quarta-feira, dezembro 12, 2007

Poema de Natal - Vinicius de Moraes



Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Este ano seleccionei um poema de Vinicius de Moraes, entre os muitos que tenho em livros. Na verdade, alguém (que já significou toda a vida para mim) mo seleccionou há uns dois anos, quando o pôs a acompanhar uma prenda em forma de livro com histórias sobre gatos. Aqui fica, como importante para mim, com uma beleza própria. Recomendo a leitura de Natal... Natais - Oito séculos de Poesia sobre o Natal, antologia organizada por Vasco Graça Moura (Público, 2005), e ainda outra antologia, mas de contos, Gloria in Excelsis - Histórias Portuguesas de Natal, também organizada por Vasco Graça Moura (Público, 2003, Coleccção Mil Folhas).

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