Canção entregue ao nada
Hoje venho oferecer esta tristeza às coisas
No gesto esquivo de não as desejar.
Pôs na minha alma como o sol nas frias lousas
A vida o gosto de esplandecer em recusar.
São-me alheias estas margens onde corre
O destino que aos dados aos deuses eu lancei.
O que me dói é ver que tudo morre
Noutras mãos em gestos que tracei.
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Cantos de Safo para Átis
V
Lentos meus gestos desenham o seu rosto
Rasgando a escuridão da sua ausência.
E o meu cantar enleia-se no gosto
De a cantar em distância e em transparência.
***
Venho simplesmente dizer
que uma laranja é uma laranja
e comove saber que não é ave
se o fosse não seriam ambas
uma só coisa volátil e doce
de que a ave é o impulso de partir
e a laranja o instinto de ficar.
Não sei de nada mais eterno
do que haver sempre uma só coisa
e ela ser muitas e diferentes
e cada coisa ternamente ocupar
só o espaço que pode rodeada
pelo espaço que a pode rodear.
Sei que depois de laranja
a laranja poderá ser até
mesmo laranja se necessária
mas cada vez que o for
sê-lo-á rigorosamente
como se de laranja fosse
a exacta fome inadiável.
De ser laranja gomo a gomo
o íntimo pomo como se enternece
e não cabe em si de amor
embriagada de saber
que a sua morte nos será doce.
Apesar de ter gostado de outros, estes são os mais interessantes para mim. e depois, não sobram assim tantos como isso. não gostei da necessidade estranha e permanente da rima e das imagens estrambóticas... mas quem sou eu...
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