domingo, março 15, 2009

Ano Agustina


Parece que escolhi bem o ano para ler, finalmente, os livros de Agustina que estavam nas estantes. Não foi bem escolher, aliás. Era para ter sido já no ano passado, mas passou e não foi. E era para ter sido aquando do Honoris Causa em que tive o provilégio de ser o transportador das suas insígnias. E a presença frequente dela na minha faculdade, e o facto de viver perto da minha residência (nos tempos do Porto), sempre me despertaram para a sua leitura...

No início deste ano, a Denise disse-me que era giro eu escrever um artigo para a «Textos E Pretextos», para o número dedicado à escritora. Pois até era, mas eu só tinha lido A Sibila há muitos anos e não compreendera; Dentes de Rato e não era a minha praia; Aquário e Sagitário e não saberia o que dizer dele. Então, a Flora, muito amavelmente, ofereceu-me O Comum dos Mortais e emprestou-me As Fúrias. E deixei os que tinha em casa por ler. Escolhi ler As Fúrias, por ser mais pequeno (em tempo de trabalho e com prazos...) e adorei. Pensei: que andei a fazer para adiar a leitura de Agustina? Escrevi o artigo, veremos se é publicado.

Entretanto já li Fanny Owen, que é também muito bom, e ando perdido pelo Vale Abrãao (mas vai lentamente, não é uma boa altura). Seguir-se-ão O Comum dos Mortais e Os Meninos de Ouro. Mas mais poderão fazer parte da minha biblioteca em breve.

Disse que era um bom ano para estas leituras porque este é o Ano Agustina. Assim mesmo, segundo o JL ou IC. A «Ler» já lhe dedicou um número, que a Flora também me ofereceu, e vêm aí exposições, um filme de João Botelho, a reedição da obra e disponibilização para leitura no IC, conferências, colóquios, ciclos de cinema... Uma excelente oportunidade para conhecer a obra de um dos melhores escritores portugueses vivos.

excerto do artigo - «As Fúrias em "sede absurda de ruína"»

«Fica antes uma sugestão de suspensão, de ruína não totalmente concretizada, como se fosse possível um ressurgimento de que é símbolo a «energia» acima referida, ou ainda a salamandra negra referida no final do romance, a salamandra cuja vida se coloca em hipótese, mas «sem ética possível e sem transcendência» (Bessa-Luís, 1977, 179). No entanto, a configuração que se apresenta não pode deixar de se considerar como disfórica e sem solução, uma vez que o espaço, agora transformado em lugar, segundo a distinção estabelecida por Michel de Certeau, não parece deixar lugar a uma nova transformação. Mas isso não se afirma como certo, pois há na sua obra, e nesta também, uma vacilação das certezas, um romper do esperado, e tudo é possível, como a contradição – um dos pactos que o leitor de estabelecer de início com a obra de Agustina, a fim de a pretender conhecer um pouco melhor, como afirma, exemplarmente, Lídia Jorge: «o contraditório é o chão do pensamento. Quem não entender essa raiz profunda terá dificuldade em compreender a obra que produziu» (Jorge, 2009, 53). Mesmo da destruição pode nascer a criação – ainda que ficcional e de papel.»

8 comentários:

p. disse...

eh pá eu devia ter vergonha na cara... há tanto tempo que não leio um livro... do 'corazón tan blanco' que ando a ler ha cinquenta mil anos, ainda me faltam 50 páginas. é que tenho andado preguiçosa e mais dedicada a experiências culinárias.
olha, olha... sabes que fui fazer de intérprete português-espanhol nas conferências de imprensa do jogo Porto-Atlético de Madrid? :)
beijinhos!

tulisses disse...

oh, que fantástico! Bom, é futebol, mas ainda assim... Quem sabe se não será um futuro interessante ;)
Eu não tenho feito nada, além de trabalho - leio em todos os momentos que posso, mas são raros, ultimamente. e quando vou ler à noite não passo de duas ou três páginas... Ah, não sei se já tinha dito, mas odeio corrigir testes, sobretudo quando são sobre Camões e as notas variam entre o 5 e o 19... eu mereço, realmente...

bjs

p. disse...

sim, é futebol e apesar de não ser nada futeboleira a verdade é que foi uma experiência engraçada. e estar lá, ver o jogo das cabines até foi emocionante (sim, até berrava e tudo quando falhavam um golo!). pois, pode eventualmente ser uma coisa interessante. vamos lá ver quem vai calhar amanhã ao Porto no sorteio dos quartos de final; se for o Barcelona ou o Villarreal pode ser que me chamem outra vez :)
hihihi! imagino! eu acho que detestaria corrigir testes do que quer que fosse...

beijinhos!

tulisses disse...

não estás a ver o meu drama... eu costumo entregar dois ou três dias depois, excepto o décimo, que exige mais tempo... desta vez entreguei logo o décimo (com tanta asneira e uma ou outra pergunta em branco, era fácil corrigir), e os do básico dizem que eu devo andar mesmo mal para já se terem passado dez-quinze dias e eu nºao entregar nada... mas amanhã já há testes para entregar, mas ainda me faltam três turmas... isto nunca mais acaba...

tulisses disse...

eheh, era bem giro se te chamassem - era isto que eu is escrever, mas os testes deixam-me assim, totinho...

bjs

Menphis disse...

Por acaso, andava à procura de um conselho para começar a ler Agustina...Fanny Owen é a melhor opção ?

tulisses disse...

Hum, não tenho bem a certeza, Memphis. Eu claramente comecei muito cedo e logo por A Sibila - que é tida como a obra-prima, e que acho que vale a pena ler (reler, no meu caso, agora a sério). Eu gostei muito de As Fúrias, e Fanny Owen é muito bom, também. Vale Abrãao é muito interessante. Parecem é ser todos desestruturados, como se não houvesse um fio de ligação entre as coisas (coisas, porque nem sei como chamar aos fios narrativos) - não há propriamente uma história ou acção, é tudo mais orientado pela psicologia das personagens ou uma espécie de tese que se quer demonstrar... Fanny Owen é talvez mais directo, e mais pequeno que os outros (excepto As Fúrias), talvez seja uma boa escolha... Depois diz o que achaste!

Menphis disse...

Toda a gente me diz o mesmo..." A sibila" irá ser o escolhido. No Verão quero começar a ler Agustina.