sábado, maio 31, 2008

Sugestões de Maio

Finalmente prontas as sugestões de Maio - sem grande tempo e paciência para as categorias lá de baixo... mas ainda assim ficam aí, para quem quiser aproveitar.

Livros:

1 – A Bíblia (Jonas, Miqueias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias), Paulus ***

argumentos: acabei o Antigo Testamento. Muitos livros, mas pequenos. Repetem algumas das ideias anteriores, mas há uma maior presença nestes da universalidade da fé, do tom messiânico, da necessidade de restauração que substitui o discurso do castigo e da consolação. Surge Satanás (Zc, 3, 1) e surgem as ruínas (tema que me é tão caro) em quase todos eles.


2 – Há monstros debaixo da cama?, Bill Watterson, Gradiva *****


3 – Ensaio Sobre a Lucidez, José Saramago, Caminho*****
4 - Objecto Quase, José Saramago, Caminho****
5 – Discursos de Estocolmo, José Saramago, Caminho****
6 – A Estátua e a Pedra, Caminho****

argumentos: continua a minha saga (agradável) da leitura de livros de Saramago, por culpa da exposição, ou com a desculpa da exposição, que lá os fez subir na minha lista mental. Ensaio Sobre a Lucidez foi um dos poucos livros da minha vida que deixei por ler: há quatro anos, quando saiu, li os dois primeiros capítulos e disse para mim que não era ainda tempo de o ler. E ainda bem, porque agora dei-lhe mais valor: gostei muito do clima de consciência política dominadora, de estado de sítio, da sensação de revolta ou de ironia que provoca no leitor… e tudo a partir daquelas situações extraordinárias comuns na obra do autor. Gostei ainda bastante por ir buscar personagens de o Ensaio Sobre a Cegueira, um dos meus livros favoritos, não só do Saramago mas de todos… Mais: «os humanos são universalmente conhecidos como os únicos animais capazes de mentir, sendo certo que se às vezes o fazem porque perceberam a tempo que essa era a única maneira ao seu alcance de defenderem a verdade.»p.50. Objecto Quase é um livro de contos muito interessante, seis em que gostei muito de quatro, a saber: «Cadeira», «Refluxo», «Coisas», «Centauro». Experimentalismo, um certo tom de sobrenatural ou até ficção científica. Mais: «Nós, homens, somos frágeis, mas, em verdade, temos de ajudar a nossa própria morte.»p.21. Discursos de Estocolmo reúne os dois textos que escreveu para a aceitação do Prémio Nobel, em 1998, assim como A Estátua e a Pedra é um discurso do autor reflectindo sobre a sua obra. Muito bons para conhecer melhor o homem e o escritor.


7 – A Poesia de Carlos de Oliveira, Manuel Gusmão, Seara Nova/Comunicação****

argumentos: poeta fundamental no século XX, além de romancista, é nesta edição criteriosamente estudado por Manuel Gusmão. Apesar de ter gostado muito de alguns poemas, o que mais me seduziu nesta edição foi exactamente a apresentação crítica, as notas, as sugestões para análise literária que Manuel Gusmão propõe, com rigor e profissionalismo. Leitura tão apurada que me resolveu a cabeça e orientou para a minha própria dissertação.


8 – José Saramago. A Consistência dos SonhosCronobiografia, Fernando Gómez Aguilera, Caminho****

argumentos: obra organizada para acompanhar a exposição com o mesmo nome. Um livro muito bem estruturado e documentado com fotografias, excertos de entrevistas, citações de livros, material esse que algum do que se pode apreciar na dita exposição. É, no fundo uma descrição cronológica da vida e da obra de Saramago. Inclui também uma parte dedicada à exposição e sua abertura em Espanha.

9 – Cemitério de Pianos, José Luís Peixoto, Bertrand*****

argumentos: romance magistral do jovem escritor. Dorido, intenso, estranho. Muito bom. Conta a história de uma família, na voz do «patriarca» que já morreu e na voz de um dos seus filhos, Francisco Lázaro, inspirado no atleta português que em 1912 morreu na prova de Maratona, ao quilómetro trinta, nos Jogos Olímpicos de Estocolmo. As suas vozes vão alternando em capítulos, mostrando curiosas semelhanças nos acontecimentos da vida de um e de outro, enquanto se conta também a vida da mãe e das irmãs da personagem Francisco, dias antes da tragédia. Destaque para a organização dos capítulos do atleta por quilómetros, que resulta numa novidade interessante, beneficiada pelo discurso propositadamente memorialístico e de pensamento no momento da corrida. Mais: «Correr é estar absolutamente sozinho. Sei desde o início: na solidão, é-me impossível fugir de mim próprio.»p.135; «- Não choras. Eu vou dormir a sexta com a avó, mas volto ontem. Está bem? Volto às setenta e quarenta horas.»p.176; «perguntávamo-nos qual de nós morreria primeiro. Era uma angústia que nos atingia.»p.303.


10 – A Loja dos Suicídios – Jean Teulé, Guerra & Paz****

argumentos: Vi-o no sítio da FNAC e pensei logo: tenho de o ler. E lá o comprei na Feira do Livro. Uma pequena pérola do humor negro: «A sua vida foi um fracasso? Connosco, a sua morte será um sucesso!». Isso mesmo, uma loja que tem tudo o que é preciso para um suicídio eficaz. Um desfilar de personagens e possíveis suicídios, uns conseguidos, outros não. A loja é gerida por uma família toda ela vocacionada para o ramo macabro, menos um menino, o filho mais novo, que tenta mudar as mentalidades e o negócio da família. Surpreendente, engraçado, de leitura rápida (li na viagem de autocarro Lisboa – Porto…). Mais: «- Alan!... Quantas vezes será preciso dizer? Não se diz «Até à vista» aos fregueses que saem daqui. Diz-se «Adeus», pois nunca mais voltam. Quando é que vais perceber isso?»p.11 – já dá para ter uma ideia do que é esta loja e esta família!


11 – O Gosto Solitário do Orvalho seguido de O Caminho Estreito – Bashô, Assírio & Alvim****

argumentos: depois de ter lido o livro na edição mais antiga no mês passado, encontrei na Feira do Livro a edição actual, que além dos poemas inclui um relato de viagem do autor, que permite conhecer melhor o seu carácter e as condições/motivos para a escrita de alguns dos seus hai kai. Mais: «os meses e os dias são viajantes da eternidade. Assim como o ano que passa e o ano que vem»p.57;

Hoje o orvalho
apagará o teu nome
do meu chapéu (p.97)


12 – O Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel - JRR Tolkien, Europa-América*****
13 – O Senhor dos Anéis: As Duas Torres - JRR Tolkien, Europa-América*****

argumentos: e lá comecei finalmente a saga. O primeiro volume foi lido em três dias vorazes e incansáveis: as muitas diferenças do livro e do filme compeliam-me a ler sempre mais, porque apareciam coisas que não estavam no filme e queria ver como as opções pelos responsáveis da adaptação respeitavam ou não o livro (não o livro em si, claro, acções e personagens e tal, mas o espírito, se assim quisermos). Conclui que sim, apesar de tudo. E resultam as duas com propriedade e com muito interesse. Gostei muito, portanto. Porque se a história já me era conhecida, pude aprofundar melhor os sentidos, as relações. O segundo volume levou um pouco mais de tempo, mas também gostei muito, pelos mesmos motivos. Mas neste caso o filme é mais próximo do livro, embora se desvie para outras questões e perspectivas. E uma personagem que acho muito interessante, e já aqui o disse, é Faramir, tem aqui um papel maior do que no segundo filme. Talvez um dia fale desta personagem e porque ela me interessa. E como eu adoro estes livros que constroem mundos alternativos e especiais e assim por aí fora, literatura fantástica, se quisermos, estou mortinho por ler o terceiro volume.


Música:

Katie Melua*****
Há uns tempos a Consti fez-me ouvir os três álbuns da menina que de georgiana passou a britânica. Uma voz doce, uma capacidade vocal e impresiva muito interessante, músicas que andam entre o jazz e o blues. E além disso, muito bonita a mulher. São os discos três muito bons: Call off the search (2003), Piece by Piece (2005) e o mais recente Pictures (2007). Vale a pena ouvir as 36 musicas de enfiada, das quais se destacam: «The Closest thing to crazy», «Call off the search» e «Crawling up a hill» do primeiro, «Nine million bicycles», «I cryed for you», «Spiders' web» e «Shy boy» do segundo, e «If you were a sailboat» e «If the lights go out» do mais recente - canções que foram avanços dos álbuns e que foram sendo sucessos um pouco por todo o mundo. Eu, que gosto mais do Piece by Piece, destaco ainda: «My aphrodisiac is you» e «I blame it on the moon» do primeiro, «Piece by Piece», «Halfway up the hindu kush», «Thank you, stars», «Just like heaven», «I do believe in love» do segundo, e «Dirtu Dice», «What I miss about you» e «In my secret life» do terceiro.

Tv:

Destaque breve para o regresso de Lost à RTP1. Adoro esta série e está a ficar cada vez mais empolgante com a saída futura da ilha de seis personagens - têm aparecido já momentos das suas vidas no futuro (em relação ao momento principal da história, ainda na ilha). Na Dois: tenho visto a Britcom, programa que vejo já há vários anos, com momentos de maior interesse do que outros, dependendo das séries. Agora tem o Na tua ausência, sobre uma família complicada e hilariante, o que acontece na outra série A minha família, ainda mais complicada e mais hilariante. Também na Dois: a série Chuck, estreada há pouco, que combina humor e acçãom espionagem e azelhice! Voltando à RTP1: estreou há pouco Os Contemporâneos, um programa de humor com Bruno Nogueira, Carla Vasconcelos, Dinarte Branco, Eduardo Maceira, Gonçalo Waddington, Maria Rueff, Nuno Lopes e Nuno Markl (gosto muito no Markl, da Rueff e do Nuno Lopes). Link para um momento do programa (há mais no youtube) em que se fala de póneis!!!


Cinema:
(filmes já velhos, sim, mas só agora os vi...)

King Kong**** - a versão de Peter Jackson, com Adrien Brody, Naomi Watts e Jack Black. Muito interessante.
Desmundo** - com Simone Spoladore, Osmar Prado e Caco Cioler. Passado nos inícios da colinização do Brasil, uma história de uma mulher que tem de se casar com um colono... e enfins...
Pânico a Bordo*** - eu gosto da Jodie Foster e ela faz bem estes papéis desesperados. E gostei, pronto.
Proof, entre o génio e loucura**** - de John Madden, com Gwyneth Paltrow, Anthony Hopkins, Jake Gyllenhaal e Hope Davis. Sobre a loucura e a genialidade. Bastante interessante, e com uma Paltrow ao melhor nível.
Morte em Veneza** - não gostei muito do livro, e também não do filme. Mas pronto, são obras importantes. Ninguém morre por os conhecer, mas também o contrário é verdade.
Antes que o tempo mude** - cinema português, porque não? Má escolha, talvez. Filme de Luis Fonseca com Mónica Calle, Mónica Garnel, Manuel de Freitas, João Mota, Carlos Vieira, Albano Jerónimo. Estranho, muito parado, muito despidos... e sem verdadeiro interesse...


Exposição:

A Consistência dos Sonhos, pois claro. Está disponível até 27 de Julho. Para mais informações: ver sugestões do mês de Abril.

Outros:

Feira do Livro - Lisboa e Porto.
Fui à de Lisboa, pois então. E apesar de coisas que me parecem menos bem, gostei e comprei muitas coisas, incluindo africanos editados nos anos 70, como o meu Arlindo Barbeitos...


Destaque ainda, como forma de pequena homenagem, para a vida e morte de Sidney Pollack, aos 73 anos de idade. Actor, produtor e realizador, deixa-nos um trabalho importante em filmes como Tootsie, África Minha (com o qual recebeu o Oscar de Melhor Realizador), Sabrina, Iris, Cold Mountain, A Intérprete, Michael Clayton.

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