domingo, maio 18, 2008

Zélia Gattai 1916/2008

Zélia Gattai (São Paulo, 2 de Julho de 1916 — Salvador, 17 de Maio de 2008). Escritora e fotógrafa, envolvida na militância política durante quase toda a vida. Esteve casada cinquenta e seis anos casada com o também escritor Jorge Amado, até à sua morte, em 2001. Não li nada dela, mas fica a lembrança devida neste blogue a quem se dedica às letras.

Obra: Anarquistas Graças a Deus, 1979 (memórias), Um Chapéu Para Viagem, 1982 (memórias), Pássaros Noturnos do Abaeté, 1983, Senhora Dona do Baile, 1984 (memórias), Reportagem Incompleta, 1987 (memórias), Jardim de Inverno, 1988 (memórias), Pipistrelo das Mil Cores, 1989 (literatura infantil), O Segredo da Rua 18, 1991 (literatura infantil), Chão de Meninos, 1992 (memórias), Crônica de Uma Namorada, 1995 (romance), A Casa do Rio Vermelho, 1999 (memórias), Cittá di Roma, 2000 (memórias), Jonas e a Sereia, 2000 (literatura infantil), Códigos de Família, 2001, Um Baiano Romântico e Sensual, 2002.

excerto:
«Um dia ouvi mamãe combinando com papai a minha ida para a escola (...). Eu estava com quase oito anos; havia aprendido todas as letras do alfabeto (...). Lia frases inteiras. – Já está na hora – mamãe dizia e repetia. – Já passou até da hora. Dona Carolina mandou um recado ontem, quer saber se vamos deixar a menina continuar analfabeta para o resto da vida (...). Realmente, ela não tinha pensado que passara o tempo de matricular sua filha na escola. A menina era tão sabida, aprendia com facilidade, sem ninguém ensinar... Quanto mais tarde fosse à escola, melhor: menos tempo de escravidão entre quatro paredes, de humilhações e castigos corporais aplicados pelas professoras, hábito da época: bolos nas mãos, puxões de orelhas, joelhos sobre grãos de milho ou de feijão atrás de uma porta (...). Havia o exemplo de Olguinha: no primeiro dia em que foi à escola assistiu ao espancamento de um colega. No dia seguinte recusou-se a voltar. Não queria arriscar, não estava disposta a suportar brutalidades. Havia um ano que dona Josefina pelejava para que a menina retornasse aos estudos, sem resultado. Olga começava a suar frio, sempre que falavam em escola, entrava em pânico. Cláudio também regressara várias vezes da aula, de orelhas vermelhas, joelhos inchados. Com Tito, acontecera chegar em casa trazido pelo servente da escola, seguro pela orelha (...). Minha professora não batia nos alunos nem os punha de joelhos sobre o milho ou feijão; tentava manter a disciplina da classe utilizando-se de réguas – mantinha sobre a mesa pelo menos uma dezena de réguas, todas enfileiradas – que atirava na cabeça da criança faltosa, com uma técnica muito especial: segurava numa das pontas da régua, fazia pontaria e... jamais errava o alvo».

Zélia Gattai, Anarquistas, graças a Deus. 30. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 300-4

informações recolhidas na wikipédia.

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