domingo, janeiro 06, 2008

Luíz Pacheco - 1925-2008

Luíz Pacheco: escritor, editor, polemista, epistológrafo e crítico de literatura. Dedicou-se à crítica literária e cultural, tornando-se famoso (e temido) pelas suas críticas sarcásticas, irreverentes e polémicas. Denunciou a desonestidade intelectual e a censura imposta pelo regime de Salazar. A sua obra literária tem um forte pendor autobiográfico e libertino, inserindo-se naquilo a que ele próprio chamou de corrente "neo-abjeccionista". Nunca li nada dele, excepto uns fragmentos no livro Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, organizada por Natália Correia, e pelas coisas que se dizem dele parece-me interessante a descobrir... (e neste livro pode ler-se uma nota bibliográfica humorada e descobrir que ele queria falecer no ano 2000...).


mais em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Pacheco


excerto:
«Domingo de manhã fui com a Amada para a praia nos rochedos junto do mar vi pela primeira vez o seu corpo nu feito espuma e onda. Ficamos calados (como quem esta só) escondidos de todos à beira-água (como quem a ama, apetecendo-a como os suicidas), o seu corpo cheirava a maresia (cheiraria?). Numa grande doidice de beijos e carícias leves beijei seus pés de espuma macia... em lírica, diria: pés de sereia; em realística, diria: pés de virgem (feia); em novelística, da antiga, diria: pés de deusa brinca-brincando na areia; em novelística, novíssima: patitas catitas de centopeia..., beijei seus pés; por ali mesmo a comecei a beijar. Caprichos de libertino: o corpo da Amada ficou lá nos rochedos à beira-água onda infatigável desfeito liquefeito brisa de maresia pairando no bafo quente do ar e eu guardo no meu quarto na minha colecção mais um sexo de donzela conservado em álcool e memória, numa mistura fácil de três por dois, tintos.»
Luiz Pacheco, excerto de “Os Namorados”, in: Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, p.432-3

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