(porque ando a ler a poesia de António Gedeão e fico por vezes parvo a olhar para as letras com inveja de não ter sido eu a escrever certas coisas, aqui fica um dos poemas que mais me tocou, entre cinquenta mil outros:))
Amostra sem valor
Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível;
com ele se entretém
e se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja meu,
não pesa num total que tende para Infinito.
Eu sei que as dimensões impiedosas da vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
universo sou eu, com nebulosas e tudo.
(António Gedeão, Máquina de Fogo)
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