segunda-feira, abril 28, 2008

Sugestões de Abril

Desta vez é diferente: tentei reduzir os argumentos, em grupos que se reenviam para textos anteriores onde os referi, ou não, porque este mês abusei. Bem, não sei se pode dizer que ler muito e tal é um abuso, mas enfim… E este mês mais cedo, não sei se poderei depois fazer um post desta envergadura daqui a uns dias...


Livros:

1 – A Bíblia (Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Amós, Abdias), Paulus ***

argumentos: continua a saga, com mais ou menos sacrifício ou prazer. Daniel e a cova dos leões, ou frases brutais como: «Gostavas de receber a paga de prostituta em qualquer eira de trigo.» (Os 9, 1) ou a hilariante frase «O espírito arrebatou-me e levou-me para a porta oriental do Templo de Javé, isto é, a porta que dá para Oriente.» (Ez, 11, 1). Mais do mesmo, um pouco repetitiva a ideia…


2 – Doze Casamentos Felizes, Camilo Castelo Branco, Parceria ***

argumentos: não me entusiasma o escritor, mas lá li por sugestão da Prof.ª Annabela Rita, num curso queirosiano. São doze histórias sobre casamentos, ou o antes deles, na maioria. E felizes, pois claro. Mais: «As mulheres, se não tivessem estas adoráveis esquisitices, pouco mais valeriam que os homens», p.88. E com passagens engraçadas: «havia uma Ximena, da qual ele contava uma tragédia mais horrível que o nome»p.58, lê-se bem e pode servir de companhia numa viagem.


3 – O Prazer da Leitura, A. A. V. V., Teorema/FNAC****

argumentos: livro que celebra o dia do livro. Dez contos por €4.00. Não gostei de todos, mas em lá, dos que gostei, João Aguiar, Lídia Jorge, Nuno Júdice, Manuel Jorge Marmelo, Filipa Melo, Francisco José Viegas, Rui Zink, e ainda Maria Teresa Horta, Luísa Costa Gomes e Mário Cláudio. Alguns dos contos falam da relação das pessoas com a leitura, com os livros, com as palavras. Mais: «Um escritor deve sempre acreditar que o seu romance irá salvar o mundo. Senão para que escreve ele? Se um livro não é feito para salvar o mundo, então mais vale, se calhar, nem o começar a escrever. O mundo já está tão cheio de maus romances… E até de bons romances. O mundo não precisa de mais livros.»p.214 (Rui Zink).


4 – A Voz Fagueira de Oan Timor, Fernando Sylvan, Colibri ****
5 – A Casa, a Escuridão, José Luís Peixoto, Temas e Debates****
6 – Túmulo de Heróis Antigos, Paulo Teixeira, Caminho ***
7 – Panfleto (Poético), António Cardoso, Plátano ***
8 – Economia Política, Poético, António Cardoso, Plátano ***
9 – O Gosto Solitário do Orvalho, Bashô, Assírio & Alvim ****

argumentos: muita poesia este mês – livros pequenos, claro está. Não comento um a um, mas destaco o do Peixoto e o do Fernando Sylvan. Poemas de todos eles nos links dos títulos. Ficam aqui alguns do Bashô, que li enquanto a Denise lia a Teresa Veiga:

separados pelas nuvens
dois patos selvagens
dizem-se adeus

*

admirável aquele
cuja vida é um continuo
relâmpago


10 – Eu Vim Para Ver a Terra, Maria Ondina (Braga), Agência-Geral do Ultramar *****

argumentos: o livro sobre o qual falarei no colóquio sobre Macau, se for seleccionado. Livro de crónicas, ao estilo colonial mas sem preconceitos ou ideologias imperialistas. Muito bonitas as crónicas sobre Angola, dorida a crónica sobre Goa, muito interessantes as referentes a Macau, cinzentas e tristes, em profundo contraste com as de Angola. Uma escritora que me parece irá fazer parte das minhas leituras futuras. Mais: «De avião as viagens têm sempre aquele carácter atraiçoada de pressa que é a chaga aberta do nosso século. Chegar depressa é com certeza envelhecer cedo, é, de qualquer modo, não ter tempo para ver, em para desejar, nem para sonhar. É estragar o prazer fascinante da viagem, seja ela a viagem de Luanda a Nova Lisboa ou, simplesmente, a viagem da vida.» p.46.

11 – Doutoramento Honoris Causa de Agustina Bessa-Luís e Eugénio de Andrade, FLUP****

argumentos: pronto, só porque eu apareço lá, numa foto, ao lado da Agustina e do então Reitor. Mas tem textos muito interessantes, dos novos Doutores, mas também das elogiadoras: Fátima Marinho descreve a obra em geral de Agustina, Maria João Reynaud fala de alguns lugares de Eugénio.


12 – As Intermitências da Morte, José Saramago, Círculo de Leitores*****
13 – Deste Mundo e do Outro, José Saramago, Caminho****
14 – Manual de Pintura e Caligrafia, José Saramago, Caminho *?*

argumentos: A Consistência dos Sonhos, a exposição do Saramago onde eu sou guia (às terças e sextas, às duas horas), obrigou-me a uma séria preparação. E a preparação passa também pela leitura de outras obras do autor – uma excelente oportunidade e desculpa para os livros dele que estavam cá em casa passassem à frente de outros… O primeiro, que li em dois dias, conta a história de um país onde não se pode morrer, de repente, e depois a história da própria morte apaixonada por um músico que de alguma forma conseguiu escapar ao momento da sua morte já fixado… Muito bom, com reflexões sobre o próprio romance e conversas com o leitor - um dos meus favoritos. Mais: «falar consigo é o mesmo que ter caído num labirinto sem portas, Ora aí está uma excelente definição da vida»p.205. Não resisto a citar ainda: «Os provérbios estão constantemente a enganar-nos, concluiu o cão»p.212.
Deste Mundo e do Outro, um conjunto de crónicas dos anos sessenta, tem textos belíssimos, outros nem tanto, mas ainda assim parece-me que muito do que ali se fala será mais tarde o húmus da sua escrita: as estátuas e os olhos, a morte, as injustiças, os sonhos e as estrelas… Mais: «A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de viver»p.40
Manual de Pintura e Caligrafia - ainda estou a ler, mas não estou a gostar tanto como dos outros... mas pode melhorar ainda. Ou não.



TV:
Prison Break** + Joan of Arcadia**** – RTP 1
A Guerra**** – Dois:

Prison Break (terceira temporada) acabou agora, mas parece que continua. Por mim, já tinha acabado na segunda. Não gostei desta, não me prendeu como as outras duas, que chegava a discutir com a Sandra e a Rita. Já A Missão de Joan era a minha série de sábado à tarde. E de repente desapareceu, para dar às tantas da noite durante a semana – episódios que não deram de tarde, parece-me. É uma série sem grande pretensiosismo, mas é gira por isso, pelos adolescentes e seus problemas e pela figura de Deus que aparece nas mais variadas figuras – e vai ensinando, fazendo reflectir.

Nas noites da Dois: passou a série A Guerra, que já tinha passado na RTP 1. Mais uma vez não vi na totalidade – mas vai sair em dvd com um jornal, não sei é qual. É uma excelente série documental sobre a guerra colonial – de libertação – do ultramar, de acordo com as várias perspectivas. E aparece lá o poeta que estudo na minha dissertação, Arlindo Barbeitos.


Música:

Mariah Carey: E=MC2***** o novo álbum da diva do r&b. Melhor que o anterior, parece-me, o multi-platinado e multi-premiado The Emancipation of Mimi, embora não tenho temas tão fortes como «We belong together», «It's like that» ou «Fly Like a Bird». Mas «Touch my body» já rendeu o 18.º n.º1 da Billboard (ultrapassando Elvis Presley), e «Bye Bye», o novo single, entrou para o n.º23 esta semana. E o álbum entrou directamente para o n.º 1. Sucesso garantido num disco que repete a fórmula vencedora do anterior, mas globalmente mais conseguido, com ritmos dançáveis, algumas baladas r&b, pop e soul. Destaco, das 14 canções: «I Stay in Love», «Side Effects», «I’ll be lovin’U long time», «Thanx 4 Nothnig», «For the Record», «Bye Bye», «I wish you well» (algumas estão no youtube, videos não oficiais ou actuações ao vivo). Mais topos nos tops e prémios parece-me que vêm a caminho. E gosto, porque parece que ao ouvi-la me mantenho mais jovem...


Cinema:

Sem grandes comentários, os filmes que vi este mês e que recomendo:
Melhor do que sexo**** - muito íntimo, quem o ver e souber da minha experiência actual percebe porque gosto deste filme. De Jonathan Teplitzky, com Susie Porter e David Wenham.
Astérix e Obélix nos Jogos Olímpicos**** - para rir é do melhor. Talvez não tão bom como o da Missão Cleópatra, mas ainda assim. O Brutos é que fica muito mal retratado, coitado.
Manderlay**** - a continuação de Dogville. De Lars von Trier, mas sem a Nicole Kidman. Mais uma vez para pensar porque é desconcertante e extraordinário.
Klimt*** - confesso que adormeci, estava cansado e deu muito tarde. Mas fui um dos filmes da RTP 1 de domingo à noite, que agora são dedicadas ao cinema europeu. Com John Malcovich.


Exposições:

A Consistência dos Sonhos*****

argumentos: a exposição da Fundação César Manrique sobre a vida e a obra de José Saramago, agora no Palácio da Ajuda, na Galeria de Pintura de Luís. Uma exposição com muitas pinturas (Graça Morais, David de Almeida, José Santa-Bárbara), fotografias (Carlos Relvas) documentos, jornais, epistolografia, manuscritos, edições portuguesas e estrangeiras, projecções com recurso a inteligência artificial (Charles Sandison), sistemas audiovisuais, objectos pessoais do autor e até a reconstituição do seu espaço de escrita, com a mesa e a máquina de escrever originais. É uma exposição para se demorar algum tempo - as visitas guiadas limitam-se a 45 minutos. Espero que a vejam, porque vale a pena! Ficam aqui os horários e acessos (mesmo se não for comigo, vale a pena, os meus colegas são extraordinários - alguns).

5 comentários:

Denise disse...

Que inveja, TUlinho! Quem me dera conseguir ler tanto em tão pouco tempo!
Um beijinho

tulisses disse...

pois imagino que sim, mas para quem não tem nada para fazer até parece pouco... acrescente-se que li também o número 50 da colecção Uma Aventura - sim, continuo a ler a colecção da minha infância que me despertou para o mundo das letras e das histórias... de modo diferente, mas ainda assim.
bj

Milai disse...

Tanta coisa. Ao ler com atenção, surgiam-me comentários que se perderam na miséria da minha memória. Saramago tentei ler. As intermitências da morte.Mas ou o lugar não era apropiado ou eu realmente perdi alguns gostos literários no meio do turbilhão da minha vida: não aguentei ler até ao fim. Achei demasiado político, talvez não houvesse outra maneira de encarar a imortalidade. Penso que uma visão mais pessoal e intimista seria mais interessante do que a visão de uma sociedade. Mas lá está, foi só no início. Filmes, realmente não os tenho visto... Penso que o último que vi foi Ponto de Mira e gostei. Já tenho mais algumas sugestões.

Milai disse...

Ah. sim. o melhor já ia sendo olvidado. As séries são o meu conforto. Sugiro Dexter, Scrubs e por incrivel que pareça Friends. Realmente Prison Break foi ficando cada vez menos desejável. Era díficil manter o mesmo suspense ou maior do que a primeira season. Porém,foi um descréscimo acentuado.Bj

tulisses disse...

olá milai. Do Dexter também gostei (falei dele nas sugestões de março). E Friends é muito fixe - mas já vi duas vezes todas as temporadas, mas às vezes lá vejo um ou outro episódio. Chandler e Phebe (não sei se é assim, mas percebe-se) ao poder. Mas são todos fantásticos. Quanto aos filmes, há para todos os gostos. Deves gostar do Manderlay, se gostaste do Dogville. Ainda não vi esse, nem sei quando verei - mas a Sandra também gostou e recomendou. o livro do Saramago: gostei mesmo muito, da parte social-política também, mas sobretudo quando o foco se centra na morte enquanto personagem obcecada pelo músico que lhe escapou... mas os gostos são assim, voláteis...