sexta-feira, dezembro 07, 2007

Manuel Rui, Rioseco - dois fragmentos


O mar já mudara sua pele para uma forma agitada de se mexer, parecia vergastado pelo vento e a vaga berrava raivosa de espuma suicidada contra a areia, devassando a terra e formando, de ressaca, um pequeno lago, em braços de ir e vir, curvando, por entre as primeiras filas de árvores que compunham o coqueiral. Vaga de calemba, pelo meio da tarde, quando o vento, de chibata na cabeça dos coqueiros e casuarinas, dava a sensação de transformar cada cume de mudança de maré num sacrifício do mar e da natureza costeira. A noite começava a apetecer-se num fogo de fogueira sob o cacimbo, aumentando pela madrugada, no orvalho bom na mão das plantas onde os pássaros viajados, das margens do grande rio, vinham saciar sua secura de sal e azul encalorado.

Eu estou muito longe. Também nunca hei-de estar perto de nada, porque quando isso me acontece, sinto, por dentro, uma vontade de me afastar para longe.

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