quinta-feira, julho 17, 2008

3 poemas de Carlos Nejar

LIMITE

Meus mortos, somos ligados
ao mesmo monte.
Porém, o que nos separa
é o estar adiante.

Não vos atinjo
e esta distância
é que me torna cativo.

Há um invólucro apenas
a ser quebrado.
Meus mortos,
há um invólucro apenas
e os meus sonhos vastos.
****

DEUS NÃO É A PALAVRA DEUS

Deus não é a palavra Deus
e andorinha,
a palavra andorinha.

Há um poço
que não entra
na palavra poço.

O amor, na palavra amor.
E Deus é tudo isso.
****

O Guitarrista Cego, Goya


O CEGO DA GUITARRA (GOYA)

Cego com os olhos
e morto. Cegos
os ouvidos. Cegos os olhos
de remota lembrança.
Nariz adunco e morto.
Chapéu entornado
E morto. Sob a capa,
Mortalha. Morto
morto morto.

Mas a guitarra
salta, a guitarra
letrada e casta
jorra e alegria
de um povo
em torno.

A guitarra é o cego.
A guitarra é o cego.
A guitarra tem os olhos
acesos.


Antologia Poética de Carlos Nejar, organizada por António Osório, Pergaminho, p.55, 98, 159

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