenos indios...taditos! Bem...TLEBS aquele "bichinho" que veio para causar o pânico. Cm tudo me mete medo...esse é só mais um...

P.S.: que me dizes a 3 turmas de 11º ano, 3 de 12º ano e duas direcções de turma? axas que me vai correr bem, parceiro? ;) (Colégio D. Duarte, resposta a anuncio de jornal, sem cunhas lol e uma entrevista surreal. Em breve relatarei no meu blog a grd noticia da minha vida lol) ***

tulisses disse...

parabéns! eu nãos oube desse, se não... olha, e não arranjas nada para mim? se souberes de alguma coisa, agpra que já estás servida, avisa, lembra-te do teu brilhante colega de estágio! e o ISLA? Manténs? bjs