sábado, julho 19, 2008

palavras africanas

Texto que escrevi ao Luandino, no caderninho do nosso encontro...

À «hora das quatro horas» é que sabe bem a dor [que] purifica a beleza». A dor da descoberta difícil do prazer de ler, do «ser e não ser, ao mesmo tempo», das palavras que são «um búzio ressoando nos [m]eus ouvidos»…
«Para poder pôr» as palavras, «primeiro pergunta-se saber» que marca deixou Luandino em mim?
Primeiro: o nome que me acompanha sempre na boca de alguns amigos, por causa do «Pedro Caliota» (uma das minhas estórias favoritas) todos me chamam «Mau-Miau» («o gato não miava, era só gordachucho, se chamava é o Mau-Miau.»).
Segundo: a beleza das coisas vistas de forma desigual, «tal igual» a ninguém.
Minhas palavras. Se dão bonitas, se são feias, os que sabem ler é que dizem. Mas juro que é assim e não admito ninguém que duvide.

(recuperando estruturas e expressões de: João Vêncio, Luuanda, Macandumba )– 06/06/05


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Um beijinho de parabéns à Ana Luísa, com as palavras africanas de que tanto gostamos:

«Ali defronte, abriam-se aos olhos de Ruca as vagas que rebentavam lá em baixo. "Sim, vão matar." Que mistério era aquela grandeza de espuma branca, eriçando o mar?
- Vocês não gostavam de ser onda?
- Deve ser bom. Assim por cima da água nem é preciso saber nadar. Quem me dera ser onda! - E Beto abria os braços.
- Mas Ruca - considerou Zeca -, não se pode ser onda. Ainda se uma pessoa fosse entrava com essa força do mar onde a gente queria. Onda ninguém amarra com corda.»

Manuel Rui, Quem me dera ser onda, 6.ª edição de Lisboa, Edições Cotovia, 2001, p.60

2 comentários:

analuisacorreia disse...

Obrigada por te lembrares :P

tulisses disse...

claro que me ia lembrar, não me iria esquecer! as pessoas importantes não se esquecem, e eu tenho uma memória de animal mais pequeno do que elefante mas as agendas ajudam ;)