Gato em apartamento vazio
Morrer – isso não se faz ao gato.
Pois que há-de um gato fazer
Num apartamento vazio.
Ir arranhando as paredes.
Roçar-se por entre os móveis.
Por aqui nada mudou
Mas está mais que mudado.
As coisas estão nos sítios,
Mas os sítios outros são.
E nem se acende a luz pela noitinha.
Ouvem-se passos na escada,
Todavia, não os tais.
A mão que põe no pratinho o peixe
Também não é a que antes punha.
Algo aqui não acontece
às horas que acontecia.
Algo há aqui que não corre
Como devia correr.
Alguém aqui esteve, esteve,
E agora teima em não estar.
Vasculhados todos os armários.
Percorridas todas as prateleiras.
Uma vez verificado o chão sob a alcatifa.
Contra todas as proibições até,
espalhados os papéis.
Que é que fica ainda por fazer.
Dormir e esperar.
Deixa-o só voltar,
deixa-o lá mostrar-se.
Há-de aprender
que com um gato não se brinca assim.
Há-de um bicho ir-se chegando para perto,
Como quem não quer a coisa,
bem devagar,
muito sobre as patinhas ofendidas.
E ao princípio nada de saltar nem de miar.
Wislawa Szymborska“ Paisagem com Grão de Areia”
2 comentários:
"Por aqui nada mudou/mas está mais que mudado" :) em todo o poema, deixa me ser rebelde e destacar apenas estes dois versos..e deixa me dar asos à heresia da parafrase, e dizer que é por isso que este poema se adequa a ti! :) axo ke n preciso dizer mais nada! ahhh claro k tenho de dizer..DETESTO GATOS :p mas há sempre uma excepção..adoro te a ti!!! :p ***********
Tipo, "heresia da parafrase" n é bem..lolol tenho de ser mais rigorosa..:p foi pelo facto de tirar 2 versos e dizer insconscientemente "isto é o Ti"..nada mudado, mas to(u)do mudado! (okkk já m calei :x lolol tou d ferias, n dou uma pa caixa..lol)
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