Mês de fim de festa. Assim mesmo, da festa da irresponsabilidade e do protelar até à última – tem corrido sempre bem, até agora. Menos coisas este mês, pela vida exterior que tive o prazer de desenvolver. Mas ainda assim, tempo para tudo – afinal o problema não é o tempo mas aquilo que fazemos dele. E eu fiz isto, entre outras coisas:
Livros:
1 – A Bíblia (Actos dos Apóstolos), Paulus***
argumentos: o seguimento dos evangelhos, mais concretamente do de Lucas, é o relato das viagens e palavras (=actos) dos discípulos de Jesus, animados pelo Espírito Santo que os ajuda e incita a espalhar a mensagem de Jesus pelo mundo. Focos em Pedro e, depois, em Paulo.
2 – Prosas Bárbaras, Eça de Queirós, Lello & Irmão****
argumentos: continuação do amigo Eça. Desta vez um livro que resulta de uma série de textos primeiros que Eça publicou, de nítida estética romântica, sobre arte, amor, vida: «Esta história é de há seiscentos anos – e de ontem à noite…»(p.55). Alguns aproximam-se do conto, outros da crónica, outros da carta. Mais: «É na natureza que se deve procurar a religião: não é nas hóstias místicas que anda o corpo de Jesus – é nas flores das laranjeiras.»(p.104).
3 – Ariel, Sylvia Plath, Relógio D’Água***
argumentos: conjunto de poemas de uma grande escritora norte-americana, talvez mais conhecida pela sua vida com fim trágico do que pela obra – mas vale a pena! Densa, difícil – pode ser que sim, mas tudo o é, quando se aprofundam sentidos. Dela postei aqui. Esta edição tem a vantagem de ser bilingue.
4 – Cartas de Aniversário, Ted Hughes, Relógio D’Água***
argumentos: conjunto de poemas-cartas dirigidas quase exclusivamente a Sylvia Plath, com quem foi casado. Obra e vida fundem-se sem limites bem-definidos. Tem textos muito interessantes, dos quais postei um aqui. Mais: «Não nos apercebemos/que os narcisos são um/fugaz vislumbre da eternidade.»(p.217).
5 – Se Isto É um Homem, Primo Levi, Público/Mil Folhas*****
argumentos: a obra extraordinária de um judeu italiano que sobreviveu a Auschwitz para escrever o mais humano e comovente testemunho do Holocausto. Mas não é mais um simples relato do Holocausto; é um acto de fé na natureza humana. Difícil de ler pelo choque que provoca, mas impossível de deixar. Mais: «Muitas coisas então foram ditas e feitas entre nós; mas é bom que delas não se guarde memória»(p.13); «Então pela primeira vez nos apercebemos de que a nossa língua carece de palavras para exprimir esta ofensa, a destruição de um homem.»(p.24); «As personagens destas páginas não são homens. A sua humanidade está sepultada, ou eles mesmos a sepultaram, debaixo da ofensa que sofreram ou que infligiram a outrem»(p.135).
6 – O Deus das Moscas, William Golding, Público/Mil Folhas*****
argumentos: um romance do pós-guerra marcado pela actualidade dos temas. O motivo central é o mal, em estado puro, que se apodera das crianças perdidas numa ilha desconhecida - mas que também pode ser a história da condição humana. Com um tom aparentemente ligeiro, que se adensa com o evoluir da permanência da ilha e os contactos uns com os outros. Duro, enigmático, extraordinário. Mais: «Rafael chora o fim da inocência, o negrume do coração do homem e a queda pelo ar daquele verdadeiro e sensato amigo que se chamava o Bucha»(p.222).
7 - Mau Tempo no Canal, Vitorino Nemésio, INCM****
argumentos: ainda não terminei o livro mas gosto muito. A história de várias famílias nos Açores no início do século XX, centrada sobretudo numa personagem feminina chamada Margarida, descrita pelo narrador e pelas personagens de uma forma que a enche de particularidades especiais («encheu a testa de uma reticência triste»(p.66)). Mais: «O amor não queria confissões explicadas no vão de uma janela, nem alegorias literárias de um querer-bem concebido como matéria de um mito, ligado à rocha das ilhas e às noites de mau tempo no Canal.»(p.152). Muito interessante, com um prefácio de José Martins Garcia.
TV:
Os amigos de Brian (RTP2)****
argumentos: em repetição, nas tardes da Dois. Não vi quando deu à noite, mas estou a ver agora. E gosto bastante pelas histórias cruzadas de um grupo de amigos, seus problemas quotidianos e existenciais. Não admira que haja problemas por causa de Marjorie (Sarah Lancaster)– a jovem fantástica que por lá anda e que o italiano (Raoul Bova) se tenha casado com uma mulher mais velha – extraordinária (Rosanna Arquette). Pena que o italiano tenha morrido, até porque era das minhas personagens favoritas na série… Mas recomenda-se! Ainda com Barry Watson, Matthew Davis, Rick Gomez, Amanda Detmer, entre outros.
Foi o mês de Agosto de um ano olímpico – já se imagina o que andei a ver. Daqui a quatro anos há mais!
Música:
Deolinda, A Canção Ao Lado*****
argumentos: sobre os Deolinda já falei aqui. Mais não posso dizer, se não que são muito bons e que tenho ouvido muito, sobretudo «Eu tenho um melro» e «Movimento Perpétuo Associativo». A música portuguesa em grande!
Cinema:
Os Seis Sinais da Luz, de David L. Cunningham (filmes onde o fantástico domina conquistam-me facilmente. Gostei também deste, simples e interessante)****
A Time To Kill, de Joel Schumacher (apesar do mundinho dos advogados e tal, intenso)****
A Rainha das Andorinhas (animação Japonesa com desenhos bonitos e uma historinha com moral fácil, mas tão bonito!)****
A Chave Mestra, de Iain Softley (filme de terror sem monstros e sem sangue! Assim já vale mais a pena!) ***
La messa è finita, de Nanni Moretti (ele é doido, mas bom)***
Palombella Rossa, de Nanni Moretti (idem, ibidem)***
A Múmia 3 - a tumba do imperador dragão, de Rob Cohen (sem Rachel Weisz não é a mesma coisa. Mas é mau não apenas por isso…)**
Uma Noite no Museu, de Shawn Levy (Ben Stiller e uma cambada de personagens históricas em contacto. Gostei, no geral) ***
Casino Royale, de Martin Campbell (por favor…)**
Morte num Funeral, de Frank Oz (uma comédia inteligente)****
Bee Movie, de (adoro filmes de animação bem feitos)*****
The Mist, de Frank Darabont (se não tivesse monstrinhos visíveis seria bem mais interessante, e aquele final…)****
(alguns dos filmes em dvd com tradução em Português do Brasil...)
1 comentário:
O bom gosto continua...
Um abraço... peludo!
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