sexta-feira, julho 03, 2009

Para a Marta e para a Virgínia - Parabéns!

«E então conto o do que ri, que se riu: uma borboleta vistosa veio voando, antes entrada janelas a dentro, quando junto com as balas, que o couro de boi levantavam; assim repicava o espairar, o vôo de reticências, não achasse o que achasse - e era uma borboleta dessas de cor azul-esverdeada, afora as pintas, e de asas de andor. - "Ara, viva, maria boa-sorte!" - o Jiribibe gritou. Alto ela entendesse. Ela era quase a paz.»

João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas (Editora Nova Fronteira, 2005)



borboleta é um ser irrequieto.
para vestes usa pólen.
tem um cheiro colorido
e babas de amizade.
descola por ventos
e facilmente aterriza em sonhos.
borboleta tem correspondência directa
com a palavra alma.
para existir usa liberdades.
desconhece o som da tristeza
embora saiba afogá-la.
usa com afinidades
o palco da natureza.
nega maquilhagens isentas
de materiais cósmicos. como digo:
pó-de-lua, lápis solar
castanho-raíz, cinzento-nuvem.
borboleta dispõe de intimidades
com arco-íris
a ponto de cócegas mútuas.
para beijar amigos e vidas ela usa olhos.
borboleta é um ser
de misteriosos nadas.

Ondjaki, Há Prendisajens com o Xão (Caminho, 2004)

2 comentários:

Marta disse...

Obrigada por me seres em dia de aniversário...
Fora este és-me todos os dias :)

tulisses disse...

ao reler o documento-carta vejo que faltam os filmes, que na música falta o hino cantado por Diana Krall... Mas lá está, não podia ser perfeito... O outro ganhou-me na música, teve muito tacto para escolher o Debussy... mas a versão tocada por Dario Marianelli é mais bonita ;)

beijo