quarta-feira, fevereiro 06, 2008

II. 8. A prisão mental



Estou aqui, preso.
Da vontade, do sonho _________________ do sangue. A fulguração persegue os meus limites.

Quem dirá o estertor dos fins?

A mão que pulsa é também a mão que bate e procura fender o espaço. Os ruídos que saltam esvaziam-se de encontro a mim. O saber que me invadia não sonha o sangue que se derramará.

As noites em que te procuro são círculos cujo centro sou ainda eu. E os círculos fecham-se no meu eixo, sem rotação alternativa. Os dias são triângulos, quadrados, hexágonos, figuras em que me perco de encontro aos espelhos, onde me vejo de _________.

Quem dirá o estertor do fim?

Preso em figuras como se fossem reais. E são grades mais grossas do que cordas, em que a luz se derrama sem entrar. Espaço fendido como sexo que não se abre, que não se dá ao desconhecido. Assim a mente
fechada
sem limite
demarcando o meu corpo sitiado.

Os fins de mim nos fins das figuras mentais. Para daqui sair o que é possível. Quem auxilia a fuga morre __________ menos a solidão. Só há império do vazio. Bate a mão sangrenta em busca do sexo fendido, de uma , de um vazio que lhe dê ar novo, luz, que lhe permita transferir-se, átomo a átomo para o exterior.

O círculo que é fechado não abre, não tem lados nem ângulos. No escuro, perco-me e ando quilómetros em torno dele, procurando uma fresta. O corpo que choca é também o que pulsa, cada vez menos, preso no escuro do vazio que cega.

Quem dirá o estertor
quando os meus limites forem o fim
e eu daqui apenas sair quando não existir mais?

A cegueira prolonga-se à mão que bate, ao corpo que choca. Sentado no meio – ao que me parece o meio do vazio – encolho-me para me desaperceber
e me esquecer que existo dentro de mim
desfulguro-me de saber se é já hexágono, se os espelhos reflectem o meu corpo feito chagas e silêncios.

Não é círculo, é como uma laranja. Ganha volume, fecha-se sobre o cima e o fundo. Cilíndrica morte por clausura. Laranja forrada a vidros que vêem e dão a ver ao cego que lá mora _________ ou morre.

No meio ou quase
fulgura a luz de uma brecha.
É o momento de cerzir. Se a mente criou uma laranja,
essa laranja terá
de
cair
ser aberta, ser comida
apodrecer.

Os limites da laranja são os meus limites escritos num texto como se dito ele existisse. O fim da laranja é o meu início, o meu sangue é o sumo da laranja. A pele da laranja é os espelhos que quebrei à procura de brechas. E a casca da laranja é onde me aprisiono

do medo?
dos outros?
de mim?

Quando a laranja cair de madura, serei um sexo fendido, sangrando ___________ serei o outro que em mim vive. O corpo na mente varrerá o vazio para debaixo de um tapete e nele restará.

No momento em que durmo e o sonho não chega ainda, encontro a brecha da laranja que caiu e se rasgou numa pedra. Na fenda que fez, vejo a luz que cega e um frio fresco. É agora ______ que o vazio espera do outro lado também.

A morte terá de esperar.

Deixo-me sair, são as regras da laranja imaginada.
Mas quero sair?
Quero entrar no novo que me cega e me dobra?

Quem dirá o fim?


Depois de ter lido Onde Vais, Drama-Poesia?, de Maria Gabriela Llansol. Tentativa de experiência a partir de alguma coisa parecida com o que ela faz. Afinal este conjunto de contos é isso, experiências… Resultou estranho, é certo. O aspecto gráfico-visual tem toda a importância, mas aqui não ficou muito bem, nem todos os parágrafos e espaço são assumidos…

2 comentários:

paulo disse...

Ia perguntar-te se te tinha armado em Gabriela Llansol... como assumiste no final, já não tem piada.
Abraço

tulisses disse...

pois. eu tenho uma relação estranha com a escrita dessa senhora. mas não resisti à experiência e não ficou assim tão mau, apesar de óbvio e não tão abstracto ou desconexo ou fragmentado ou whatever... Nunca fui obrigado a lê-la na licenciatura (no meu ano a professora optou por Rui Nunes - que é bem pior), mas os do ano seguinte leram e iam morrendo. Resolvi conhecer. Um Beijo dado mais tarde e, alguns anos depois, agora, este que estava lá na estante a pedir para ser lido desde 2005... as datas dos livros por ler começa a assustar-me. e pronto, num momento de espera num shopping em dia de carnaval, que mais fazer? intertextualidade por imitação de estilo...
abraço