quarta-feira, março 12, 2008

Dois poemas de Manuel da Fonseca

Sete Canções da Vida

Quarta
Depois que nossos pés andaram toda a terra,
cruzaram caminhos, devassaram florestas, escalaram montanhas
e volveram sangrentos riscando as estradas do mundo;
depois que o mar é um murmúrio azul de águas fáceis
e se foi o mistério que havia nas distâncias,
evaporado como espuma na quilha dos navios;
depois que nossas mãos mergulharam na noite milenária,
tocaram luas mortas, revolveram estrelas
e enfim! acenaram escorrendo luz de sóis:
- por que não vamos colher os frutos que nós semeámos?
porque não vamos, irmãos, porque não vamos?!

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Adormecer

Vai vida na madrugada fria.

O teu amante fica,
na posse deste momento que foi teu,
amorfo e sem limites como um anjo;
a cabeça cheia de estrelas...
Fica abraçado a esta poeira que o teu pé levantou.
Fica inútil e hirto como um deus,
desfalecendo na raiva de não poder seguir-te!


Poemas Completos, Portugália Editora, p.11, 147

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