quinta-feira, janeiro 31, 2008

Sugestões de Janeiro

Janeiro foi um mês atípico. A viver no Porto por causa do EILC, o tempo não foi muito. Mas aproveitei o comboio aos fins-de-semana e o metro todos os dias para ir lendo. Coisas pequenas (os dois primeiros li na semana antes de começar a trabalhar) para não quebrar muito as leituras... Quanto à música e filmes, ouvi e vi mais, mas estes foram os mais marcantes. Eu sei que não sou muito actualizado, mas no meio de tanta coisa que vai surgindo, como é possível? De qualquer modo, ficam aí sugestões para quem quiser aproveitar, para o bem e para o mal...


Livros:
1 – Bíblia (Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria)

Argumentos: é a Bíblia, não são necessários argumentos. Mas estes livros são dos mais interessantes... *****


2 - Harry Potter e os Talismãs da Morte, J. K. Rowling, Ed. Presença

Argumentos: a imaginação de um mundo alternativo não desilude. É necessário responder a todas as questões pendentes, e criar novas, e responder a estas. O final pode ser estranho, mas se calhar era mesmo necessário. A interligação de todas as coisas está muito interessante, e tem passagens de raciocínio muito interessantes. *****


3 - Porto-Sudão, Olivier Rolin, Asa

Argumentos: «e escrever seria então tentar orquestrar esse puro rumor do caos»p.41 ou «escrever teria sido compor música entre a desordem e o silêncio eterno»p.41. É um livro pequeno de uma grandeza avassaladora. Reflexões sobre a escrita, o amor, África... Dificilmente a ausência e o abandono terão sido escritos com tal força. *****


4 – Platero e Eu, Juan Ramón Jimenéz, Ed. Livros do Brasil

Argumentos: de leitura fácil para dias complicados de metro e autocarros, pequenos textos descritivos ou narrativos, com impressões e aventuras mais ou menos imaginadas. Predomina a tranquilidade e a ternura. «se um dia eu me deitar a este poço, não será para me matar, acredita, mas para agarrar mais depressa as estrelas»p.77. ****


5 – Os Funerais da Mamã Grande, Gabriel García Márquez, Quetzal

Argumentos: «olhou de imediato à sua volta, como para se reconciliar com a solidão»p.122. Sete contos e uma novela curta, passadas em Macondo e na sua região, com personagens e episódios reconhecíveis de uns contos para outros e para outros livros do autor. Muito interessantes, no geral. ****


6 – O que Diz Molero, Dinis Machado, Círculo de Leitores, ed. especial

Argumentos: história fragmentada de um rapaz, suas aventuras e desventuras, viagens e conquistas, dadas por dois discursos a partir de um relatório. Além de uma organização textual inovadora, uma história bem humorada. «quem sou eu para saber qual o peso de sombra necessário para construir a claridade de um verso?»p.104 *****


7 – Poeta Militante I, José Gomes Ferreira, Círculo de Leitores

Argumentos: poesia aparentemente fácil, insatisfeita com a realidade objectiva e com a radizalização interiorizada das suas próprias observações subjectivas, com uma visão muito particular das temáticas abordadas, impõe uma irracionalidade poética única. Destaque ainda para os parêntesis: «(Homens: porque não nasci apenas no espelho,/sem alma deste lado?)»p.53; «E andamos nós, há tantos séculos,/ a iludir a nossa solidão/ com vozes de estrelas»p.290; «A realidade/ não é o que vejo/ mas o que imagino/ para ser verdade»p.321... *****



8 – Balzac e a Costureirinha Chinesa, Dai Sijie, Terramar

Argumentos: história de dois amigos burgueses que têm de ser reeducados e são enviados para um campo numa montanha. Mas descobrem o fascínio dos livros, o amor, o sexo... Não só Balzac, mas a literatura como forma de evasão, formação, libertação, reconstrução de vidas. Também adaptado ao cinema, numa realização do próprio escritor. «Os meus livros preferidos eram os de contos, que nos relatam uma história bem encadeada, com ideias brilhantes e às vezes divertidas, que que nos deixavam sem fôlego, histórias que nos acompanhavam durante toda a vida»p.94 *****


9 – Perseguição e cerco a Juvêncio Gutierrez, Tabajara Ruas, Ambar

O narrador/personagem criança vive um Sábado que muda a sua vida e o inicia na idade adulta: «Quando o coração da gente se despedaça em um montão de pedacinhos»p.44, através das responsabilidades do futebol, da descoberta do corpo feminino, da morte do tio perseguido pela justiça... ****


Argumentos: uma série despretenciosa sobre a procura do amor nos lugares mais inesperados. Liderada por Anne Heche e com um elenco bastante interessante, a série alterna os momentos cómicos com momentos de ternura. Uma maneira interessante de começar a noite de sexta, mas, pelos vistos, está a acabar. *****

Música:
Rodrigo Leão.

Argumentos: por tudo - beleza, qualidade, harmonia, capacidade de despertar facilmente sentimentos de paz, melancolia, inquietude. Destaque para, claro, Alma Mater, Cinema e «Voltar» de O Mundo. *****


Cinema:
Expiação

Argumentos: realizado por Joe Wright, com Keira Knightley, James McAvoy, Romola Garai, Brenda Blethyn, Vanessa Redgrave... Adaptação do romance homónimo de Ian McEwan (de quem gosto muito), com uma banda sonora muito interessante, marcada pelas batidas da máquina de escrever, com uma estrutura pouco habitual e relações densas (embora o livro, claro...). Com argumentos para reconhecimento e premiações. *****

domingo, janeiro 27, 2008

II. 4. O Mergulho

«se um dia me deitar a este poço, não será para me matar, acredita, mas para agarrar mais depressa as estrelas»

Juan Jamón Jiménez, Platero e Eu


Da maneira como as pálpebras teimavam em cair, como que puxadas por algo invisível, firmadas por um peso crescente e irresistível, ele deveria estar próximo de os fechar a sério. Ainda assim, ele tentava evitar que isso acontecesse a todo o custo: com, a mão livre, dava pequenos estalos na cara, esfregava os olhos, primeiro um, depois o outro, e arregalava-os, mas ainda assim, estes teimavam em fechar-se sedutora, irremediavelmente. O frio entorpecia os gestos e as bofetadas eram menos violentas com o tempo, e o esfregar os olhos era quase uma carícia desconexa, distraída, vacilante. As pernas entorpeciam e deixavam aos poucos de obedecer à sua vontade de as pendular para as aquecer. Por um breve momento, os olhos fixaram-se no mar. A luz da lua coava-se nele, reflectida. Era a única luz que impedia o avanço total das trevas, mas nos olhos dele nem sempre distinguiam já a luz da sombra e do medo. Os gestos pararam, os olhos foram-se fechando e reparou então, no momento exacto da transição de mundos, que não ouvia nada, nem sequer os ramos das árvores. Nem sentia o vento que via nas folhas. Nem cheirava nada, como se o mundo estivesse limpo de tudo. Mas de um momento para o outro, tudo voltou ao mesmo tempo, recordações do imediatamente anterior, da vida passada, do presente momento no meio de uma batalha estúpida em que se metera por desgosto amoroso e que agora lhe custava a vida, pois tinha consciência agora, agora que também os sentidos lhe voltavam com a dor imensa que dividia o seu corpo em dois, que não poderia nunca resistir ao ferimento que lhe desfizera a perna direita contra a fachada da igreja gótica que se erguia abruptamente sobre o desfiladeiro. E não pendulava as pernas porque não as tinha, pelo menos as duas. E sentiu de repente o odor dos suores, do mijo, dos corpos mortos, do fim da vida que sabia estar algures por ali, à sua volta. A Morte saciava-se das vidas que ia recolhendo, sem fim. A noite erguia-se do fim do mundo e avançava para o outro lado. Mas havia lua e estrelas. Havia uma luz que impedia a escuridão. Para ele era bom, sempre via por onde podia andar ou não, quando conseguisse ganhar algumas forças, embora assim pudesse ver também os cadáveres de amigos e companheiros. A lua começava a esconder-se atrás da igreja, que era agora uma ruína, feita de destroços de pedras, madeiras, corpos... As estátuas austeras espalhavam-se grotescas pelo que restava do corredor, parcialmente destruído, com os granitos decompostos nos seus elementos misturados com sangue. Um dos braços da cruz já não existia, enquanto a outra, ironicamente, se mantinha intacta, embora coberta de pó. Dessa parte da igreja vinha alguém agarrado ao um braço. Os olhos do primeiro, molhados de lágrimas, fitavam o céu e a sua escrita brilhante. Os sentidos tinham-se fechado novamente, concentrados na vida passada. Não vás. Não precisas de ir. Esta guerra não tem nada a ver connosco. Bem sei que tens um coração do tamanho do mundo a dobrar, mas não precisas de ir. Ouve-me, meu filho, não vou conseguir perder-te por uma coisa que não nos diz respeito. Esta não é a tua guerra, esse não é o teu país. Nos olhos dele brilham agora as lágrimas da mãe, escorrendo agora pela sua face. Tinha noção de que tudo não passar de uma forma heróica de suicídio, sem que ninguém percebesse a atitude como uma desistência da vida. Lutar, lutar pelos oprimidos, pela liberdade! Grande disfarce para a cobardia de lutar pela vida. O segundo atravessou a igreja com o cuidado de não pisar mortos nem feridos, embora não o tenha conseguido sempre, e não tenha encontrado feridos até chegar às portas, escancaradas mas ainda no sítio, como se demarcando uma posição de impenetrabilidade a quem quisesse passar. Mas acima delas apenas um resto da fachada de pedra e um buraco enorme onde antes estaria uma rosa de vidros coloridos. Repara então no companheiro que olha o céu e tem lágrimas nos olhos. Emocionado por não ser o único sobrevivente, esquecido do seu braço estropiado, tenta ajudar o primeiro a erguer-se, como a afugentar a Morte dos seus olhos. Caramba, que combate, hã companheiro! Mataram toda a gente, os cabrões. E destruíram a igreja, os filhos da puta. E olha que era uma igreja bem antiga… Um amigo meu, professor de história e que morreu noutra emboscada, dizia que esta igreja era das mais importantes de há uns séculos atrás… Agora não é nada, nada sobrou a não ser aquela capela ali, vês? Falava à toa, empurrando as palavras e as frases como ia empurrando o tronco do companheiro lívido e a tremer de frio ou de febre, como se ao falar assustasse a Morte que por ali rondava. Nós somos aquela capela, colega. Connosco a Morte não quer nada, ainda não é a nossa vez, ouviste? Caramba, que medo tive durante o ataque! Até me borrei todo, não sentes o cheiro? Não faz mal ter medo, todos temos, não é verdade? Pois… Mas olha para mi, deixa lá o céu estar sossegado, ainda não é a nossa altura, ouviste companheiro? Possa, nem o teu nome sei… Eu sou o Pablo, e tu como te chamas? Breve silêncio, entrecortado por risadas nervosas de Pablo e gemidos do primeiro. Deixa lá, isso não é importante, quando estiveres bem lá nos falámos e depois agradeces-me… Vá, não é para aí, anda para dentro, caramba… Não tens uma perna, pois não, mas isso não faz mal nenhum, apoias-te a mim, mas deixa-me primeiro atar aqui qualquer coisa… Se quiseres arrasto-te, mas só com um braço também é complicado. Já está, bem, anda. Lá para dentro, colega, sempre está mais quente e podemos esperar que nasça o dia para ver se pudemos fugir, se os cabrões não estão por aí a vigiar para ver se fizeram bem o serviço… Chiu, está calado, que se estiverem aí dão conta de nós… E calou-se ele próprio, ao aperceber-se de que era o único que realmente estava a falar. Começou a arrastar o primeiro, que tentava reagir e parecia insistir na direcção oposta. O cheiro nauseabundo ia aumentando à medida que conseguiam percorrer a igreja. Subitamente, ruídos de carros lá fora ecoaram pela igreja. Foda-se, são eles! Depressa, deita-te para aí, finge-te morto Atirou-se para o monte de corpos, escondendo-se entre um companheiro morto e um banco. O outro deixou-se cair entre os cadáveres, mais por estar sem forças do que por temer a Morte. Uma luz varreu então a igreja. E uma voz disse que uma das capelas ficara ilesa. Entraram cinco ou seis soldados, pisando o inimigo, por vezes certificando-se de que estavam mesmo mortos. Tudo certo, tudo como planeámos. Agora é só encontrar a entrada para o túnel. Quando o encontrarem, avisem o coronel para ele dar início aos trabalhos de remoção do ouro. Os outros assentiram e dispersaram pela capela coberta de pó. No altar, um S. Miguel Arcanjo olhava com seus olhos azuis de estátua fria um diabo retorcido nas chamas a seus pés que demonstrava mais receio da espada cravejada de pedras do que o fogo eterno. Se o tal amigo de Pablo ali estivesse, explicaria que aquela estátua e a espada eram posteriores em muitos séculos à construção da igreja, mas não estava, e ninguém pareceu reparar na riqueza da espada coberta de pó. Pablo não respirava, tentando sobreviver ao cheiro e fazer não notada a sua vida. O primeiro já não ouviu a correria dos outros, a sua descida ao túnel. Mas Pablo estava atento, e mal viu que todos desapareciam inadvertidamente no túnel, correu como pode, já sem se incomodar muito com o pisar dos corpos, e tentou trancar a entrada do túnel, o que só conseguiu por, num momento de desespero, se ter virado para S. Miguel a pedir auxílio, que surgiu em forma de espada, que serviu de tranca na perfeição. Quando os inimigos se aperceberam que estavam presos e barafustavam atrás da pedra e da espada cheia de marcas brilhantes nos sítios em que as mãos tinham tocado, já Pablo e o primeiro estavam a chegar às portas. Pablo tê-las ia fechado simbolicamente, não tivesse de largar o companheiro e afastar os corpos de outros companheiros. Ajudou o outro a entrar num dos carros e tentou ligá-lo. A noite ia acabando. Pelo buraco da antiga rosa da igreja podia ver-se ainda a lua e algumas estrelas polvilhavam ainda o céu. Queria ir ter com elas. Disse o primeiro, numa voz débil. Quê? Nem brinques, não vais ter com estrelas nenhumas, ouviste? O carro há-de pegar e vamos fugir daqui… e aqueles cabrões que morram ali fechados! Vieram buscar ouro! Ouro, que ouro? O meu amigo professor de história realmente falou-me disso, mas disse que já tinha sido levado para um sítio, um museu, acho eu, por isso lá não devia estar nada… Raios partam a filha da puta da vida! E ria, da ironia, do nervoso, da tragédia, do seu corpo coberto de fluidos estranhos, da dificuldade de manobrar um carro só com uma mão, de ter escapado com um companheiro. O primeiro tinha o olhar fixo no céu que via pelo vidro da frente. O outro falava sempre, era a sua maneira de espantar o medo e a Morte. Subitamente, reparando no seu companheiro, apercebeu-se que estava no fim. Ó caralho, não me morras agora! Então, vá lá! Já escapámos, vamos direitos para o hospital, denunciamos estes cabrões e são fuzilados… Até podemos ser nós a matá-los, imagina o gozo… Não é gozo nenhum, é verdade. Acrescentou ao ver o rosto do companheiro mais sereno e ausente. Os seus olhos foram-se fechando com uma força sedutora e irresistível. Não feches os olhos, não agora, companheiro! Não agora! É só mais um bocado. E largou o volante para, com o único braço que lhe sobrava, agitar o companheiro e trazê-lo à vida. Foram uns segundos apenas, mas foi o suficiente para que o carro se despenhasse pelo desfiladeiro num mergulho perfeito de encontro às estrelas que também habitavam o mar. Estava a ver que não, sorriu a Morte.

sábado, janeiro 26, 2008

mais quatro grandes mulheres do cinema

aqui postei a minha admiração por três grandes actrizes. Aqui fica a lista de mais quatro grandes senhoras do cinema que também muito admiro. Com toda a propriedade. E também alguma arbitrariedade que os afectos implicam.








Juliette Binoche

Audrey Tautou

quarta-feira, janeiro 23, 2008

A terceira mais bela do mundo


A livraria Lello & Irmão foi fundada na Rua dos Clérigos, em 1869, na altura com o nome de Livraria Internacional de Ernesto Chardron. O actual edifício foi inaugurado em 1906, com a presença no dia de abertura de, entre outros, Guerra Junqueiro, José Leite de Vasconcelos e Afonso Costa.



Agora, o jornal inglês The Guardian considerou-a a terceira mais bela do mundo, e como muita justiça. Embora não conheça as outras, conheço muitas, mas nenhuma como esta. Ainda na semana passada, segunda-feira, dizíamos aos nossos alunos erasmus que era uma das mais bonitas de Portugal e da Península Ibérica. Já rectificámos. A reacção à notícia não podia ser melhor, claro. Aproveitem para passear por lá, mesmo que seja apenas vitualmente e não possam comprar nenhum livro...


domingo, janeiro 20, 2008

Apaixonado...


Será possível apaixonarmo-nos por uma pessoa que conhecemos há cinco dias? Com quem falámos umas três vezes sobre orientalções de transportes, cidade do Porto, e muito pouco da vida privada ou estudantil? É provável. Mas eu apaixonei-me, sem saber ainda naquele momento, assim que lhe pus os olhos em cima, assim que trocámos um primeiro olhar e se dirigiu a mim com um inglês perfeito. E quando se perdeu do grupo na baixa do Porto não foi um sentimento de perda gerado pela responsabilidade, mas sim uma dor de perda da sua presença e o desejo de que nada perdesse do passeio e que eu nada perdesse de si. E a alegria do encontro mútuo foi também mútua... É a primeira vez, em um ano e alguns meses, que alguém parece poder preencher o meu coração, não estivesse no meio a cidade de Lisboa e a Alemanha... Mesmo que impossível, mesmo que apenas uma coisa forte e passageira, mesmo que nada se realize, estou apaixonado outra vez e isso mostra-me que finalmente estou pronto para ser o outro que em mim habita.

sexta-feira, janeiro 18, 2008

testes rádio comercial



A Denise seria a Abelha Maia caso fosse um desenho-animado. Eu optei por fazer o teste de saber com quem deveria fazer um dueto. Há vários testes em Rádio Comercial, bem engraçados. Extrovertido não me parece muito, depende das situações e do tempo com que estou com as pessoas... Original, talvez já tenha sido mais. Quanto ao resto, acho que deve ser verdade. Tenho muita gente a dizer «Tu és estranho» ultimamente... E eu gosto...

terça-feira, janeiro 15, 2008

a minha palavra favorita

Numa sessão do Seminário de Ensino da Literatura, a professora Margarida Braga Neves perguntou-nos qual era a nossa palavra favorita da língua portuguesa. As respostas foram diversas e surpreendentes. A da professora é madrugada, uma belíssima palavra, a da Carla crepúsculo, a do António amor, a da Denise alguidar (muito curioso), a minha mergulhar. Depois disto, de explicarmos que se tratava nem sempre de associar ao referente e ser mais pela sonoridade da palavra (evito conscientemente termos como significado/significante e assim...), andei a perguntar a outras pessoas, quando me lembrava. A Sandra disse que era rato... (sem comentários), a Patrícia gosta de lambarices, a Milai divide-se entre fado e saudade (mais portuguesa impossível) e muitas outras, mas de que já não tenho a certeza... Mas agora há outras que podia referir: azul, manhã...
Se fosse de outras línguas, diria talvez: (al)shamsu - sol, em árabe. mais pela grafia (ﺸﻤﺲ), ou indeed - efectivamente, em inglês, nzoji - sonho, em kimbundo, ostranenie - estranhamento em russo... De certeza que haverá outras interessantes, muito bonitas de todos os pontos de... realização.
Saiu recentemente um livro chamado A minha palavra favorita. Reúne vários escritores ou quase em torno de diversas palavras. Mais informações, um excerto e um debate sobre o assunto em:
http://www.centroatl.pt/titulos/solucoes/imagens/excerto-livro-ca-palavra.pdf
http://aminhapalavrafavorita.com/

Mas também há as outras, as que nos causam repulsa só de as formularmos. No seminário todos estivemos de acordo em relação a carrasco, escarro...

quarta-feira, janeiro 09, 2008

apaixonado...

A música de Rodrigo Leão instalou-se na minha alma de forma total e amacia o coração. Não tenho os cds todos (só tenho Ave Mundi Luminar (1993), Alma Mater (2000) e Cinema (2004)), embora já tenha umas músicas de O Mundo (2006), gentilmente oferecidas por outrem. Eu já gostava há muito tempo de músicas como Passion, Rosa, Deep Blue, Casa, A Tragédia ou outras, mas agora há uma que não em sai da cabeça e da boca: Voltar. É belíssima. Comprei ontem o álbum Cinema (finalmente), segue-se Portugal, um retrato social, que me parece extraordinário.
pode ver-se em:

e ouvir-se em:
http://www.rodrigoleao.pt/

e ler-se aqui:
Manhã cinzenta
Faz-me chorar
A chuva lembra
O teu olhar
As folhas mortas
Caem no chão
A dor aperta
O coração
Quanto eu não daria
Para poder voltar atrás
Volta p’ro meu peito
Daqui não saias mais
Perdi-me amor
P’ra te encontrar
Na solidão
Do teu olhar
No teu olhar
Se perde o meu
Também no mar
Se perde o céu
Quanto eu não daria
Para poder voltar atrás
Volta pro meu peito
Daqui não saias mais

terça-feira, janeiro 08, 2008

Mundos em diálogo

«A sua proposta foi considerada com grande interesse e foi seleccionada para integrar um dos painéis de sessões paralelas do Colóquio Mundos em Diálogo.» e-mail da comissão

a sério? fiquei para a minha vida... e agora tenho mesmo de preparar a conferência em torno disto... deste meu resumo:

Os direitos e as leis em dois romances africanos de língua portuguesa:
Os Dois Irmãos de Germano Almeida e Quantas Madrugadas Tem a Noite de Ondjaki

Pretende-se explorar as relações de representação do Direito, numa perspectiva de índole comparatista e dos legal studies, na medida em que ambos os romances colocam questões éticas, morais e de ordem prática de uma forma problematizadora, porque mais importante do que dar respostas é a formular questões importantes que se pode chegar a uma prática por parte dos estudiosos do Direito. Em Os Dois Irmãos (Cabo Verde), de um escritor que é também um advogado, reflecte, a partir de um caso verídico da sua prática profissional, sobre a tensão entre o direito positivo e o direito consuetudinário, decorrente de práticas relacionadas com heranças coloniais e permanência de costumes e valores, que colocam a personagem principal num conflito que o parece transcender, bem como as dificuldades da prática do direito em determinadas comunidades por desadequação, desrespeito, falta de credibilidade, também presentes em Quantas Madrugadas Tem a Noite, de Ondjaki (Angola). Estes dois romances problematizam, recorrendo ao humor e à ironia, a existência de leis de estado adoptadas do colonizador sem haver uma adaptação, que se pretende discutida e cuidada, à realidade em que se inserem. Assim, e não deixando de ter inegáveis qualidades artístico-literárias que os colocam como marcos importantes no contexto de cada uma das literaturas nacionais correspondentes, estes romances podem e devem ser lidos também como reflexão mais ou menos sistematizada sobre o papel do Direito através da ficção literária.
mais info:

domingo, janeiro 06, 2008

Luíz Pacheco - 1925-2008

Luíz Pacheco: escritor, editor, polemista, epistológrafo e crítico de literatura. Dedicou-se à crítica literária e cultural, tornando-se famoso (e temido) pelas suas críticas sarcásticas, irreverentes e polémicas. Denunciou a desonestidade intelectual e a censura imposta pelo regime de Salazar. A sua obra literária tem um forte pendor autobiográfico e libertino, inserindo-se naquilo a que ele próprio chamou de corrente "neo-abjeccionista". Nunca li nada dele, excepto uns fragmentos no livro Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, organizada por Natália Correia, e pelas coisas que se dizem dele parece-me interessante a descobrir... (e neste livro pode ler-se uma nota bibliográfica humorada e descobrir que ele queria falecer no ano 2000...).


mais em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Pacheco


excerto:
«Domingo de manhã fui com a Amada para a praia nos rochedos junto do mar vi pela primeira vez o seu corpo nu feito espuma e onda. Ficamos calados (como quem esta só) escondidos de todos à beira-água (como quem a ama, apetecendo-a como os suicidas), o seu corpo cheirava a maresia (cheiraria?). Numa grande doidice de beijos e carícias leves beijei seus pés de espuma macia... em lírica, diria: pés de sereia; em realística, diria: pés de virgem (feia); em novelística, da antiga, diria: pés de deusa brinca-brincando na areia; em novelística, novíssima: patitas catitas de centopeia..., beijei seus pés; por ali mesmo a comecei a beijar. Caprichos de libertino: o corpo da Amada ficou lá nos rochedos à beira-água onda infatigável desfeito liquefeito brisa de maresia pairando no bafo quente do ar e eu guardo no meu quarto na minha colecção mais um sexo de donzela conservado em álcool e memória, numa mistura fácil de três por dois, tintos.»
Luiz Pacheco, excerto de “Os Namorados”, in: Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, p.432-3

quarta-feira, janeiro 02, 2008

2008: desejos e compromissos

1. fazer bem o mestrado (empenhando-me mais)
2. ler mais, ou melhor
3. arranjar emprego (no Porto ou no IC)
4. fazer o interrail
5. saúde e felicidades para os meus familiares e amigos
6. escrever o livro de contos e o romance
7. fazer exercício físico todos os dias
8. publicar alguns artigos de literatura
9. preencher o coração
10. passar mais tempo com os amigos
11. mimar mais o meu físico
12. estar mais atento (a tudo e nada)